Espumas para bancos ou travesseiros feitas com vitamina C. Isopor produzido com cascas de laranja ou mandioca. Vasos comestíveis feitos de milho e gelatina. Acrílico fabricado com óleo de buriti. Curauá em substituição à fibra de vidro. Casca de maçã e óleo de orégano dando origem a biofilmes. Sacolinhas, filmes, cordas e caixas plásticas confeccionadas com penas de galinhas.
Todos esses produtos já existem. Alguns foram criados no exterior, mas a maioria foi desenvolvida no Brasil, em laboratórios ligados a diversas universidades. Agora, toda essa criatividade ganha um apoio de peso.
A Braskem, a terceira maior companhia industrial privada do País, líder na fabricação de termoplásticos da América Latina, firmou um convênio com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Sem petróleo
Juntas, irão direcionar R$ 50 milhões para pesquisas de plásticos que possam ser produzidos por meio dos rejeitos agrícolas oriundos da cadeia produtiva dos biocombustíveis, tais como as cinzas que sobram do processo de queima da palha da cana-de-açúcar ou a glicerina que sobra do biodiesel - em outras palavras, polímeros sem petróleo.
Além da inestimável ajuda que a verba proporcionará para o desenvolvimento de inúmeros projetos em andamento no País, a parceria demonstra, também, o quanto o mundo dos plásticos irá mudar ao longo das próximas décadas.
Só para se ter uma idéia do potencial desse 'mercado verde', cada carro vendido hoje no mundo tem cerca de 20% do seu peso em forma de matérias plásticas.
Como os biopolímeros são, em média, 10% mais leves que os convencionais, cada quilo de plástico tradicional, substituído por resina de origem vegetal, representa uma economia de até nove litros de combustíveis por ano.
Futuro
É esse tipo de raciocínio, cada vez mais presente entre consumidores europeus e norte-americanos, que vai de encontro ao convênio firmado em São Paulo.
Hoje, a Braskem vende no mercado interno 2,1 milhões de toneladas de resinas. Para o mercado externo são enviadas mais de 750 mil toneladas, incluindo o continente europeu, que a cada dia cria novos mecanismos para barrar produtos que não respeitem normas ambientais - uma realidade que a empresa conhece muito bem.
No ano passado, ela ganhou o prêmio 'Bioplastics Awards', promovido pela 'European Plastic News', pelo lançamento do primeiro polietileno feito com matéria-prima 100% renovável no mundo.
Criações como essa serão cada vez mais valorizadas. Um processo que começa com o consumidor, quando ele, por exemplo, adota uma sacola retornável no lugar dos saquinhos de supermercado.
É nesse ponto que produção e consumo dão uma guinada rumo a tão falada sustentabilidade. O apoio à ciência brasileira é uma peça a mais nesse promissor quebra-cabeças.