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Tribuna União

Leite é considerado seguro para consumo, mas micotoxinas em rações de vacas acendem alerta sanitário (68 notícias)

Publicado em 26 de maio de 2025

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificou a presença de micotoxinas — substâncias tóxicas produzidas por fungos — em todas as amostras de ração e em parte das amostras de leite coletadas em 100 propriedades leiteiras da região Sudeste do Brasil. Embora os níveis detectados no leite estejam dentro dos limites permitidos pela legislação brasileira e não representem risco à saúde humana, os pesquisadores alertam para os potenciais prejuízos à saúde dos animais e à produção leiteira.

A pesquisa foi realizada por meio de uma parceria entre a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, e a Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA), em Pirassununga. O objetivo foi analisar a ocorrência de múltiplas micotoxinas — como aflatoxinas B1, B2, G1 e G2, fumonisinas, ocratoxinas, desoxinivalenol, toxinas HT-2 e T-2 e zearalenona — tanto na dieta fornecida às vacas quanto no leite extraído.

Nas 100 amostras de dieta analisadas, todas apresentaram ao menos uma micotoxina. As fumonisinas foram detectadas em 100% das amostras, e em 86% houve a presença simultânea de duas a quatro micotoxinas diferentes. As aflatoxinas, por sua vez, apareceram em apenas uma amostra de ração.

No leite, a pesquisa identificou que a aflatoxina M1 esteve presente em 14% das amostras, enquanto as fumonisinas e zearalenonas foram detectadas em cerca de metade delas. O desoxinivalenol foi encontrado em 42%. Ocratoxinas e DOM-1, no entanto, não foram detectadas.

Segundo o professor Carlos Humberto Corassin, coordenador do estudo, embora os níveis não ultrapassem os limites legais, os efeitos combinados dessas toxinas — chamadas de efeitos aditivos ou sinérgicos — ainda são pouco compreendidos e merecem atenção, especialmente por sua ação crônica sobre os animais. Ele alerta que, mesmo em concentrações baixas, essas toxinas podem comprometer os sistemas imunológico, reprodutivo, digestivo e neurológico dos bovinos, além de afetar diretamente a produtividade.

A zearalenona, por exemplo, tem impacto na fertilidade e na produção de leite, enquanto o desoxinivalenol pode provocar recusa alimentar, diarreia e maior vulnerabilidade a infecções. As fumonisinas prejudicam a função renal e hepática e podem causar lesões de pele e casco. Já as aflatoxinas são conhecidas pelos efeitos cancerígenos e imunossupressores.

Apesar da ausência de riscos diretos ao consumidor, os especialistas recomendam o monitoramento contínuo das rações e a adoção de aditivos antimicotoxinas para minimizar os danos à saúde dos animais e os impactos econômicos à cadeia leiteira. O trabalho, financiado pela FAPESP, CNPq e Capes, integra a tese de doutorado de Aline Moreira Borowsky, sob orientação de Corassin, e reforça a importância da vigilância sanitária na produção agropecuária.