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Investigação da USP revela que poluição do ar também provoca doenças cardíacas (44 notícias)

Publicado em 25 de abril de 2024

Estudo inédito no mundo levou em conta autópsias de 238 paulistanos e concluiu que efeitos do carbono expelido por carros e pela queima de florestas vai além das doenças pulmonares e do câncer

Poluição em São Paulo é ainda mais prejudicial do que se imaginava, segundo pesquisa da USP

Um novo estudo desenvolvido pela Universidade de São Paulo acaba de descobrir que, além do câncer e doenças pulmonares, a poluição do ar está também diretamente ligada às doenças cardíacas.

Inédita, a pesquisa analisou os resultados das autópsias de 238 moradores da Capital Paulista e chegou à conclusão que a exposição de longo prazo à poluição atmosférica está diretamente ligada à fibrose cardíaca, doença que provoca a degeneração do tecido natural do miocárdio, causando assim seu endurecimento.

O vilão nessa relação negativa entre a má qualidade do ar e os impactos na saúde coletiva é o carbono negro.

A pesquisa Além das autópsias, os pesquisadores da USP analisaram dados epidemiológicos desses paulistanos para mensurar a relação entre o ar e a fibrose cardíaca. Os cientistas ainda entrevistaram familiares das vítimas para recolher informações sobre fatores de risco, como histórico de tabagismo e hipertensão.

A partir da observação macroscópica do tecido pulmonar desses elementos pesquisados, estabeleceram a presença e quantidade da fração de carbono negro nos pulmões. Amostras de miocárdio revelaram a fração de fibrose cardíaca.

Resultados Os resultados revelaram associação significativa entre a fração de carbono negro nos pulmões e a fibrose nos indivíduos estudados. Isso significa que, quanto mais tempo uma pessoa é exposta à poluição, maior a probabilidade de desenvolver a condição.

“Esse dado ressalta o papel crucial da autópsia na investigação dos efeitos do ambiente urbano e dos hábitos pessoais na determinação de doenças", afirma um dos autores da pesquisa, o patologista e professor da USP Paulo Saldiva.

Ficou constatado que o risco é aumentado para indivíduos hipertensos. Entre eles, a presença do marcador de doenças cardíacas cresce com o aumento da presença do indicador de exposição à poluição, tanto em fumantes quanto em não fumantes. Entre os não hipertensos, os maiores riscos foram observados principalmente nos tabagistas.

Fatores de risco A hipertensão, ou pressão alta, é uma doença que pode ser silenciosa e não apresentar sintomas. De acordo com o Ministério da Saúde, em dez anos a taxa de mortalidade passou de 11,8 óbitos para 100 mil habitantes, em 2011, para 18,7 em 2021. Cerca de 60% dos idosos que vivem no Brasil têm hipertensão.

Assim como a hipertensão, a poluição nem sempre está tão à vista de todos. Em alguns casos, no entanto, é possível saber onde ela é mais prejudicial. A exposição à poluição dentro da mesma cidade depende de fatores como hábitos e deslocamentos das pessoas.

“Podemos dizer que existem dois indicadores de poluição, um medido pela rede da Cetesb [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo], que é objetivo. E outro relacionado a quanto cada indivíduo é exposto a ela”, afirma.

“Ou seja, o nível de concentração de poluição ambiental não significa a mesma dose recebida por todos. Se você está em um corredor de tráfego por horas, recebe uma dose maior porque a concentração daquele ambiente é particularmente mais elevada.”, complementa o especialista.

Saldiva explica que diversos fatores, como a própria hipertensão, influenciam no desenvolvimento da fibrose cardíaca e que, agora, fica provado que a poluição é mais um deles. “A pergunta era ‘a poluição tem tamanho suficiente para aparecer nessa foto?’ Ela tem e foi a primeira vez que foi demonstrado no mundo em humanos. Essa é a diferença do trabalho”, pontua.

Serviço público Segundo o médico, o estudo só foi possível graças ao trabalho realizado pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO) na cidade, 24 horas por dia, 365 dias por ano. Ele afirma que o apoio da Faculdade de Medicina da USP e da FAPESP, em convênios estabelecidos no passado com o SVO, construiu um vasto conjunto de processos e informações que resultam hoje em novas possibilidades científicas.

A pesquisa da USP fornece evidências sobre os impactos da poluição do ar na saúde cardiovascular e destaca a necessidade de medidas eficazes para reduzir a exposição da população a esse mal.

A implementação de medidas como a redução das emissões de veículos, o incentivo ao transporte público sustentável na cidade e o incentivo de fontes de energia limpa são estratégias necessárias na mitigação dos impactos da poluição atmosférica na saúde pública.

Diesel e quimadas O carbono negro é um material particulado extremamente poluente, produzido a partir da queima incompleta de combustíveis fósseis, como gasolina e diesel, e dos incêndios florestais.

Os resultados da pesquisa acabam de ser publicados na revista científica Environmental Research. A investigação contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.