O novo diretor-presidente do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), João Fernando Gomes Oliveira, assumiu o cargo em janeiro levando consigo uma profusão de idéias e projetos para sua gestão. Entre as novidades que pretende implementar está a constituição de um IPT na cidade de São José dos Campos, no Vale do Paraíba.
"A unidade de 30 mil metros quadrados deverá estar pronta até o final do ano. Escolhemos São José dos Campos pela proximidade com as grandes corporações como a Embraer, entre outras empresas que vamos prestar serviços", revela o executivo.
Outra reviravolta no instituto está na contratação de 250 funcionários ainda este ano.
"A idéia é conseguirmos fazer essas contratações até o final de 2008. 90% do quadro deverá ser composto por pesquisadores, destes, 80% por engenheiros", adianta o presidente.
O planejamento de Oliveira para o IPT ainda pretende enfatizar as atividades de pesquisa e inovação tecnológicas, sem deixar de lado os serviços, além de definir novas áreas de atuação para o instituto.
"O que podemos dizer é que o Brasil está nos caminhos da inovação. Pois temos hoje grandes realizações nas áreas de bioenergia, como etanol, exploração de petróleo, área aeroespacial, entre outros", explica o presidente do IPT.
Em sua administração que deve durar dois anos, Oliveira procurará um caminho de equilíbrio entre as atividades de pesquisa e serviços tecnológicos.
João Oliveira fez carreira no Departamento de Engenharia de Produção da Escola de Engenharia da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos; e coordenou o Instituto Fábrica do Milênio. Ele ainda obteve pós-doutorado pela Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA).
METAL MECÂNICA - Quais foram as suas primeiras impressões em relação ao IPT assim que assumiu a presidência do em janeiro deste ano?
JOAO OLIVEIRA - O IPT é como uma empresa que vende produtos e está sempre presente. O planejamento é contínuo. Já fizemos avaliação do que aconteceu em 2007 e o que está previsto para 2008. Este ano temos previsão de um grande fluxo de projetos, o que provavelmente vai fazer desenvolver mais a área de Recursos Humanos.
Estamos olhando oportunidades estratégicas em áreas de conhecimento que exigem muita pesquisa. Mas muitas idéias do planejamento feito anteriormente devem ser aproveitadas. Quando se faz um planejamento estratégico, o segundo passo é montar uma agenda que definirá o que vai acontecer, quando, quem será responsável pelo que, e controlar bem o processo para que tudo aconteça. Estamos terminando de definir quais as ações estratégicas para a elaboração da agenda.
Para que esse processo continue em curso, será necessário ampliar as atividades de pesquisa e desenvolvimento do IPT para áreas de atuação que sejam estratégicas para a indústria nacional.
METAL MECÂNICA - E quais são as principais ações previstas para a sua gestão?
OLIVEIRA - Uma delas é a constituição de uma nova sede de 30 mil metros quadrados em São José dos Campos, no Vale do Paraíba. Escolhemos a cidade pela proximidade com as grandes corporações como a Embraer, entre outras empresas para as quais vamos prestar serviços. Essa unidade será voltada à pesquisa de materiais compósitos e estruturas leves e junções de materiais, tais como fibras de carbono com material normalmente usado na estrutura de aviões, por exemplo.
Todos esses projetos têm uma demanda enorme e, por isso, contaremos com apoio financeiro do BNDES, Embraer e Fapesp.
Mas é lógico que contaremos com outras instituições e empresas. Preciso lembrar que esse novo instituto terá ainda um laboratório de metrologia que vai atender a GM, que conta com uma fábrica de transmissão. Além disso, também vai englobar um centro de calibração.
METAL MECÂNICA - Quando a nova unidade será construída?
OLIVEIRA - Nossa expectativa é de podermos contar com a unidade até o final de 2008. O espaço já foi doado pela prefeitura de São José dos Campos. Inclusive o prédio já está pronto. Não podemos esquecer que ampliar as atividades de pesquisa e desenvolvimento do IPT para áreas de atuação que sejam estratégicas para a indústria nacional é essencial para a arrancada do setor tecnológico do país.
METAL MECÂNICA - Há outras ações previstas ainda para este ano?
OLIVEIRA - Estamos planejando a contratação de 250 funcionários até o final de 2008. 90% do quadro deverá ser composto por pesquisadores; destes, 80% por engenheiros. Tudo isso será para atender o grande fluxo de projetos que estamos prevendo para este ano e que devem desenvolver mais a área de Recursos Humanos. Todo este plano tem por trás um ano de estudos que fizemos na área de RH. O IPT é o maior e mais antigo instituto de pesquisas no Brasil, com mais de cem anos de existência e cerca de 1,5 mil funcionários.
METAL MECÂNICA - Qual o outro desafio de sua gestão?
OLIVEIRA - Outro desafio da minha gestão é fazer com que as atividades da instituição auxiliem no processo de consolidação dos parques tecnológicos que estão em fase de implementação no Estado de São Paulo, e cujo relatório final com os resultados dos estudos de viabilidade foi apresentado em dezembro em evento na Fapesp.
METAL MECÂNICA - Qual será o papel do IPT nesse processo?
OLIVEIRA - O IPT deve ser um instrumento de apoio ao desenvolvimento do sistema paulista de parques tecnológicos. O instituto terá que se preparar para atender às novas demandas geradas pelos parques. Nesse contexto, é fundamental que o instituto continue identificando potenciais oportunidades de transferência de inovações tecnológicas das universidades para o plano empresarial, servindo como uma ponte sólida para a criação de novos produtos e soluções em processos que atendam a essas demandas.
METAL MECÂNICA - O plano estratégico de sua gestão também inclui o meio ambiente?
OLIVEIRA - Estamos discutindo a criação da área de meio ambiente e sustentabilidade. Mas essas novas áreas não significam necessariamente que serão criadas novas unidades técnicas, chamadas de centros no IPT. Isso se relaciona à criação de novos projetos, de laboratórios que abram novas perspectivas de atuação. Se isso vai gerar um novo centro ou não no IPT, é coisa que veremos depois. Temos algumas competências, precisaremos ampliar isso e a infra-estrutura, o que envolve investimentos. Estamos pensando nas formas de obter esse investimento. Pode ser feito por consórcio de agências de fomento e empresas, por exemplo.
METAL MECÂNICA - Costuma-se dizer o Brasil inova pouco. A informação realmente procede?
OLIVEIRA - O que podemos dizer é que o Brasil está nos caminhos da inovação. Temos hoje grandes realizações nas áreas de bioenergia, como etanol, exploração de petróleo, área aeroespacial, entre outros. Essa parceria entre o IPT - e a Embraer, por exemplo, nunca havia acontecido antes.
Para se ter uma idéia, o IPT tem cerca de 180 patentes, sendo 183 no período de 1978 a 2006, segundo o banco de dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Segundo dados/ Departamento de Acervo e Informação Tecnológica (DAIT), a produção técnica do IPT, de 2007, resultou na emissão de cerca de 31.763 documentos técnicos, compreendendo relatórios, certificados de calibração, relatórios de ensaios, pareceres, entre outros, foram acessadas 70.480 normas técnicas e atendidas 6.685 consultas. Foram firmados três contratos de P&D, dois contratos com transferência de tecnologia, 12 acordos de sigilo e confidencialidade, depositadas seis patentes no Brasil e oito no exterior. Há patentes em nano e microtecnologia, de microencapsulamento de substâncias para fabricação de concreto, de produtos de beleza, estas sendo utilizadas por empresas.
Temos soluções inovadoras em processos para produção de materiais para a indústria automotiva, como fibras de sisal.
METAL MECÂNICA - Há críticas também no que tange ao relacionamento entre as universidades e institutos de pesquisas e o setor produtivo.
OLIVEIRA - A atuação do instituto junto ao setor empresarial em setores estratégicos para o Brasil, como petróleo, aeroespacial e engenharia naval, é muito intensa e tem crescido a cada ano. O próprio IPT está envolvido em duas grandes iniciativas de políticas públicas para o fomento à pesquisa e inovação. Uma é o Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec), coordenado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). A outra é a formatação do sistema de parques tecnológicos do Estado de São Paulo e sua integração ao parque a ser criado na capital paulista.
Eu mesmo ainda estou participando de uma comissão que está estudando e formulando a forma de operação do Sibratec, um mecanismo de articulação de redes que vão atuar em inovação, serviços e extensionismo tecnológicos. O IPT tem atuação importante nessas três áreas. O instituto faz pesquisa, publica, patenteia, faz testes, calibrações, ensaios de materiais, ensaios de componentes e também temos projetos como Prumo e Progex, criados pelo IPT, e que hoje são difundidos em escala nacional.