A série Black Mirror, que explodiu na internet e é tema de conversas filosóficas de buteco a salas de aula, volta a ser tema de encontros intelectuais no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.
Localizado na Rua Dr. Plínio Barreto, na Bela Vista, o local recebe pesquisadores de diversas áreas para debater e refletir sobre temas contemporâneos abordados pela série entre os dias 5 de junho a 10 de julho, sempre às segundas. As inscrições começam no dia 24 de maio pelo site e custam R$ 15 para comerciários, R$ 30 meia e R$ 60 inteira.
Confira a programação:
5 de junho: Nosedive: Capital social nas redes sociais
As redes sociais na internet proporcionaram mudanças importantes nos processos de Comunicação da Contemporaneidade. Novos modos de circulação e construção de capital social são criados e novos modos de valorização dessas trocas. A palestra aborda essas novas formas de construção e circulação de capital social através da mídia social, bem como o impacto desses valores na sociabilidade das pessoas.
Sinopse: Uma mulher desesperada para ser notada nas mídias sociais acha que tirou a sorte grande ao ser convidada para um casamento luxuoso, mas nem tudo sai como planejado.
Com Raquel Recuero, professora e pesquisadora do curso de Jornalismo e do programa de pós-graduação em Letras da UFPel e do programa de pós-graduação em Comunicação e Informação da UFRGS e do CNPq.
12 de junho: Shut up and dance e The entire history of you: segurança na internet e direito ao esquecimento
Até pouco tempo atrás, as notícias, as nossas opiniões, as nossas imagens e as nossas interações pessoais não eram digitalizadas. Se eram digitalizadas, não estavam na Internet. Se estavam na Internet, não eram indexadas por buscadores que prometem apresentar exatamente o que você busca, e na ordem supostamente mais relevante para você. Neste caminho entre o acesso a um conjunto extraordinário de informações e uma espécie de memória permanente, reconfigura-se não somente o lembrar e o esquecer, mas também a priorização da informação, cada vez mais estabelecida por algoritmos com os critérios para aquilo que importa, e quanto. Nesse contexto, é razoável pensar em um direito a ser esquecido?
Sinopse Shut up and dance: Um vírus ataca um computador e seu usuário tem uma difícil escolha a fazer: executar as ordens que recebe por mensagem ou ter sua intimidade exposta?
Sinopse The entire history of you: os seres humanos têm a opção de registrar, num chip implantado atrás da orelha, todos os seus atos diários, e revivê-los mais tarde em vídeo.
Com Mariana Valente, diretora do InternetLab, doutoranda em sociologia do direito pela USP. É pesquisadora do Núcleo Direito e Democracia do CEBRAP, e foi pesquisadora visitante na UC Berkeley entre 2016 e 2017.
19 de junho: Be right back: Imortalidade Digital e limites para uso dos dados legados pelos usuários
Ao longo das interações com artefatos tecnológicos, uma grande quantidade de bens digitais é gerada via software. Com o falecimento dos usuários, esses bens farão parte do legado digital deles. A Imortalidade Digital, por sua vez, foca nas mais recentes aplicações da tecnologia para a preservação de um usuário por meio de seus dados. Nos limites entre a realidade e a ficção, com a ajuda da Inteligência Artificial e o tratamento de grande quantidade de dados, formas de imortalização e preservação das memórias dos usuários tem sido cada vez mais próximas do nosso mundo. Além das questões técnicas, dilemas éticos e morais desta imortalização carecem de discussão. Quais são os limites e possibilidades destas soluções tecnológicas?
Sinopse: Quando Ash, o marido de Martha, falece, ela começa a usar um software que simula conversas com mortos e, posteriormente, a situação se torna mais complexa. As consequências não tardam a surgir.
Com Cristiano Maciel, doutor em Ciência da Computação e Professor Associado I do Instituto de Computação da UFMT. Líder do projeto DAVI - Dados além da Vida, no LAVI/UFMT. É um dos autores do livro "Digital Legacy and Interaction: post mortem issues", da Springer.
26 de junho: Playtest: Realidade virtual, games e violência
A articulação entre roteiro, direção, edição, direção de arte e trilha sonora de “Playtest” resulta em uma narrativa que combina ficção científica e horror, culminado em elementos que remetem a cineastas como Stanley Kubrick, Ridley Scott e David Cronenberg. Algumas questões emergem: em que medida Black Mirror está, metaforicamente, elaborando processos que já existem nas relações atuais entre os seres humanos e a tecnologia? O que “Playtest” sugere a respeito de videogames caracterizados por alta intensidade de violência? A reflexão sobre esse episódio pretende articular paredes brancas e contratos com a manipulação da memória e o grotesco, sugerindo uma interpretação da narrativa centrada em impasses de história contemporânea.
Sinopse: Um viajante americano se inscreve para testar um novo sistema de jogo revolucionário, mas descobre que as emoções são mais reais do que imaginava.
Com Jaime Ginzburg, professor associado 2 de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo. Pesquisador do CNPq. Autor de “Crítica em tempos de violência” (Edusp/Fapesp, 2012) e “Literatura, violência e melancolia” (Autores Associados, 2013).
3 de julho: Men against fire : Banalidade do mal e novas tecnologias bélicas
As relações entre Ciência, Tecnologia e Estado configuram um cenário específico a partir da chamada segunda revolução industrial ocorrida no final do século XIX. A maneira como a Ciência e Tecnologia ocuparam papel de destaque nos dois principais momentos bélicos no século XX (primeira e segunda guerras mundias) e como em meados da década de 1940 se constituiu nos EUA o complexo militar científico permitem uma análise de como as chamadas tecnologias emergentes (disciplinas de ciência e tecnologia tais como a Biotecnologia, Neurociência, entre outras) podem se relacionar com o cenário bélico no século XXI. A palestra examina como essas relações se dão a partir de uma leitura do episódio Men against fire.
Sinopse: Após sua primeira batalha contra um inimigo elusivo, um soldado começa a ter sensações estranhas e sentir pequenas falhas técnicas.
Com Francisco Rômulo Monte Ferreira, doutor em Neurociências e Comportamento pelo Instituto de Psicologia da USP. Pesquisador e professor visitante do Programa de pós-graduação em Neurociências e Comportamento da mesma instituição.
10 de julho: Fifteen million merits: a ideologia da meritocracia e a construção da celebridade no show da sobrevida
“O que você faria?” é o título, em português, do filme El método, de Marcelo Piñero, lançado em 2005. Neste, um grupo de aspirantes a um cargo executivo se digladiam em um processo seletivo brutal, no qual se devem eliminar uns aos outros, ao mesmo tempo em que eliminam quaisquer freios postos por seus próprios juízos. A mesma pergunta é uma das estrofes da música Vida real, de Paulo Ricardo, utilizada na abertura do programa Big Brother Brasil, no qual aspirantes ao grande prêmio se digladiam em um processo seletivo televisionado, no qual devem enviar uns aos outros ao “paredão” e passar por provas de superação de seus próprios limites, físicos ou psíquicos. O episódio “Fifteen million merits”, da série Black mirror, pressente a contiguidade entre a esfera produtiva contemporânea e esse novo formato da Indústria Cultural. Esta palestra reflete tal intuição, bem como a forma estética mediante a qual se apresenta.
Sinopse: Ambientada numa versão sarcástica do futuro, “15 Million Merits” é uma sátira sobre os programas de entretenimentos e nossa sede insaciável de distração. Neste mundo, todas as pessoas estão condenadas a uma vida de trabalho físico estranho e árduo. Só tem um jeito de escapar dessa vida e é entrar no programa de talentos ‘Hot Shot’ e conseguir impressionar os jurados.
Com Silvia Viana Rodrigues, doutora em Sociologia pela USP. É professora da EAESP-FGV, autora de “Rituais de sofrimento” (Ed. Boitempo, 2012). Desenvolve pesquisas nas áreas de sociologia da cultura.
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