A coletânea reúne 12 artigos sobre vida e obra do poeta. Em um dos textos, Ana Karla Canarinos, também professora de literatura da Uerj, interpreta “Meditação” como uma obra precursora do ensaísmo sociológico brasileiro. Segundo a estudiosa, o texto em prosa poética teria antecipado as discussões sobre os efeitos da escravização na formação do país realizadas apenas no século seguinte por intelectuais como Gilberto Freyre e o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982). “Gonçalves Dias defendeu o fim da escravização muito antes de abolicionistas como Joaquim Nabuco [1849-1920]”, afirma Canarinos.
Para os organizadores da coletânea, as esparsas festividades em torno da data – à exceção do Maranhão, que celebrou a efeméride com uma série de eventos – não estão à altura de sua importância para a cultura brasileira. Na opinião de Werkema, um dos motivos desse esquecimento é que o estereótipo de país forjado em poemas como “Canção do exílio” e “I-Juca Pirama” encontra pouca ressonância no século XXI, quando se discutem no campo da literatura pautas como o decolonialismo e a desconstrução da ideia de Estado-nação. “Esse *clichê de brasilidade*, por escamotear o genocídio e apagamentos culturais dos povos originários, pode incomodar os leitores contemporâneos”, afirma. “Mas a tendência de julgar um homem do século XIX com padrões éticos e morais atuais corre igualmente o risco de apagar suas contribuições.”
Segundo Werkema, Gonçalves Dias atuou em várias frentes. além de poeta, foi dramaturgo e pesquisador viajante, por exemplo. “Ele pensava a questão indígena não só de maneira literária, mas também etnográfica [ver Pesquisa FAPESP nº 179]. Realizou diversos estudos e projetos a respeito no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, como o Dicionário da língua tupi, chamada língua geral dos indígenas do Brasil [1858]”, relata Marques. Também integrou a Comissão Científica do Império (1859-60) com geólogos, geógrafos, astrônomos, zoólogos e botânicos, tendo visitado o Ceará e Amazonas. Na oportunidade, chegou a enviar objetos etnográficos para o Rio de Janeiro, incorporados depois ao Museu Nacional.