Algumas praias litorâneas ao redor do Mundo podem apresentar pequenas bolinhas misturadas à areia. Elas podem ser brancas, meio amareladas ou mesmo coloridas, tendo entre um e cinco milímetros de diâmetro, não são naturais e recebem vários nomes: pellets, nibs ou mais poeticamente 'lagrimas de sereia'. São nada mais, nada menos do que resina sintética, em geral polipropileno ou polietileno. E dessa forma, em pellets (bolinhas ou grânulos, em inglês) que a matéria-prima dos produtos plásticos é fabricada nas indústrias químicas. Separados em mais de 40 diferentes tipos, esses grãos circulam pelo mundo inteiro. Quando chegam às fábricas, eles são colocados em máquinas que darão o formato final desejado a milhares de produtos plástico-sintéticos, desenvolvidos vertiginosamente a partir do final da 2ª Guerra Mundial, quando os polímeros começaram a ser produzidos em larga escala, provocando uma profunda mudança no cotidiano da humanidade.
Tais pellets são hoje um problema mundial, com vários estudos publicados, principalmente no Japão, Estados Unidos e Europa. No Brasil, onde há apenas registros esporádicos, cientistas da USP (Universidade de São Paulo) iniciaram, há cerca de cinco meses, o primeiro levantamento sobre a presença dessas substâncias em solo brasileiro. A cidade escolhida foi Santos (SP). As primeiras coletas indicaram a presença de até 20 mil pellets por metro cúbico de areia em determinados trechos da orla. “O número pode impressionar", mas, por enquanto, não há como comparar com outras regiões. Essa primeira fase do trabalho, que conta com o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), ficará restrita à Baixada Santista. Em seguida, será expandida para todas as praias do Estado, cuja previsão é estar concluída em 2011, desta feita com apoio recém-solicitado ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Este quadro é altamente preocupante, pois tal aleita foi dado através de um relatório da agência ambiental norte-americana (EPA), que revelou que os pellets já estão presentes nas areias das praias de todos os oceanos, sem exceção e que a contaminação se dá ao longo do processo industrial de peletização, armazenagem, transporte e processamento do material.
Segundo análises feitas, uma perda mínima, irrisória, de 0,001% dessa matéria durante o transporte terrestre e marítimo, pode representar cerca de 10 bilhões de nibs, só na orla santista. Os nibs duram de 1 a mais de 10 anos no mar e essas pelotas, esféricas, ovais ou cilíndricas, podem ser quase que imperceptíveis ao olho humano, mas são facilmente detectadas pelos animais, como tartarugas, peixes e aves, que as confundem com comida, podendo então permanecerem no trato digestivo das aves entre 10 a 15 meses, ocupando espaço, diminuindo a eficiência alimentar e a absorção de nutrientes, causando enfraquecimento e morte dos animais. Pior cenário, é a possibilidade de contaminação de toda a cadeia alimentar, incluindo o homem.