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Itacaré empobrece apesar do turismo crescer

Publicado em 15 março 2008

De alto impacto, segundo estudo divulgado esta semana pela agência da Fundação de Pesquisa de São Paulo (Fapesp). O autor é o economista e mestrando em cultura e turismo da Uesc, o pesquisador Elton Oliveira da Silva. 

De acordo com o estudo, o aumento do fluxo turístico em Itacaré e a falta de planejamento da atividade turística geraram um "desenvolvimento empobrecedor". Elton tinha como objetivo identificar os impactos sócio-ambientais e econômicos do turismo e as suas repercussões no desenvolvimento.

No estudo, ele deu prioridade aos aspectos qualitativos do turismo desenvolvido no município da Costa do Cacau que virou febre brasileira e foi apontado como 41º melhor destino para viajar, segundo avaliação do jornal norte-americano The New York Times.

O economista desenvolve o estudo há dois anos, pelo menos, e não economiza críticas ao modelo adotado em Itacaré. "É ecologicamente predatório, economicamente concentrador, socialmente iníqüo e culturalmente alienante".

Anualmente, a cidade recebe cerca de 120 mil visitantes por ano, dos quais 15% são estrangeiros. O 'boom' atraiu a iniciativa privada. Grandes nomes do empresariado nacional e estrelas têm negócios no município.

E será inaugurado, ainda neste ano, o Warapuru, o primeiro hotel seis estrelas da América Latina. O estudo ganhou espaço na Fapesp pela sua qualidade e o cuidado no levantamento de dados.

O empobrecimento, na opinião de Elton, foi gerado a partir de um aumento do custo de vida, degradação ambiental, elevação dos índices de prostituição e tráfico. Aliado a isso, ainda há forte especulação imobiliária, importação de mão-de-obra e ocupação desordenada.

No material publicado pela Fapesp, Elton lembra que Itacaré não dispõe de uma Secretaria de Turismo nem de um Conselho de Meio Ambiente e Turismo. Ele condena a falta de um plano governamental de desenvolvimento para o turismo na cidade.

E aponta que as decisões relevantes são tomadas a mais de 400 quilômetros de Itacaré, em Salvador, pelo governo estadual.

Preservação

O pesquisador ainda condenou a falta de política de preservação de zonas turísticas, como as praias de Resende e Engenhoca. As duas foram adquiridas por grupos belga e português, respectivamente, para construção de resorts.

A falta de preservação e o alto fluxo de turistas, aponta Elton Oliveira, poluem ainda mais as praias, pois efluentes são lançados sem tratamento e criam problemas como a destinação do lixo.

A cidade turística, de mais de 24 mil habitantes, está entre as mais badaladas do Brasil mas não dispõe de um aterro sanitário. As preocupações do pesquisador são ainda maiores com a conclusão da estrada que liga Itacaré a Camamu, no baixo-sul baiano.

O trecho de 43 km será a interligação do destino à capital baiana e poderá reduzir para três horas o percurso entre Itacaré e Salvador, hoje feito pela BR-101 e estrada Ilhéus-Itacaré.

O crescimento de Itacaré ocorre com a exclusão dos nativos, cada vez mais 'jogados' para a periferia da cidade, principalmente com o advento da forte especulação imobiliária.

Tudo ficou mais caro para os itacareenses. O estudo aponta até a interferência na auto-estima dos nativos. Não há preservação da identidade local.