Um estudo conduzido na Universidade Estadual Paulista (Unesp) indica que mesmo infecções leves e moderadas de covid-19 podem provocar desequilíbrio no sistema cardiovascular de adultos jovens, incluindo aqueles sem doenças preexistentes.
O estudo ainda concluiu que a obesidade e o baixo nível de atividade física são fatores determinantes no pós-covid, que ajudam a alterar o sistema nervoso autônomo do paciente. Para alcançar os resultados, a pesquisa acompanhou indivíduos entre 20 e 40 anos antes de serem vacinados.
“Esses resultados nos dão elementos para incentivar as pessoas para que, mesmo com sintomas leves de COVID, busquem um diagnóstico mais minucioso após a contaminação. A bagagem deflagrada pelo vírus pode ter consequências e o paciente não sabe”, avalia o coordenador do projeto, professor Fábio Santos de Lira, do Departamento de Educação Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp, campus Presidente Prudente.
O estudo
Para o estudo, os pesquisadores recrutaram pacientes infectados com o SARS-CoV-2 no município de Presidente Prudente, no interior de São Paulo. Os indivíduos tiveram diagnóstico confirmado por teste de RT-PCR e infecção com sintomas leves a moderados. No total foram avaliadas 57 pessoas, mas, após as exclusões, 38 foram consideradas no resultado final.
Houve medição do índice de massa corporal (IMC) e dos níveis de atividade física, além da avaliação do sistema nervoso autônomo por meio da variabilidade da frequência cardíaca. O principal achado foi que, mesmo em infecções leves e moderadas, adultos jovens contaminados pelo SARS-CoV-2 apresentaram:
– maior atividade simpática (sistema que ajusta o organismo para suportar situações de perigo, esforço intenso e estresse);
– menor atividade parassimpática (responsável por fazer o corpo se acalmar após uma situação de estresse);
– variabilidade global quando comparados aos indivíduos não infectados.
Ou seja, no grupo pós-COVID houve aumento da frequência cardíaca e menor atividade do organismo para “frear” essa frequência.
Ao comparar os indivíduos com sobrepeso e obesidade e/ou inativos fisicamente, a modulação autonômica cardíaca apresentou piores índices. Os resultados fornecem novas informações sobre o papel do IMC e da atividade física na desregulação pós-infecção por covid-19 que podem contribuir para o entendimento do tratamento dos sintomas agudos posteriores.
“Não esperávamos um sistema cardiovascular tão alterado porque eles são jovens e sem outras doenças. Nosso trabalho mostra que pessoas infectadas pela COVID, mesmo sem sintomas graves, podem apresentar alterações funcionais importantes. Por exemplo, essa variação na frequência cardíaca pode, no futuro, se tornar uma arritmia”, afirma a pós-doutoranda na Unesp Luciele Guerra Minuzzi, uma das pesquisadoras que participaram do estudo.
Próximos resultados
Segundo o professor Fábio Santos de Lira,, os pesquisadores agora estão avaliando outros resultados obtidos nas análises, que devem ser publicados em breve. O projeto conta com a participação de cientistas da Universidade de Coimbra e do Instituto Politécnico de Coimbra (ambos de Portugal).
Além disso, os mesmos pacientes continuam sendo acompanhados após terem sido vacinados. Já houve uma avaliação seis semanas depois da vacina e a próxima será no 18º mês pós-imunização.
Por: Ícaro Gonçalves
Colaborou Luciana Constantino, da Agência Fapesp