Notícia

Assembleia Legislativa do Estado do Piauí

Jogos de celular funcionam como ginástica para cérebro de idosos? (21 notícias)

Publicado em 15 de outubro de 2022

Como as pesquisas nessa área ainda estão em andamento e não há consenso sobre os mecanismos de ação ou a dose adequada de treinamento cognitivo para cada pessoa, os médicos ouvidos pela BBC News Brasil apostam no uso razoável da tecnologia e dos jogos.

"Sempre que você vai fazer uma mudança no estilo de vida ou adotar um novo hábito, o equilíbrio deve ser parte fundamental desse processo", sugere Brucki.

"Não adianta adotar um jogo de celular e se isolar do resto do mundo, até porque sabemos que a falta de contato social é uma das piores coisas para o cérebro e aumenta o risco de declínio cognitivo", complementa.

"Uma intervenção com jogos precisa levar em conta o contexto e o passado daquela pessoa. Será que ela realmente gosta de fazer aquilo?", questiona Cintra.

O prazer é fundamental na hora de fazer a tal "academia para o cérebro": se o sujeito não curte praticar aquilo e nem fica entretido durante as sessões, a tendência é que ele abandone a atividade aos poucos.

Ainda nessa seara, outro ponto importantíssimo tem a ver com o desafio: os jogos precisam ser divertidos e interessantes, além de sempre exigirem um pouco mais do participante. De nada adianta ficar repetindo sempre uma tarefa igual, com um grau de dificuldade semelhante.

Esses aspectos levantados pelos especialistas vão de encontro a um manifesto escrito em 2014 por acadêmicos da Universidade Stanford, dos Estados Unidos, e do Instituto Max Planck, da Alemanha.

No documento, eles pedem cuidado com propagandas enganosas, principalmente aquelas em que os jogos são vistos como a prevenção definitiva da demência.

"A promessa de uma 'bala de prata' [contra o declínio cerebral] contrapõe a mensagem de que o vigor cognitivo é influenciado pelo que vivemos e reflete os efeitos de longo prazo de um estilo de vida saudável e ativo", escrevem.

CRÉDITO,GETTY IMAGES - Para serem mais efetivos, os jogos de celular e tablet precisam entreter, divertir e desafiar, sugerem médicos

Em outras palavras, o envelhecimento saudável depende de hábitos adotados durante toda a vida, da infância à velhice. Ter uma alimentação equilibrada e variada, fazer atividade física regularmente, nutrir laços com familiares e amigos e aprender continuamente novas habilidades cria e preserva o que os cientistas chamam de "reserva cognitiva".

Essa tal reserva funciona como uma poupança: quanto mais estimulamos o cérebro, mais fortes e diversas ficam as conexões entre os neurônios. Daí, com o envelhecimento, parte dessas habilidades cognitivas até se perdem, mas ainda há muitas outras capazes de manter a memória e o raciocínio em bom estado.

Isso, claro, não significa que os jogos não ajudem algumas pessoas. Tudo vai depender do contexto e da forma que eles se encaixam na rotina.

"Uma experiência que exige um esforço mental, como aprender um idioma, adquirir uma habilidade motora, explorar um novo ambiente e, sim, jogar videogames, vai resultar em mudanças nos sistemas neurais", apontam os autores do documento de 2014.

"Porém, é inapropriado concluir por ora que esses treinos modifiquem aspectos além daquela atividade e tenham relevância no mundo real, ou que promovam genericamente a 'saúde do cérebro'".