Os laboratórios do Instituto de Química e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, ambos da Unesp-Araraquara, trabalham em experiências com materiais cujos resíduos devem ser corretamente armazenados, para o posterior descarte.
Química
Secundo o professor José Roberto Ernandes, diretor do Instituto de Química da Unesp, existem dois tipos de resíduos que merecem especial cuidado, nos laboratórios do instituto, os solventes orgânicos e os metais pesados. "Por termos, no departamento, um grupo muito grande de pesquisadores, essas pesquisas geram uma quantidade de solventes orgânicos, que são inflamáveis e, por isso, precisam ser devidamente armazenados, para encaminhamento às empresas de incineração".
Projeto
O Instituto de Química chegou a encaminhar um projeto para o Ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, de construção de um laboratório para o armazenamento e a caracterização desse tipo de resíduo, pois as empresas de incineração só aceitam os resíduos se estes estiverem muito bem caracterizados, para que se saiba o nível de periculosidade e os constituintes do resíduo.
"O objetivo desse laboratório era também servir as faculdades de Odontologia e de Farmácia, assim como as empresas da região, mas infelizmente o Fundo Nacional de Meio Ambiente não aceitou o projeto", diz Ernandes.
Construção
O professor explica que já está sendo construído, com recursos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo), um espaço adequado para o armazenamento totalmente seguro dos resíduos. "Mas nós temos tido o cuidado de armazená-los adequadamente em depósitos especiais. Estamos em contato com duas empresas, uma de incineração e outra que armazena esses resíduos em aterro sanitário".
Metal pesado
O professor explica que, além, dos solventes orgânicos, existe outro tipo de resíduo dos laboratórios, o metal pesado, como o mercúrio e o cádmo, além do cianeto, que não é um metal mas é um resíduo muito perigoso. "Esses resíduos oferecem riscos para a natureza, por isso não podem ser descartados de forma muito simples, merecem sempre um cuidado especial, dentro do que manda a legislação em vigor. O problema do metal pesado é que ele é acumulativo, se deposita nos tecidos e não é de fácil eliminação", diz Ernandes.
Farmácia
O professor Paulo Eduardo de Toledo Salgado, diretor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, diz que o principal resíduo gerado pelos laboratórios de Farmácia é o material biológico que, "em sua maior parte, entra dentro do esquema de lixo hospitalar, sendo conduzido periodicamente para a cidade, através de veículos da Prefeitura Municipal."
"O outro tipo de resíduo que temos em nossos laboratórios são os resíduos químicos, mas em uma quantidade muito pequena para ser encaminhada a empresas de incineração, o custo seria muito elevado. O projeto que temos é de juntarmos o nosso resíduo químico com o dos laboratórios de química, que têm uma quantidade bem maior de resíduos desse tipo e já estão bem adiantados na questão do encaminhamento, pois estão construindo um depósito para o armazenamento desses resíduos", diz Salgado.
Estrutura pública
O diretor da Faculdade de Farmácia diz que a questão do encaminhamento de resíduos foi discutida no último conselho diretor. "Na reunião, foi levantada a questão de que o problema dos resíduos deveria ser uma forma de colaboração da própria estrutura pública com relação ao meio ambiente, ou seja, as leis são criadas e o próprio estado deveria dar condições para que elas fossem cumpridas, mas a estrutura estadual não dá as devidas condições para que os resíduos sejam devidamente controlados."
Fapesp
Salgado diz ainda que em 1997 houve um seminário no campus de Bauru, em que foi discutida a questão de que a Fapesp deveria adotar um esquema, dentro do qual, todo projeto científico tivesse uma contrapartida de tratamento de resíduos. "Esse dinheiro tem que vir de alguma fonte, e a universidade não tem dinheiro para isso, o nosso orçamento mal atende as necessidades internas da faculdade, essa é a nossa realidade. Já entramos em contato com empresas de incineração, que nos orientaram quanto ao que deveria ser feito, mas os custos são muito altos. A Fapesp e a própria Secretaria de Meio Ambiente deveriam fornecer os recursos necessários".
Eliminação via esgoto
Os resíduos químicos dos laboratórios de farmácia ainda não estão sendo encaminhados a nenhuma empresa e são eliminados via esgoto, em "quantidades muito pequenas", segundo Salgado. "Enquanto o depósito para armazenamento dos resíduos não fica pronto lá no Instituto de Química, os ácidos vão direto para a pia. Esse depósito servirá apenas para tirar os resíduos do meio ambiente, pois o metal não se desprende assim tão facilmente, na maioria das vezes são sais, então eles são armazenados dentro de galões e tem que existir um local adequado para serem guardados, só para que fiquem fora do laboratório. Os metais ficam ali até que se junte um volume suficiente para que valha a pena mandá-lo embora, para não termos que mandar um galão inteiro embora com um ou dois litros de resíduos", explica Salgado.
Reaproveitamento de resíduos
Os resíduos também podem ser reaproveitados, "dependendo da quantidade e do seu grau de pureza". ''Quando um solvente está contaminado com outros produtos, não dá para usar, então nós procuramos recuperar, com destiladores específicos, que lhe dá um certo grau de pureza. Aí esse solvente pode até ser usado para determinadas finalidades, mas quando não dá mais para reaproveitar, vai direto para a queima. A recuperação acontece somente se vale a pena, ou seja, se o volume for muito pequeno, o gasto de tempo e energia não paga, fica mais barato comprar um frasco novo. Mas os metais não, esses vão para as empresas incineradoras, a recuperação só acontece em empresas que trabalham com volumes enormes".
Quantidade pequena
O professor diz que a quantidade de resíduos químicos produzida pela faculdade é muito pequena, por isso só valerá a pena que ele seja encaminhado em uma parceria com o Instituto de Química, mas apesar dos resíduos dos laboratórios de farmácia serem em quantidade extremamente pequena e extremamente diluídos, uma solução tem que ser encontrada, pois "a universidade não quer colaborar nem um pouco para a contaminação do meio ambiente."
Perigos
Quanto ao perigo de contaminação do meio ambiente pelos resíduos químicos. Salgado diz que depende muito da quantidade em que eles são liberados. "Em situações em que o metal é utilizado como matéria prima, em quantidades significativas, ou quando é um produto acabado, existe perigo. No meio ambiente, o problema é quando os afluentes são contaminados, dependendo também da quantidade liberada. Os nossos laboratórios, quando trabalham com os metais, trabalham com microgramas, miligramas, extremamente diluídas, para se fazer uma solução. Isso, diluído num certo montante de água, não significa praticamente nada. Ainda assim, a nossa postura teria que ser diferente, mesmo que seja ínfima essa contaminação, temos que colaborar e retirá-la, pois existe um todo que produz índices mais significativos."
Salgado conclui dizendo que, como o metal pesado não é usado como matéria prima e nem como produto acabado, na universidade, mas apenas diluído em concentrações insignificantes, "ele não se caracteriza como uma fonte de contaminação e não faz parte de nenhum ciclo, a não ser em determinadas áreas, em que algum metal específico entra como catalisador de um processo contínuo e, mesmo assim, em quantidades muito pequenas".
Notícia
O Imparcial (Presidente Prudente, SP)