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‘Legado para a ciência brasileira’: Vacinas da UFMG são finalistas de prêmio internacional (64 notícias)

Publicado em 10 de agosto de 2023

Por Sofia Leão

Duas vacinas desenvolvidas pela UFMG estão entre as vencedoras da primeira etapa do Prêmio Euro Inovação na Saúde. Agora, a Calixcoca, contra a dependência de cocaína e crack, e a SpiN-TEC, primeira vacina 100% brasileira contra a Covid-19, podem vencer a categoria “Destaque”, que concederá um prêmio de 500 mil euros.

Para o professor Helton Santiago, coordenador dos testes clínicos da SpiN-TEC, o avanço na premiação simboliza um reconhecimento para toda a equipe do CTVacinas. O prêmio final, se conquistado, será usado para impulsionar o desenvolvimento de outras vacinas na UFMG, contra a malária e a leishmaniose, por exemplo.

“Estamos trabalhando para que a SpiN-TEC chegue ao SUS [Serviço Único de Saúde], mas o maior legado não é que ela seja mais uma vacina contra a Covid-19. É um legado para a ciência brasileira, abrindo um caminho que outras vacinas possam trilhar. É a primeira vacina brasileira que passa por todo esse percurso, do concepção aos testes clínicos”, diz o professor ao BHAZ.

A vacina contra a Covid-19 foi uma das selecionadas na categoria “Inovação em terapias”. Já a Calixcoca foi uma das vencedoras na categoria “Inovação tecnológica aplicada à saúde”. Na etapa final, médicos e médicas registrados em conselhos de medicina no Brasil podem votar em uma das vacinas aqui, até 3 de setembro.

Vacina contra Covid-19

Os cientistas que desenvolvem a SpiN-TEC na UFMG estão acompanhando as pessoas que participaram da primeira fase dos testes clínicos, e agora estão realizando uma análise para selecionar a dose que será aplicada na segunda fase.

Em junho, Helton Santiago apresentou os resultados parciais dos testes, que apontaram que o imunizante é seguro. “O outro parâmetro analisado foi a resposta imunológica, cujo resultado ainda é muito preliminar. Mas é possível perceber que a vacina induz uma resposta imunológica na pessoa vacinada”, disse na ocasião.

O professor agora conta que a equipe já encaminhou os dados para análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que pediu duas alterações no protocolo. “Fizemos as alterações, enviamos novamente, e a Anvisa está analisando. Estamos esperando a autorização para avançar para a fase 2”, explica.

Santiago ainda reforça que a conquista na primeira etapa do Prêmio Euro Inovação na Saúde reconhece o esforço do Brasil em trilhar um caminho de avanço na pesquisa científica da América Latina. “Outros países fizeram isso 20, 30 anos atrás. Nós estamos chegando lá, graças à vontade política e ao apoio dos brasileiros. É muito gratificante dar esse retorno para os brasileiros”, diz.

Vacina contra crack e cocaína

A Calixcoca é uma vacina terapêutica para o tratamento da dependência de cocaína e crack que está sendo desenvolvida pela UFMG desde 2015. A fase de testes pré-clínicos já foi concluída, e em julho, o Governo de Minas anunciou um aporte de R$ 10 milhões para a continuidade do desenvolvimento do imunizante.

“As primeiras fases foram fomentadas pela FAPEMIG [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais] e agora, com resultados promissores, a Reitoria da UFMG pediu apoio e nos colocamos à disposição para essa nova fase”, afirmou o secretário Fábio Baccheretti.

Sandra Goulart Almeida, reitora da UFMG, falou sobre a expectativa para os próximos passos da pesquisa. Segundo ela, os testes clínicos da vacina contra a dependência de cocaína e crack devem começar em breve e durar cerca de dois anos.

Hoje, não existe nenhum medicamento registrado no mundo para o tratamento da dependência dessas drogas. Há três grupos ao redor do mundo trabalhando em projetos semelhantes desde o final dos anos 1990, além de também existir pesquisas de vacinas para o tabagismo e para metanfetaminas e opióides.

O secretário ainda informou que, se bem sucedida, a plataforma da Calixcoca também pode ser capaz de criar, no futuro, vacinas para outras drogas sintéticas cujo uso vem aumentando pelo mundo.