Os visitantes que passam diariamente pelos corredores do Instituto de Química (IQ) da USP não imaginam o que pode ser encontrado em alguns de seus laboratórios. E o caso do Laboratório de Espectroscopia Molecular (LEM). que tem se dedicado ao uso da espectroscopia Raman para a obtenção de informações sobre a estrutura molecular de materiais em várias áreas do conhecimento.
"A espectroscopia Raman foi desenvolvida a partir da descoberta do efeito de espalhamento inelástico da luz, feita pelo cientista indiano Chandrasekhara Venkata Raman em 1928. denominado efeito Raman em sua homenagem", explica Paulo Sérgio Santos, pesquisador do LEM e atualmente diretor do Instituto.
"Quando um feixe de luz monocromática atinge um meio material, uma fração muito pequena dessa luz sofre uma mudança na sua freqüência (espalhamento inelástico) e o conjunto dessas freqüências modificadas constitui o que se chama de espectro Raman, que contém informações a respeito da estrutura das moléculas que constituem esse meio material."
Como a quantidade de luz que sofre o efeito Raman é uma fração mínima da luz incidente, é necessário o uso de fontes de luz de muita intensidade e detectores de altíssima sensibilidade. Atualmente, isso é feito por meio do uso de lasers como fontes de luz monocromática e detectores multicanal, o que tem permitido obter informações a respeito da estrutura molecular de materiais tão diversos como proteínas, polímeros sintéticos, semicondutores, nanotubos (estruturas tubulares mais avançados do mundo microscópicas), tecidos biológicos, entre outros.
"Mais recentemente foi possível acoplar ao espectrômetro Raman um microscópio óptico, tornando possível a obtenção de espectros Raman de quantidades muito pequenas de material ou, ainda, conseguir espectros Raman de regiões muito pequenas da superfície de um material, da ordem de 1 micron", afirma Santos. "Essas inovações instrumentais dos últimos anos têm estimulado cada vez mais o desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares no LEM, envolvendo colaboração com diversos outros grupos de pesquisa do País e do exterior, além da prestação eventual de serviços a empresas e instituições públicas".
Recentemente, o LEM teve a oportunidade de colaborar com a policia científica de São Paulo, cuja participação foi solicitada para solucionar um caso ocorrido no Rio Grande do Sul. Uma criança que havia saído de casa estava desaparecida, mas sua bicicleta foi encontrada com sinais de atropelamento. Um veículo suspeito de ter causado o acidente foi localizado e estava com riscos da mesma cor do pedal da bicicleta em sua lataria. O LEM tez espectros Raman de fragmentos da lataria do veiculo e do pedal, conseguindo provar que a tinta empregnada no automóvel tinha como origem o pedal da bicicleta. O proprietário do veiculo confessou o crime.
Há poucos anos, pesquisadores do LEM tiveram a oportunidade de colaborar com o Museu da Universidade Federal de Juiz de Fora. Minas Gerais, no processo de autenticação de um retrato do poeta Murilo Mendes, supostamente pintado
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Agência USP de Notícias