O Brasil está prestes a perder mais um trem da inovação e corre o risco de, em pouco mais de uma década pagar royalties para usufruir de benefícios que poderiam ser cultivados aqui. Trata-se da nanotecnologia, campo de pesquisa e desenvolvimento de produtos que provoca um alto grau de interesse em outros países, por parte de governos e setor industrial, mas que aqui ainda apresenta uma penetração pífia no mercado. A palavra nano significa um bilionésimo. Portanto, 1 nanômetro é 1 bilionésimo de metro. Na prática, o diâmetro de um fio de cabelo é de 80 mil nanômetros. É na escala de
O Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), ligado à Presidência da República, lançou em maio um caderno dedicado ao tema. Segundo ele, o País não faz nem fará parte do primeiro time do setor, formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha e Coréia do Sul. Porém, ainda pode conquistar 1% do mercado em 2020.
Para isso, precisa fazer mais - gastar, capacitar, apostar - nesse setor, como têm feito nações que competem com o Brasil, como China, Índia, Austrália e Rússia. Numa área dominada por americanos e orientais, cujas frações são ferozmente disputadas por outras nacionalidades, os brasileiros nem aparecem nos cálculos globais de investimento.
Só em pesquisa, os Estados Unidos investiram US$ 1,57 bilhão em 2006; a China, US$ 1,11 bilhão. Os resultados já aparecem nas linhas de produção. Por sua vez, o Brasil investiu 10% desse valor ao longo de seis anos. Foram R$ 150 milhões entre 2001 e 2007 em ações do Programa Nacional de Nanotecnologia, fundos setoriais, aplicação não reembolsável em empresas e editais.
Em 2003, um grupo de trabalho formado no governo concluiu que o País precisaria dispor de R$ 400 milhões, em quatro anos, para apresentar um trabalho robusto na área. O orçamento aprovado foi de R$ 77 milhões para o período.
Passos tímidos
O governo sinaliza positivamente que assume o tema como estratégico. Mas até o caderno feito pelo NAE traz dados desatualizados, como uma estimativa de mercado global em 2020 de US$ 1 trilhão, quando novas projeções indicam que ele pode alcançar US$ 2,6 trilhões em
A construção do conhecimento é parte da inserção independente do Brasil no setor. Desde que se atinja de fato o mercado. "Faltam iniciativas para acelerar o processo", diz o coordenador de Micro e Nanotecnologia do MCT, Alfredo Mendes. "Se o País não acompanha o ritmo, corre o risco de ter produtos obsoletos."
Cristina Amorim