Notícia

Jornal do Brasil

Leitura: Painel da sociedade em forma de revista (1 notícias)

Publicado em 06 de julho de 2002

Por Isabel Travancas - Jornalista e autora de o Livro no Jornal
Responder à pergunta de Caetano Veloso - "Quem lê tanta notícia?" - em Alegria, Alegria foi um dos principais objetivos da tese de doutorado em Ciências Sociais na Unicamp da pesquisadora e professora Maria Celeste Mira. A autora abre o amplo leque do mercado de revistas, levantando os temas que a elas se associaram e que ajudam a traçar um painel da sociedade brasileira. Na primeira parte, Maria Celeste discute o novo lugar da mulher no século 20 em revistas como Cláudia, por exemplo. As questões nacionais e a busca de um jornalismo investigativo em um período "delicado" são assuntos debatidos a partir da publicação da revista Realidade. A própria transformação do país em um grande mercado automobilístico, com investimentos de vulto no setor e a expansão do turismo, está estreitamente relacionada com, o nascimento e o sucesso da revista Quatro Rodas. Em um segundo momento, Maria Celeste discute as mudanças de costumes e de mentalidade que vão influenciar profundamente as publicações já existentes e as que serão criadas. As questões de gênero são pontos-chaves para a compreensão da entrada no país de revistas importadas, como Play-boy e Cosmopolitan (No Brasil, Nova), publicadas em português a partir da década de70. As duas obtém grande sucesso de vendas, apesar dos problemas com a censura, e apontam para as modificações da família brasileira naquele momento. O sexo continua sendo um elemento definidor de preferências, idéias e hábitos dos leitores na sociedade. A autora não deixa de lado a questão das revistas como um produto da indústria cultural. A seu ver, o consumo pode ser um elemento importante de compreensão da construção da identidade dos diversos segmentos do mercado. O Brasil dos anos 80 e 90 tem diversificados leitores. O público jovem é um dos grandes filões atendido com revistas como Pop e Bizz, que falam de música, comportamento e entretenimento. Dentro deste segmento, surge outro tema de grande relevância: o corpo, que já aparecia nas revistas femininas e masculinas das décadas anteriores, mas que aparecerá agora como possibilidade de constituição de uma identidade diferenciada e de recuperação da auto-estima. É o caso das publicações Saúde e Boa Forma. A antropóloga traz para a cena revistas "de ver", como Contigo e Caras. O lado voyeur do leitor está presente nestas publicações que transformam a vida de famosos em objeto de consumo e em ficção folhetinesca. O leitor e a banca de revistas, que chegou sem muito destaque ao mercado editorial, é uma obra fundamental para quem quer entender a cultura de massa no Brasil. O LEITOR E A BANCA DE REVISTAS Maria Celeste Mira Olho d'Água / Fapesp 228 paginas R$ 20