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Jornal da USP

IPT - Um século de inovação tecnológica (1 notícias)

Publicado em 26 de abril de 1999

Por MARIANA FERREIRA
Quatro instituições meio irmãs se juntaram para homenagear a mais velha de todas, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que comemora um século de existência. O seminário "A Tecnologia e a Retomada do Desenvolvimento" promovido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Academia de Ciências do Estado de São Paulo, a Universidade de São Paulo (USP) e seu Instituto de Estudos, Avançados se deu no auditório da Fapesp, no último dia 15. O evento em família, no qual estavam presentes o reitor Jacques Marcovitch; o presidente e o superintendente do IPT, Alberto Pereira Castro e Plínio Assmann; o presidente da Academia de Ciências, Walter Colli; o diretor presidente da Fapesp, Francisco Romeu Landi, entre outros, marcou o início das comemorações dos cem anos do IPT. Com seus 72 laboratórios aptos a realizar mais de 3 mil tipos de ensaios, testes e análises, o IPT se tornou famoso por promover apoio tecnológico a empresas. Quem já não ouviu falar do laudo do IPT, que esclarece a indústria sobre a qualidade de seus produtos? Além de promover este apoio, o IPT tem como missão aprimorar e disponibilizar o seu acervo tecnológico e servir como instrumento de concepção e execução de políticas públicas. Enfim, o instituto é o exemplo real de como a aproximação entre a academia e a sociedade é benéfica para o desenvolvimento de um país. Desde o seu nascimento, em 1899, o IPT vem destinando seus esforços para favorecer a população brasileira. O Gabinete de Resistência de Materiais, como se chamava inicialmente o IPT, foi criado para aprimorar o ensino prático dos alunos da Escola Politécnica de São Paulo e para dar assistência à indústria. Nos primeiros anos, os alunos se empenharam em realizar um manual de resistência de material; logo depois, seriam estabelecidas três estratégias básicas de relacionamento entre engenharia e indústria. Para a construção civil o Gabinete oferecia cálculo de fundação; dosagem de concreto para atingir a resistência prevista; ensaio de materiais e comparação com as especificações do projeto. Para órgãos do governo eram oferecidos serviços de infra-estrutura destinados ao transporte, energia, saneamento básico, entre outros. O apoio à indústria manufatureira vinha através da identificação das causas de falhas na produção. Hoje, como empresa pública sem fins lucrativos vinculada à Secretaria da Ciência. Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, o IPT se empenha em substituir o modelo de "oferta de tecnologia" pelo de "parceria tecnológica", inserindo o instituto no cotidiano tecnológico empresarial e na implantação das políticas de empreendimentos públicos. "Agora, o IPT busca junto com a empresa a solução para os processos tecnológicos", diz o presidente da instituição, Alberto Pereira de Castro. Mas voltemos à história. Em 1926, reorganizado, o Gabinete passou a se chamar Laboratório de Ensaios de Materiais da Escola Politécnica de São Paulo para, em 1934, ser anexado à USP e rebatizado como Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Só em 1944 é que o IPT passa a ser uma autarquia independente. Suas pesquisas começaram na área de engenharia civil. O IPT deu apoio à primeira edificação em concreto armado do País, o edifício Guinle. Também auxiliou a expansão da malha ferroviária utilizada no transporte de café. Seus estudos tecnológicos ajudaram a dar impulso à construção civil e ao saneamento básico, entre outros. Assim que foi anexado à USP o instituto desenvolveu pioneiramente a geotecnia e a geologia aplicada à engenharia. Utilizou esses conhecimentos na implantação da primeira usina siderúrgica do País, em Volta Redonda, Rio de Janeiro, e na hidrelétrica de Paulo Afonso, na Bahia. Incursões na área bélica possibilitaram a criação de um tanque que, inclusive, foi exportado para atuar na guerra do Iraque contra o Irã nos anos 80. Mais recentemente, o IPT criou unidades de ações interdisciplinares. Elas possibilitaram o atendimento de projetos de maior complexidade nas áreas de superligas metálicas, têxtil, fertilizantes, papel e celulose e outras. Atualmente, o IPT trabalha em parceria com seus clientes do setor produtivo, desenvolvendo projetos como tratamento galvânico por tecnologia de plasma e plástico biodegradável. "A primeira unidade do mundo de tratamento galvânico, que é lixo tóxico, entrará em funcionamento este ano", afirma Plínio Assmann, superintendente do IPT. Aproximação com a USP Mas, com todas essas conquistas, o vizinho da USP queixa-se do distanciamento entre o maior parque de laboratórios diversificados do País e a maior universidade do Brasil. A idéia de Plínio Assmann e do reitor Jacques Marcovitch é associar as duas instituições através de um conselho de competência tecnológica. "A intenção é que haja interação em todos os campos da tecnologia", diz Assmann. Segundo o superintendente do IPT, os dois sistemas de organização - USP e IPT - estão superados. "Agora o sistema em alta é aquele que opera em rede." Marcovitch acredita que o IPT esteja no rumo certo. "Inovação é a palavra-chave", comentou ele durante o evento. Também estiverem presentes no seminário "A Tecnologia e a Retomada do Desenvolvimento" o secretário de Comércio e Serviços do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Hélio Mattar, e o superintendente da Área de Operações do Banco Nacional de Desenvolvimento, Carlos Gastaldoni. Mattar também defendeu o funcionamento integrado em rede entre instituições do conhecimento. "Acredita-se que o conhecimento esteja dobrando a cada 18 meses. Nos dias de hoje, oito em cada dez trabalhadores são da área de conhecimento", afirma ele. Gastaldoni lembrou que a parceria do BNDES com o IPT vem desde 1972. A importância do instituto para as pequenas empresas e a indústria brasileira é tão grande que, segundo o presidente do IPT, durante muito tempo acreditou-se na máxima que diz: quando a indústria vai bem o instituto vai mal, referindo-se ao fenômeno que se repete de tempos em tempos, quando gente do IPT deixa o instituto para atuar na indústria.