Jogo digital Kawã na Terra dos Indígenas Maraguá é lançado com o objetivo de subsidiar práticas de alfabetização e letramento interdisciplinares. O Laboratório de Pesquisa Linguagens em Tradução (Leetra) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolveu o jogo destinado a alunos e professores de escolas de educação infantil e ensino fundamental I. O projeto foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
O Leetra, liderado pela pesquisadora Maria Silvia Cintra Martins, tem se dedicado à pesquisa de línguas e literaturas indígenas, letramento e comunicação interculturais. O objetivo é recriar lendas indígenas no formato de jogos digitais. Anteriormente, o laboratório já havia lançado outros jogos chamados Jeriguigui e Jaguar na Terra dos Bororos.
A escolha das temáticas indígena e ambiental foi motivada pela capacidade de cativar e envolver as crianças, além de estar previsto na Lei 11.648/08 o trabalho com as culturas indígenas e afro-brasileiras em todo o território nacional. A falta de material para trabalhar com essas temáticas nas escolas foi outro fator considerado.
O jogo Kawã na Terra dos Indígenas Maraguá é baseado na narrativa mítica do povo indígena Maraguá, que vive no Baixo Amazonas, nas margens do rio Abacaxis, no município de Nova Olinda do Norte. O protagonista do jogo, Kawã, pertence ao Clã do Gavião e passa por rituais importantes para a cultura indígena, como o Wakaripé, que marca a transição da infância para a vida adulta, e o Gualipãg, que credencia o indivíduo a se tornar caçador-guerreiro-chefe.
O jogo busca valorizar elementos culturais típicos da cultura tradicional Maraguá, bem como as histórias de assombração cultivadas por esses indígenas. Além disso, também aborda a luta política dos Maraguá em defesa de suas terras.
Maria Silvia ressaltou que, após jogar o Kawã na Terra dos Indígenas Maraguá, as crianças se interessam em fazer pesquisas online sobre os povos Bororo e Maraguá. Com isso, o jogo também atinge a meta da interdisciplinaridade, abrindo espaço para discussões em várias áreas do conhecimento, como ciências, história e geografia.
A pesquisadora também está procurando parcerias com secretarias de Educação e atualmente está trabalhando em uma escola estadual com uma professora parceira que se interessa pela temática indígena. Foram realizados encontros com as crianças no laboratório de informática da escola, onde elas puderam jogar e se divertir. Em seguida, foram explorados diálogos e termos pontuais com o objetivo de promover a alfabetização e o letramento.
Além da descrição dos rituais, a pesquisadora utilizou a literatura Maraguá como referência, destacando os escritores e escritoras indígenas Elias Yaguakãg, Lia Minapoty, Roni Wasiry Guará, Uziel Guaynê e Yaguarê Yamã. Esses autores têm obras que abordam a cultura e a realidade dos indígenas Maraguá.
O jogo digital Kawã na Terra dos Indígenas Maraguá pode ser acessado pelo site do Leetra da UFSCar. Com essa iniciativa, a universidade busca contribuir para a valorização das culturas indígenas e para a promoção de práticas de ensino e aprendizagem mais inclusivas e interculturais.
Fonte: Guia Região dos Lagos