Grupo de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) está desenvolvendo um aparelho que pretende medir o nível de açúcar no sangue de pacientes com diabete pelo hálito. A estudante e pesquisadora jauense Ariadne Cristina Catto, 29 anos, faz parte do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) que está construindo o sensor que poderá substituir, em breve, as temidas picadas de agulha no dedo.
O estudo desenvolve um sensor para detecção de acetona. “Buscamos entender porque seria útil e qual seria a aplicação de um sensor de acetona”, comenta Ariadne. Durante a pesquisa foi constatado que o aparelho poderia ser usado para o diagnóstico de diabete.
O intuito é monitorar a enfermidade. “A grande questão é que as pessoas estão confundindo, pensando que iremos medir a glicemia. O diabético tem uma dificuldade de absorver o açúcar e para liberar energia em seu estômago há uma geração de acetona. Ele tem uma concentração maior de acetona no hálito que o não diabético – o não diabético tem entre 0,3 a 0,9 parte por milhão, enquanto o diabético tem acima de 1,8 parte por milhão”, afirma o professor do Departamento de Física da Ufscar Luís Fernando da Silva, 33 anos, que faz parte da equipe.
É por meio desse maior nível de acetona que será possível determinar o nível de glicemia desse paciente. A ideia do sensor de acetona é substituir a “picadinha” necessária para coletar gotículas de sangue para medição da glicemia, uma vez que as moléculas da substância serão detectadas pelo aparelho.
Em parceria com a Universidade de Aix-Marselha, na França, o grupo está desenvolvendo o protótipo. A estudante e pesquisadora jauense cita que, embora o intuito seja a construção do “bafômetro” de acetona, ainda são necessários alguns estudos, como a estabilidade do produto em longo prazo, seu custo e benefícios. O tempo estimado de pesquisa, que é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) em conjunto com as três unidades, é de três anos.
“Vai ajudar muito”
Embora não esteja por dentro da pesquisa, o endocrinologista Ieso Braz Saggioro acredita que o sensor de acetona poderá ajudar muito os diabéticos. Ele cita que, muitas vezes, já foi visitar pacientes no hospital e pediu para que eles soltassem o ar pelo nariz para comprovar o cheiro de acetona. “Pelo cheiro, odor no ar, eu já sabia quando a diabete estava descontrolada ou não”, comenta.
O especialista cita que a pesquisa é importante, desde que tenha uma relação direta com a glicose. “Não é apenas o diabético que libera acetona pelo nariz. O próprio jejum faz isso com a gente, principalmente com pessoas acima do peso”, ressalta o médico.
Ciência precisa de mais estímulos
O interesse pela área acadêmica foi algo natural da vida da estudante e pesquisadora Ariadne Cristina Catto. A vontade de seguir o ramo de exatas veio do seu pai, engenheiro e professor. Ela fez licenciatura em física e se envolveu mais com a pesquisa que com a parte didática.
Ela seguiu o mestrado, foi para o doutorado e atualmente faz o pós-doutorado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara. Para a jovem, a pesquisa é algo fundamental, uma vez que é possível mostrar aplicabilidade no dia a dia das pessoas. “Você contribui para a sociedade”, salienta.
O segmento acadêmico no Brasil ainda é pouco encorajado pela iniciativa pública. Ela cita que o governo precisa estimular os pesquisadores.
Em um momento que o governo estadual está cortando gastos com a área, é uma boa notícia que a pesquisa sobre o sensor de acetona esteja sendo financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).