Uma pesquisa desenvolvida no Centro de Química e Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) resultou em um dispositivo para liberação controlada de medicamento de uso oftalmológico. O grupo de biomateriais poliméricos desenvolveu vários estudos relacionados a sistemas de liberação de fármacos.
Este estudo contou com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na modalidade voltada ao apoio a projeto de inovação em pequenas empresas, e do CNPq, para concessão de bolsas de pesquisa, mais a parceria com a Ophtalmos, empresa privada na área de oftalmologia.
Molde de aço inoxidável para confecção dos dispositivos oculares em dois formatos: circular e meia luna
A pesquisadora Sizue Ota Rogero explica que o dispositivo inicialmente se destinava a substituir o uso de colírio para o tratamento de glaucoma. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2013, 1 milhão de pacientes serão atingidos pela doença no Brasil. Pessoas a partir de 40 anos são os mais afetados pela doença, que pode levar à perda de visão se não for devidamente tratada.
Por não apresentar sintomas, o tratamento do glaucoma acaba negligenciado. Dores de cabeça, dor ocular intensa, fotofobia e até enjoos estão entre os sintomas apresentados nos casos agudos. O controle da doença se dá pelo uso contínuo de colírios. Alguns desses medicamentos têm menor preço, mas vários pacientes necessitam de colírios mais sofisticados.
Pacientes mais idosos vão perdendo a habilidade de uso do colírio. Outra questão enfrentada em relação ao medicamento de uso contínuo é o cuidado em não se esquecer de utilizar o produto. Identificada a doença, é preciso usar o medicamento por toda a vida.
Pela praticidade de um dispositivo a ser colocado no olho pelo próprio usuário e que permita liberar de forma controlada o medicamento, os pesquisadores investiram no produto, testando para um princípio ativo específico.
Testes in vitro comprovaram a liberação durante 30 dias. Apesar dos resultados científicos favoráreis, não houve continuidade para uma próxima etapa da pesquisa voltada ao tratamento do glaucoma, devido a problemas burocráticos para obtenção dos registros por parte da empresa junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o que inviabilizou a fase de testes seguintes.
Com o grupo do professor Paulo Barros, da Faculdade de Medicina Veterinária da USP, foram realizados os pré-testes do dispositivo ocular para tramento de glaucoma em coelhos, com excelentes resultados, explica Sizue. "Não houve rejeição ou qualquer inflamação, o que é um indicativo bastante bom".
O estudo ganhou novo rumo: com uma pequena intervenção, o dispositivo pode ser instalado em animais que precisam utilizar fármacos para tratar inflamações oculares. A pesquisa será desenvolvida de forma conjunta, com estudantes de pós-graduação em ambas as instituições. Os testes serão realizados respeitando os critérios de pesquisa aprovados por Comitê de Ética da FMVUSP.
A proposta é implantar no olho dos animais domésticos um dispositivo com o antiinflamatório, que pode permanece por vários dias, sendo então retirado em uma nova intervenção. Os animais têm mais problemas visuais por processos inflamatórios do que por glaucoma. "A tecnologia é a mesma, porém com algumas adaptações", conclui José Roberto Rogero