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Jornal do Brasil

ISSO 14.000 PÕE EMPRESASA NA LINHA (1 notícias)

Publicado em 26 de maio de 1996

Por ALEXANDRE MANSUR
A partir do mês que vem, as empresas do mundo todo terão mais um bom motivo para cumprir a legislação ambiental. Nos dias 17 a 21 de junho, o comitê técnico TC 207 da Organização Internacional de Normatização (International Standard Organization, ISO) se reúne no Rio. Neste encontro, deverão ser referendadas as primeiras cinco normas da série ISO 14.000, que estabelece padrões para a gestão ambiental. "De inicio, isto não vai afetar o comércio nacional e internacional. Mas, a médio prazo, as empresas que não tiverem a ISO não conseguirão fazer negócios em muitos países do Primeiro Mundo", adiantou o engenheiro Wilson Oliveira, presidente da Diretoria de Normalização, Qualidade e Produtividade do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro). O órgão é o responsável pelo credenciamento das empresas de auditoria que farão certificação da ISO 14.000. Assim como a ISO 9.000 - normas sobre qualidade técnica -, a série ISO 14.000 é um padrão de referência de qualidade ambiental estabelecido internacionalmente. "Cada empresa adota voluntariamente este tipo de norma". Mas, a longo prazo, quem não estiver certificado vai ficar fora do mercado, acredita Júlio Bueno, presidente do Inmetro. Fiscais - "A ISO 14.000 foi uma forma que os países encontraram para que as empresas cumpram, a legislação. Os órgãos ambientais não conseguem manter um fiscais em cada rio, vendo se a empresa obedece os limites de emissões", exemplifica Oliveira. A primeira norma da ISO 14.000 indica que a empresa deve cumprir a legislação e os padrões técnicos de meio ambiente locais. "Graças a isso, algumas empresas que podem ganhar a ISO no Brasil não a receberiam na Europa, que, em muitos casos, tem leis mais restritivas", aponta Oliveira. A ISO também é flexível. "Ela não exige que a empresa cumpra a legislação de imediato. Uma indústria, por exemplo, pode estar emitindo poluentes acima do limite permitido mas tem um termo de compromisso com o órgão ambiental para se adequar dentro de um certo prazo. Do contrário, muito poucas empresas poderiam se certificar", lembra o engenheiro. Embora admitam que vai ser necessário certo esforço para atingir a certificação, o empresariado brasileiro está otimista com a ISO 14.000. "Hoje, é mais difícil para o Brasil do que para um concorrente alemão dizer que seu produto tem uma boa qualidade ambiental. Com a norma, passamos a ter um agente para diminuir a possibilidade de sermos condenados sem julgamento", afirma José Maurício Reis, gerente de Desenvolvimento Sustentado da Companhia Vale do Rio Doce e membro do Grupo de Apoio à Normalização Ambiental (Gana). Composto principalmente por técnicos da indústria nacional, o Gana representa os interesses brasileiros na elaboração das normas ISO. "Conseguimos que as normas não fossem tendenciosas. Por influência do Brasil, foram eliminadas as pretensões dos países europeus, que desejavam normas inspiradas nos" padrões deles, em detrimento de outros países", diz Reis. O engenheiro do Inmetro também acredita que a ISO 14.000 vai acabar com a chamada maquiagem verde. "Não adianta uma empresa propagandear que protege o mico-leão ou os beija-flores se sua própria planta industrial não obedece as normas de segurança ambiental", avisa. CELULOSE É UM SETOR SENSÍVEL A indústria de celulose é uma dás mais sensíveis á ISO 14.000, apontam os especialistas. Mas as maiores empresas brasileiras do setor estão tranqüilas. A Bahia Sul,, inclusive, já se antecipou, ajustando-se à norma de gestão britânica (BS 7750) e está pronta para ser certificada assim que a ISO for aprovada. A Aracruz Celulose também já está implantando seu sistema de gestão. "Estaremos em condições de sermos certificados até o inicio de 1997, mas só vamos requerer a ISO 14.000 se o mercado exigir, conta Carlos Alberto Roxo, gerente de qualidade da empresa". Em 1994, uma pesquisa da Aracruz revelou que o ambiente era o quarto fator na decisão de compra no mercado internacional A empresa planeja investir este ano US$ 90 mil na área. "Alguns empresários vão ter que mudar sua cultura. Isto é bom até para competitividade", afirma Celso Foelkel, diretor de Tecnologia e Ambiente da Riocell e consultor da Associação Brasileira de Exportadores de Celulose. A Vale do Rio Doce já está implantando um sistema de gestão ambiental. "Desde 1994, a empresa faz uma auditoria interina para identificar onde não cumpre a lei. Alguns setores devem se "Certificar no próximo ano", "Adianta Reis. Ninguém arrisca uma estimativa de quanto custa para uma empresa se adequar à ISO 14.000. "Mas seguramente 'sai mais caro do que o processo de implantação da qualidade ISO 9.000", garante Reis. (AJM.)