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O Liberal (PA)

Invento permite gerar energia elétrica em casa (1 notícias)

Publicado em 22 de janeiro de 2012

Criar um instrumento para geração de energia elétrica limpa e renovável, com baixo custo em longo prazo, ao alcance da utilização em residências e pequenos imóveis. Esses são os ingredientes da invenção desenvolvida pelo americanense Jonas Rafael Gazoli, engenheiro elétrico pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) com mestrado pela própria instituição, com foco no estudo de sistemas fotovoltaicos.

Jonas trabalhou para o surgimento do primeiro inversor de tecnologia nacional que transforma a energia térmica do sol, através da utilização de painéis instalados nos telhados dos imóveis, em eletricidade para utilização em aparelhos e equipamentos domésticos. A. tecnologia permite que qualquer pessoa tenha em casa uma placa solar com o inversor acoplado e possa fazer uso da energia solar transformada em elétrica. O desafio, agora, é torná-lo usual. Outro ponto a ser explorado pelo engenheiro é obter a patente da criação.

O pesquisador explicou que nos sistemas denominados de fotovoltaicos, basicamente, a função é converter eletricidade, de corrente contínua colhida pela placa instalada nos imóveis em energia de corrente alternada para ser injetada na rede elétrica. O aparelho torna a energia compatível com as tensões de 127 e 220 volts. "Sem ele (inversor), não é produzida a eletricidade. Ele faz o papel mais importante", explicou. O estudo, que norteou o mestrado de Gazoli, foi conduzido no Lepo (Laboratório de Eletrônica de Potência), que funciona na Faculdade de Engenharia Elétrica da Unicamp. O financiamento da pesquisa foi realizado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

"No sistema residencial, são instalados de 5 a 15 painéis, de acordo com o tamanho do imóvel. Isso reduz o custo do sistema e melhora a eficiência Hoje já é financeiramente viável", afirmou o pesquisador. Segundo ele, o investimento gira em tomo de R$ 15 mil, que podem ser pagos de oito a dez anos, dependendo da região do país. O abastecimento de eletricidade fica garantido por até 25 anos, quando há necessidade de substituição de placas. Os testes sobre a eficácia do método foram realizados com simuladores de painéis instalados no Lepo.

O americanense ressaltou que o impacto direto está na conta de energia elétrica, já que a utilização da energia fornecida pela concessionária será necessária apenas durante o período noturno. Além disso, a intenção é que a eletricidade extra, acumulada ao longo do dia e não consumida, ainda possa ser disponibilizada na rede para uso da própria concessionária. "O sistema pode ser projetado para suprir to da a residência ou para exceder a quantidade consumida", lembrou Gazoli. "Se não chegar a ser autônoma, a residência torna-se, no mínimo, sustentável", acrescentou Marcelo Gradella Villalva, coorientador da pesquisa, professor da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) e doutor na área pela Unicamp. O modelo criado pelo americanense deve servir como base para difusão da tecnologia em escala comercial.

Depois de formar-se em Engenharia Elétrica na Unicamp e an-tes de iniciar o mestrado, concluído em agosto do ano passado, Jonas Rafael Gazoli ainda fez estágio na Universidade de Pádua, na Itália. O próximo passo é inovar ainda mais a pesquisa, através do Doutorado, o qual já iniciou. "Para o Doutorado, é preciso haver a inovação. É importante tornar o sistema mais seguro, mas ainda não é possível adiantar o que será feito", ressaltou.

ACESSO

A tecnologia já está disponível no país para residências. O próprio Gazoli, juntamente com o coorientador da pesquisa, Marcelo Gradella Villalva, abriram a empresa Eudora Solar Villalva, inclusive, já havia dado início à pesquisa do engenheiro americanense, com o desenvolvimento de modelos industriais. A empresa funciona no sistema de incubadoras em Campinas.

Fontes renováveis estão em alta

O momento é favorável à procura de energias alternativas ao fornecimento de eletricidade convencional. O sistema fotovoltaico é um deles, apesar de ainda estar engatinhando no país. Na Europa e Estados Unidos, o modelo já é usual, o que deve ocorrer no Brasil entre três e cinco anos, segundo os pesquisadores. Apesar disso, o Lepo da Unicamp promove estudos na área fotovoltaica há dez anos, mas com foco anterior para o funcionamento de motores.

"A geração eólica é uma das que já pegou. Existem grandes parques no país. A geração fotovoltaica está começando agora. Assim como o uso dessa tecnologia em imóveis de menor porte, caso das residências", avaliou o professor Ernesto Ruppert Filho, coordenador da pesquisa de Gazoli e responsável pelo Departamento de Sistemas e Controles de Energia da Faculdade de Engenharia Elétrica da Unicamp.

Na opinião do engenheiro americanense, a redução de custos é o caminho para conseguir expandir o sistema. Para isso, é necessária a nacionalização dos inversores. Além disso, os painéis também são importados atualmente. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e as concessionárias de energia elétrica estão voltando os olhos para o tema, segundo Jonas.

"A utilização do modelo em' uma cidade como Campinas, por exemplo, é como se suprisse a construção de uma usina para alimentar o município, por exemplo. É economia para o governo também", acrescentou o professor Ruppert. Com isso, aplica-se o conceito de usinas solares domésticas.

Em comparação com o fornecimento de energia elétrica convencional, ainda é descartada a perda de parte do que foi produzido, já que a energia fica concentrada na residência. No transporte da eletricidade de uma usina, por exemplo, há perdas durante o caminho. "Quando todas as fontes tradicionais acabarem, não vai ter mais de onde tirar energia", lembrou o especialista.

Sobre a política pública para o desenvolvimento de energias renováveis no Brasil, Gazoli avaliou que a atenção à área ainda está no princípio, mas com avanço a passos largos. "Começou no início de 2011, mas tem avançado muito. Há muita pressão para que isso ande mais rápido".

Ele participou, inclusive, do desenvolvimento de normas para utilização de sistemas fotovoltaicos pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) (BM).