Atualmente, metade dos pacientes com linfoma não Hodgkin e com leucemia linfoblástica aguda – dois tipos de câncer que afetam células do sangue – não responde adequadamente ao tratamento com células CAR-T. Essa terapia consiste em coletar células de defesa da própria pessoa a ser tratada (linfócitos T), modificá-las em laboratório para que se tornem capazes de destruir as células tumorais e reinjetá-las no organismo. Esses casos refratários normalmente recidivam após a imunoterapia convencional (leia mais em: agencia.FAPESP.br/31656 e agencia.FAPESP.br/41521).
Para contornar o problema, pesquisadores brasileiros desenvolveram uma versão mais potente das células CAR-T. Os detalhes da pesquisa foram divulgados na revista Cancer Research.
“A imunoterapia com células CAR-T é revolucionária e tem salvado a vida de muitas pessoas nos últimos anos. No entanto, ainda há uma parcela significativa de pacientes que não responde a esse tratamento. Testamos uma série de drogas nas células CAR-T e uma delas revelou-se promissora ao inibir alterações epigenéticas [relacionadas com o padrão de expressão dos genes] que tornavam as células pouco eficientes contra esses dois tipos de tumor hematológico”, conta Maria Letícia Rodrigues Carvalho, primeira autora do estudo realizado no A.C. Camargo Cancer Center com apoio de Bolsa de Mestrado da FAPESP, hoje no doutorado.
Como explicam os autores, o linfoma não Hodgkin acomete majoritariamente adultos de meia-idade, enquanto os pacientes de leucemia linfoblástica são, em sua maioria, crianças.
Os estudos foram realizados em células tumorais (in vitro) e em camundongos (in vivo) e representam o primeiro passo para que, no futuro, possa haver ensaios em humanos.
Entre as drogas testadas nas células CAR-T, a que mostrou maior potencial foi um inibidor do complexo de proteínas conhecido pela sigla PRC2. No organismo saudável, essas proteínas são necessárias para induzir a expressão dos genes que freiam a ação das células de defesa, para que estas não ataquem as células saudáveis.
“No entanto, no contexto do câncer, é importante que não haja freios como estes, a fim de que ocorra a eliminação completa do tumor. Embora a base da imunoterapia com células CAR-T seja justamente retirar esses freios, alguns ainda permanecem. O que fizemos foi remover aqueles que impedem uma melhor resposta contra o linfoma não Hodgkin e contra a leucemia linfoblástica aguda”, explica Tiago da Silva Medina, pesquisador do A.C. Camargo Cancer Center apoiado pela FAPESP e coordenador do estudo.
Agência Fapesp