Cinco novos relatórios sobre o status da biodiversidade no planeta serão divulgados em março, na Colômbia, durante a 6ª Reunião Plenária da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). Essa entidade foi criada em 2012 e tem como missão de sistematizar o conhecimento científico sobre o tema e, assim, subsidiar decisões políticas em âmbito internacional.
O evento será realizado em Medelín, de 17 a 24 de março. Entre os participantes estará Carlos Alfredo Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenador do programa BIOTA-FAPESP e membro do Painel Multidisciplinar de Especialistas (MEP) da IPBES. Também estará presente a pesquisadora Cristiana Simão Seixas, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp.
“Será debatida e aprovada uma avaliação global temática sobre Degradação e Restauração de Áreas Degradadas, além de quatro avaliações regionais sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos – uma com foco nas Américas, outra na África, a terceira na região da Europa e Ásia Central e, a última, Ásia e Pacífico”, explica Joly.
Os relatórios regionais servirão de base para o primeiro Diagnóstico Global sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, previsto para 2019 – documento que deverá orientar a tomada de decisão em todas as convenções da área. Seixas, da Unicamp, integra a equipe que coordenou o Diagnóstico Regional das Américas.
Além dos relatórios na íntegra, também serão divulgados em março os sumários para os tomadores de decisão – tanto políticos na área pública como gestores ambientais no setor privado. Esses resumos serão elaborados com uma linguagem acessível a um público mais amplo.
Contribuições da Natureza
De acordo com Joly, todos os documentos divulgados pela IPBES a partir de 2018 terão como base um novo conceito denominado Nature’s Contributions to People (Contribuições da Natureza para as Pessoas ou NCP, na sigla em inglês), detalhado por cientistas ligados à plataforma em artigo publicado em janeiro, na revista Science.
Trata-se de uma evolução do conceito de “serviços ecossistêmicos”, introduzido originalmente em 2005, no relatório Millennium Ecosystem Assessment da ONU.
“Naquela ocasião, foram definidos como serviços ambientais ou ecossistêmicos todos aqueles benefícios que a humanidade obtém da natureza direta ou indiretamente, como polinização, purificação da água e do ar, fertilização dos solos e dispersão de sementes. Essa abordagem permitiu atribuir valores para esses serviços. Por exemplo, a polinização no Estado de São Paulo valeria, no mínimo, o equivalente ao ganho monetário com a produção de laranja – que depende integralmente dos polinizadores”, explicou Joly.
Os serviços ecossistêmicos foram divididos em quatro categorias: serviços de provisão (produtos como alimentos, água doce, fibras, compostos químicos, madeira); serviços de regulação (processos naturais que regulam as condições ambientais, como absorção de dióxido de carbono pela fotossíntese das florestas, controle do clima, polinização de plantas, controle de doenças e pragas); serviços de suporte (contribuem para a produção de outros serviços ecossistêmicos, como ciclagem de nutrientes, formação do solo, dispersão de sementes); e serviços culturais (relacionados a benefícios recreacionais, educacionais, estéticos e espirituais).
Joly ressalta, no entanto, que no Brasil a valoração dos serviços ecossistêmicos na elaboração de políticas públicas ainda é algo embrionário. “Estamos tentando fazer avançar uma legislação que reconheça a importância, por exemplo, de manter paisagens conservadas ao lado de áreas cultivadas e outras questões associadas à preservação dos serviços ecossistêmicos”, disse.
Fonte: Agência Fapesp