Notícia

A Tribuna (Santos, SP)

Lágrimas de sereias

Publicado em 01 junho 2008

Quem frequenta com certa assiduidade as praias de Santos já deve ter notado a presença de pequenas bolinhas misturadas à areia. Elas podem ser brancas, meio amareladas ou mesmo coloridas, tendo entre um e cinco milímetros de diâmetro. Se você já viu essas bolinhas, saiba que elas estão espalhadas pelos oceanos do Planeta, não são naturais e recebem vários nomes: pellets, nibs ou, mais poeticamente, ‘lagrimas de sereias’.

O que são? Nada mais, nada menos do que resina sintética, em geral polipropileno ou polietileno. É dessa forma, em pellets (bolinhas ou grânulos, em inglês) que a matéria-prima dos produtos plásticos é fabricada nas indústrias químicas. Separados em mais de 40 diferentes tipos, esses grãos são então transportados pelo mundo inteiro.

Quando chegam às fábricas, eles são colocados em máquinas que darão o formato final desejado, tais como copinhos, garrafas, baldes, mamadeiras, isolantes de fiação, réguas, canetas, bolas, bonecas enfim, milhares de produtos presentes no nosso cotidiano — um processo que cresceu vertiginosamente a partir do final da 2ª Guerra Mundial, quando os polímeros começaram a ser produzidos em larga escala, provocando uma profunda mudança no cotidiano da humanidade.

Santos é escolhida

Hoje, os minúsculos pellets são um problema mundial, com vários estudos publicados, principalmente no Japão, Estados Unidos e Europa.

No Brasil, onde há apenas registros esporádicos, cientistas da Universidade de São Paulo (USP) iniciaram, há quatro meses, o primeiro levantamento sobre a presença dessas substâncias nas areias das praias.

Em Santos, Cidade escolhida como base para o início da pesquisa, as primeiras coletas indicaram a presença de até 20 mil pellets por metro cúbico de areia em determinados trechos da orla. O número pode impressionar, mas, por enquanto, não há como comparar com outras regiões.

“Isso só será possível a partir de 2009. Até lá, nosso trabalho tem como objetivo refinar o método de coleta dos pellets na areia”, afirma Alexander Turra, do Instituto de Oceanográfico da USP (IOUSP), coordenador do estudo.

Soluções

Essa primeira fase do trabalho, que conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), ficará restrita à Baixada Santista. Em seguida, será expandida para todas as praias do Estado, cuja previsão é estar concluída em 2011, desta feita com apoio recém-solicitado ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Só então, avalia Turra, será possível saber a real distribuição deste microlixo em todo o Litoral Paulista, inclusive identificando as áreas mais impactadas.

“A partir daí, nosso objetivo é conversar com todos os agentes envolvidos e buscar soluções. Hoje, em princípio, é praticamente impossível pensar em recolhê-los das praias. O ideal seria identificar as fontes de origem e agir conjuntamente para minimizar a dispersão dos pellets”.