Notícia

Gazeta Mercantil

Internet2 vai desafogar rede - Banda larga garante velocidade

Publicado em 21 dezembro 1999

Por Ediane Tiago e Christiane Hato - de São Paulo
A rede de alta velocidade batizada de Internet2, inicialmente voltada para projetos de teleducação e telemedicina nas principais instituições do País, deve contribuir para descongestionar o tráfego na Internet em algumas cidades onde existe sobrecarga. "A capacidade da banda é tão grande que hoje não temos aplicativos e equipamentos para explorá-la em seu limite", constata o diretor do Laboratório de Arquitetura de Redes de Computadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Wilson Vicente Ruggiero. A caça ao novo chip de computador terá, na física quântica, auxiliar poderosa. A nova fronteira na pesquisa são os computadores "quânticos" que vão operar bilhões de vezes mais rápido que os atuais. Mergulha-se em um novo mundo submicroscópico em busca do que será o sucessor dos chips de silício. Inspirados em sistemas biológicos, os cientistas montam moléculas orgânicas capazes de conduzir as cargas elétricas. Democratização do conhecimento O projeto da internet2 brasileira prevê a Interligação entre 14 cidades, para teleducação e telemedicina, revolucionando a rede pública Ediane Tiago - de São Paulo O lançamento das ReMAVs (Redes Metropolitanas de Alta Velocidade) das cidades de São Paulo (RMAV-SP) e Campinas (REMET) marca a entrada do Brasil no universo da internet2. O projeto brasileiro existe há dois anos e prevê, inicialmente, uma rede acadêmica entre 14 cidades. Nesta nova rede, a palavra inovação não vale apenas para a inauguração de um serviço de qualidade, principal objetivo da intemet2, conhecida como internet de banda larga ou alta velocidade, pela capacidade de operar em até 2.5 Gbps (Gigabits por segundo). A criação de um backbone de alto desempenho foi um dos principais pontos avaliados no Brasil. Seguindo o modelo das redes acadêmicas de países como os Estados Unidos, a Rede Nacional de Pesquisa (RNP) e o Programa Temático Multinstitucional em Ciência da Computação (ProTeM-CC), com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq) e do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), promoveram consórcios para a instalação das ReMAVs. Esses consórcios, em que é obrigatória a participação de empresas de telecomunicações, são responsáveis, na primeira fase do projeto, pela criação de backbones metropolitanos (enlaces de fibra, desenvolvimento de aplicações para internet de banda larga e montagem e testes das redes). A RNP ficou encarregada das fases seguintes, em que estão previstas a interligação entre as ReMAVs e a ligação da rede acadêmica brasileira com as redes de outros países. Estas ligações serão feitas pela estrutura de backbone criada pela RNP, chamada de RNP2, com capacidade de transmissão de 34 Mgbps, podendo ser alterada para trabalhar com 155 Mgbps. "Por enquanto, a taxa de transmissão de 34 Mgbps é suficiente para atender à demanda de tráfego da RNP2", explica o coordenador da Rede Nacional de Pesquisa, José Luiz Ribeiro Filho. Além de possibilitar a utilização de aplicações de nova geração, como a teleducação e telemedicina, a estrutura RNP2 revolucionou a tecnologia de redes públicas no Brasil. A intemet2 traz uma nova arquitetura, em que são abandonados os termos Kbps (Kbits por segundo), utilizados na internet 1, para adoção do Mgbps (Megabits por segundo) e até o Gbps (Gigabits por segundo). "A capacidade da banda é tão grande que hoje não temos aplicativos e equipamentos para explorá-la em seu limite", afirma Wilson Vicente Ruggiero, diretor do Laboratório de Arquitetura de Redes de Computadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Com as exigências tecnológicas da nova rede, cada consórcio terá uma estrutura responsável pela comutação e gerenciamento de tráfego entre as redes de uma região, chamada de GigaPOP (pontos de presença). Semelhantes aos POPs da internet 1, só que com capacidade para operar com banda larga e aplicações de alta velocidade. Nesses locais ficam equipamentos necessários como roteadores e switches. Na arquitetura da RNP2, cada GigaPop deverá servir entre 5 e 10 membros da internet2, e caberá a cada uma dessas estruturas o gerenciamento da troca de informações. Esse gerenciamento começa quando o usuário acessa a rede, que solicita informações sobre a qualidade necessária para a transmissão e o tipo de dado que vai trafegar na fibra. Com isso, a rede é capaz de verificar se existem recursos disponíveis para a transmissão. "Se o usuário especificar que precisa de um tráfego de 10 Mgbps e tentar transmitir 15 Mgbps, precisamos avisá-lo que ele está utilizando uma capacidade que não foi solicitada. Isso é necessário para garantir a qualidade da conexão de outros usuários", diz Ruggiero. Os GigaPOPs também estão preparados para se conectar à RNP2 e trocar informações com as ReMAV de todo o País. A integração das redes metropolitanas é realizada por uma rede RNP2 padrão ATM, de alto desempenho. Para a conexão RNP2 estão sendo utilizados enlaces de fibra dedicados ATM (Assynchronous Transfer Mode), que permite a transmissão de dados de 34 a 622 Mgbps, permitindo a transmissão integrada de voz, dados e imagens. Os GigaPOPs funcionarão como roteadores da internet2 e serão responsáveis pela implementação das políticas de utilização da rede, definidas pelos consórcios. As políticas de roteamento não servirão apenas para as regras do consórcio internet2, pois também vão controlar as trocas de tráfego entre os GigaPOPs, e entre a intemet2 e outras redes. Apesar de trabalhar com banda larga, os protocolos de comunicação básicos dos serviços internet2 continuarão sendo os do conjunto TCP/IP. Como o IPv4 (Internet Protocol version 4) começa a superar seu limite -devido ao número de computadores ligados à internet l, que está levando ao esgotamento a quantidade de endereços Ipv4 disponíveis -, a versão 6 (IPv6) foi criada para operar na internet2. Porém, outros protocolos também serão estudados porque as aplicações para internet2, como videoconferência, necessitam de garantia de qualidade de serviços. Embora a nova rede utilize uma estrutura de fibra óptica e tenha um número de usuários limitado, a questão da segurança ganha importância. Uma das exigências da RNP2 é que os operadores se mantenham atualizados em relação às formas de ataque agrupadas. Em geral, o controle deve ser feito para evitar a ação de invasores e o uso não autorizado ou inapropidado da rede. A segurança pode ser feita também com firewalls, sistema instalado em redes locais para evitar a visão externa dos dados. Portanto, a segurança estará presente nas redes do sistema final, que envolvem as redes locais das entidades participantes dos consórcios é das universidades. Maior capacidade na rede óptica Cecília Gouvêa Dourado - de São Paulo O tráfego de telecomunicações cresce em todo o mundo a uma velocidade acelerada. O uso da internet duplica a cada 100 dias. Há, portanto, uma necessidade crescente de linhas de comunicação. Para atendê-la e evitar novos congestionamentos nas redes, as empresas do setor desenvolvem novas tecnologias. Uma delas converte uma fibra óptica em múltiplas "fibras virtuais", ampliando a capacidade de transmissão da rede, sem aumentar o número de fibras. Empresas como Lucent Technologies, Cisco Systems, Siemens AG e Alcatel utilizam tecnologias que aumentam o rendimento da fibra óptica - DWDM (Dense Wavelength Division Multiplexing, ou Multiplexação por Divisão de Comprimento de Onda Densa) e UWDM (Ultradense Wavelength Division Multjplexer, ou Multiplexação por Divisão de Comprimento de Onda Ultradensa). A tecnologia de multiplexação por divisão de comprimento de onda (WDM - Wavelength Division Multiplexing) chegou ao mercado em meados desta década, para aumentar as velocidades das redes para 2,5 gigabits por segundos e 40 Gbit ou mais sem a instalação de mais fibras ópticas. A WDM aumenta a capacidade de transmissão de forma simples e boa relação custo-benefício. O princípio da WDM, DWDM e UWDM é o mesmo, o que muda é a capacidade e a funcionalidade, explica Sônia Takanohashi, consultora técnica de redes ópticas da Lucent "Com a WDM pode-se transmitir dois a três comprimentos de onda (ou canais) em uma mesma fibra. Os atuais sistemas ópticos com DWDM são capazes de combinar até 40 canais e a UWDM, 160", diz Takanohashi. Por exemplo, um sistema UWDM com 100 canais de alta velocidade, com 2,5 Gbps, em um único par de fibras ópticas, permite trafegar até 40 GBp. As tecnologias de multiplexação por divisão de comprimento de onda aumentam a capacidade de transmissão das fibras ópticas, da mesma forma que a ADSL (Asymemetric Digital Subscriber Line) amplia a capacidade dos fios de cobre. Os diferentes comprimentos de onda permitem que sinais de voz, dados e vídeo sejam transportados independentemente por longa distância. A DWDM pode ser integrada diretamente às redes existentes do operador. O passo seguinte é a UWDM. Segundo a Lucent, os cientistas do Bell Labs, sua divisão de pesquisa e desenvolvimento, estabeleceram um novo recorde mundial, transmitindo dados por meio de 1.022 comprimentos de onda, usando uma única fibra óptica, com cada comprimento de onda carregando um fluxo distinto de informação. O transmissor experimental utiliza um único laser com velocidade ultra-rápida para gerar sinais por todos os 1.022 comprimentos de onda. Convencionalmente, os sinais DWDM são separados por um espaçamento de 50 gigahertz (GHz) de freqüência, mas o sistema de 1.022 canais opera numa alta densidade recorde de espaçamento de canal de 10 GHz. Cada canal ocupa apenas 10 GHz de largura de banda da freqüência, tomando-o um transmissor ultradenso UWDM. Na Alcatel, os equipamentos UWDM estão em fase de desenvolvimento e testes. A Lucent está lançando o OpticAir, um equipamento com tecnologia de multiplexação de onda, que usa o ar, e não um par de fibras, como meio de transmissão de feixes de luz com informações digitais - de voz, dados ou imagens. Indicado para edifícios, parques comerciais, universidades e navios, o OpticAir é, segundo Takanohashi, o primeiro sistema DWDM a fornecer uma rede de dados de alta velocidade pelo ar. Os sinais são enviados pelo multiplexador óptico para um equipamento semelhante a um telescópio, que os retransmite para outro similar, a uma distância de até cinco quilômetros. A desvantagem desse sistema é que a distancia depende das condições de visibilidade; a vantagem é a velocidade 65 vezes maior que os de radiofreqüência. É possível enviar pelo OpticAir dados contidos em 15 CD ROMs em menos de um segundo. A Siemens deve lançar no início do ano o Waveline, produto da linha de equipamentos otimizados para a rede metropolitana. Os produtos podem transportar mais de 300 Gbit/s em distâncias de 700km e os equipamentos em desenvolvimento transportam capacidades superiores a 3 Tbit/s. Além de equipamentos para redes de longa distância e alta capacidade (produtos TransXpress WL e TransXpress Infinity) e para enlaces submarinos não regenerados (TransXpress WLS). Rede avançada - Brasil na era da internet2 Edilane Tiago - de São Paulo Voltada para educação à distância, rede contribui para democratizar conhecimento. Com objetivo de proporcionar um serviço de qualidade para teleducação e telemedicina, a Rede Metropolitana de Alta Velocidade da cidade de São Paulo (RMAV-SP) possui uma infra-estrutura capaz de transmitir dados com velocidade de 155 Mgbps (Megabits por segundos). A rede vai interligar as 8 instituições participantes do consorcio RMAV-SP, que absorveu esforços da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP), Centro de Computação Eletrônica da USP (CCE), Pontifícia Universidade Católica (PUC), Instituto do Coração (InCor), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp - antiga Escola Paulista de Medicina), Telefônica e GloboCabo. Outra característica da rede paulista é que ela vai contar com um backbone de contingência. Além dos enlaces de fibra instalados pela Telefônica, as informações poderão trafegar pelos cabos da NET, empresa de TV a cabo que pertence à GloboCabo. "Se acontecer algum problema com a infra-estrutura da Telefônica, começaremos a operar com a NET imediatamente e vice-versa", explica Wilson Vicente Ruggiero, diretor do Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores da USP (LARC). A estrutura de transporte de dados envolve cerca de 120 Km de cabo de fibra óptica na região metropolitana de São Paulo. Cada instituição tem um equipamento para recepção e transmissão de aplicações para internet2 (Comutadores com tecnologia para operar com redes Asynchronous Transfer Mode - ATM). Para iniciar a implantação da rede, cada participante do consórcio RMAV-SP recebeu um kit de equipamentos da Rede Nacional de Pesquisa (RNP) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) composto de: um comutador ATM; um servidor Unix, com placa de rede ATM; três computadores PC-Pentium 166, com interfaces para rede ATM; um comutador de rede local Ethernet 12 portas 10 Mbps e uma porta ATM 155 Mbps. "Os equipamentos enviados tinham a configuração mínima para colocar a rede em operação. No entanto, precisamos investir em máquinas mais atuais e velozes para melhorar o desempenho de nossas conexões. Não adianta ter uma rede rápida com computadores lentos.", adverte Ruggiero. Só no LARC, a rede conta com cinco servidores e quatro estações de trabalho, e também switches que permite a ligação entre redes, como a da rede local Ethernet do laboratório com a rede ATM. O equipamento que conecta a EPUSP ao backbone da RMAV-SP também é de alta capacidade. Além disso, a preocupação com a proteção das aplicações para internet2, criadas pelos profissionais da EPUSP, incentivou a montagem de um centro de armazenamento, distribuição e produção de material multimídia. Dois dos servidores do LARC, com conexão ATM, são responsáveis pela distribuição dos vídeos feitos pela universidade. Para o armazenamento, o LARC utiliza um jukebox (memória terciária de grande capa-cidade). "Quando o aluno quiser assistir a uma aula que foi gravada, terá que se conectar a esses servidores e baixar o arquivo. Assim conseguiremos controlar o acesso a esses materiais, evitando que sejam copiados e utilizados indevidamente", explica Ruggiero. A preocupação com a segurança e a garantia de serviços da internet2 não pára por aí. A EPUSP instalou um sistema da IBM, o Tivoli, para monitorar toda a rede. Com o software os operadores do LARC conseguem enxergar a topologia da RMAV-SP e verificar todas as conexões. O Tivoli permite o controle estatístico de horários de pico, que será fundamental para evitar congestionamento na internet2. "O nosso objetivo é controlar e monitorar o tráfego. Com o sistema conseguimos identificar conexões que estão com problemas e até mesmo configurar placas em outros locais sem sair do LARC", diz Ruggiero. O sucesso da infra-estrutura montada para internet2 em São Paulo já causa entusiasmo para a ampliação da rede acadêmica de alta velocidade no Estado. A Fapesp, o ponto de acesso da RMAV-SP com a RNP2, aproveitou o evento de lançamento da RMAV-SP e da REMET- Campinas para anunciar o projeto de criação da rede acadêmica de alta velocidade de São Paulo, a Advanced Academic Network at São Paulo (Advanced ANSP). A fundação já coordena a rede ANSP, que opera com a internet 1, e pretende ligar 10 cidades do interior paulista à nova rede da capital. "A Telefônica vai participar do projeto colocando à disposição os cabos de fibra óptica para montarmos o backbone das cidades. Também estamos negociando com a Nortel as condições para fornecimento de alguns equipamentos. Nosso próximo passo é buscar mais parceiros.", diz o coordenador da rede Advanced ANSP, Hartmut Richard Glaser. Além da cidade de Campinas, que está com sua rede metropolitana pronta, a Advanced ANSP pretende criar um backbone capaz de alcançar as cidades de Piracicaba, Rio Claro, São Carlos, Araraquara, Ribeirão Preto, Bauru, São José do Rio Preto, São José dos Campos e Cachoeira Paulista. "A experiência com a cidade de Campinas nos dá condições de ampliar a ANSP2. Pretendemos iniciar o segundo semestre de 2000 com todas as cidades interligadas", afirma Glaser. Apesar do entusiasmo, dificuldades técnicas podem adiar alguns passos do projeto. O evento de lançamento da RMAV-SP e REMET - Campinas só não foi completo porque o cabo de fibra óptica que liga a cidade de Campinas a São Paulo, apresentou dificuldades técnicas e impossibilitou o lançamento do Multicom (conexão das REMA de São Paulo e REMET de Campinas com capacidade de 2.5Gbps). "Nossa interligação com Campinas está sendo feita por uma linha telefônica dedicada à internet, que nos permite trafegar a 34 Mgbps. Mas acreditamos que esse problema esteja resolvido até o começo do próximo ano.", explica Glaser. Com a possibilidade de aumento do trafego na rede acadêmica do Estado de São Paulo, a Fapesp já pensa na atualização da estrutura da rede."Os equipamentos que utilizaremos na montagem da rede estão preparados para um upgrade (aumento da sua capacidade)", explica Glaser. O coordenador da Advanced ANSP ainda lembra que a rede está operando com capacidade máxima de 2,5 Gbps, em cerca de cinco anos. "Até lá equipamentos com capacidade muito superior estarão disponíveis no mercado. Os fabricantes já falam em produzir equipamentos para suportar taxas de transmissão de 10 Terabits", comenta Glaser. Cirurgia através do computador Christiane Hato - de São Pauto Um paciente submete-se a um eletrocardiograma em um hospital e recebe o diagnóstico feito pelo especialista de outro centro médico. Outro é operado pela equipe residente enquanto a cirurgia é acompanhada, em tempo real, por profissionais instalados em outra instituição. Tudo por meio da internet, com transmissão de dados de alta resolução, sem interferências nem congestionamentos de linha telefônica. Cenas da Medicina do futuro? "Não. É a Medicina do presente", garante o chefe do Departamento de Informática em Saúde da EPM/Unifesp (Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo), Prof. Daniel Sigulem. É o que proporciona a telemedicina, uma das principais áreas a se beneficiar com o avanço da internet2. A criação da Rede Metropolitana de Alta Velocidade de São Paulo (RMAV-SP) consolida a infra-estrutura de comunicação entre o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor) e o Hospital São Paulo, da Unifesp, os primeiros centros hospitalares interconectados pela rede. Com 800 computadores em rede, sendo 15 deles estações de trabalho ligadas a um backbone, de alta velocidade, o Instituto do Coração tem seus principais equipamentos ligados à rede local. Isso permite que um médico forneça diagnósticos ou consulte exames sem a necessidade de analisar imagens em filme. Basta acessar o próprio computador. A equipe do Incor está trabalhando para que todas as informações de pacientes passem a ser digitais. "Estamos investindo muito no conceito do prontuário eletrônico para que, a partir de um terminal, o médico possa obter informações sobre laudos, exames de laboratório, traçados de eletrocardiograma e imagens, sejam elas estáticas ou dinâmicas", antecipa o diretor técnico da Divisão de Informática do Incor, Marco António Gutierrez. Será o fim das pastas recheadas de papéis e anotações. "Com a rede metropolitana, pode-se estender esse conceito, trocando prontuários digitais entre instituições de saúde". Graças à interconexão proporcionada pela RMAV, o Incor e o Hospital São Paulo poderão, dentro de pouco tempo, compartilhar informações médicas sobre seus pacientes. No caso de alguém ter feito exames no Hospital São Paulo e depois ter procurado médicos do Incor, por exemplo. A equipe do Instituto do Coração poderá acessar os dados dessa pessoa na Unifesp, verificando, inclusive, imagens ou traçados dos exames que ele tenha feito no primeiro hospital. "Com essas informações, saberemos como proceder em um diagnóstico ou tratamento com mais rapidez", explica Gutierrez. Há três anos, o Incor iniciou o serviço de envio de eletrocardiograma via fax. Fez tanto sucesso que atende, por ano, a milhares de diagnósticos enviados por hospitais espalhados em mais de 40 cidades do País. Reproduzidos no monitor, esses traçados também podem ser transferidos por e-mail, do computador do usuário para a central do Incor. Se essas experiências facilitam a rotina dos usuários do serviço, transmitindo informações em um prazo relativamente curto, o efeito da intemet2 será muito maior. De acordo com o doutor Sigulem, da Unifesp, além de descentralizar serviços, uma das principais vantagens da telemedicina é possibilitar tele-conferências e discussões de casos clínicos. A Unifesp promove discussões desse tipo pela rede, com recursos de texto e imagens. Por meio do correio eletrônico, os médicos podem enviar suas opiniões, que são inseridas na página, junto ao diagnóstico. "Com a internet2, todos podem participar em tempo real. Podemos convocar uma reunião de Cardiologia, junto com o Incor, e discutir casos entre as duas instituições", sintetiza o médico. Para ele, outro ponto importante é a segunda opinião: "Daqui a alguns anos uma equipe estará fazendo uma cirurgia no Incor enquanto o especialista daqui estará indicando: coita mais para a direita. É o primeiro passo para cirurgias à distância". Gutierrez concorda, afirmando que a idéia do Incor é interligar os postos de atendimento de emergência de ambos os hospitais. Caso precisem de uma segunda opinião, os médicos do Incor poderão acionar a equipe do Hospital São Paulo, e vice-versa. Inicialmente, dos 1.500 computadores da Unifesp, apenas seis estarão conectados à rede metropolitana. Com experiência em educação à distância, atividade que desenvolve desde 1995, a Unifesp pretende utilizar a internet 2 para aprimorar os cursos oferecidos. Segundo Sigulem, o processo de educação à distância não é apenas uma transferência de material didático tradicional para a internet Para ele, o processo parte de três princípios: o professor abandona o papel de transmissor da informação para representar o de guia no processo educacional, já que grande parte das informações está na internet Enquanto isso, o aluno deixa de ser receptor passivo de informações para buscá-las, ativamente. O último é que a interatividade entre aluno e professor toma-se fundamental, seja por meio de chat, discussões ou teleconferência. E requer o máximo de mídias possível, tanto em forma de texto como de imagens em movimento. "Temos um curso de simulação de desastres, com vários recursos de vídeo. Para o arquivo não ficar pesado, desenvolvemos um CD-ROM com os vídeos. O aluno fazia o curso pela internet e acessava as imagens pelo CD. Agora ele pode acessar tudo pela internet 2", comemora. Ainda em fase de estudo, o Incor também pretende investir na educação continuada em Medicina. Mas seus objetivos vão além, 'Temos interesse em levar a telemedicina a regiões distantes, como Manaus, que tem recursos limitados e precisa de apoio" conclui Gutierrez. Usuário comum será beneficiado A instalação das fibras ópticas para a montagem da RNP2 não trará apenas vantagens para os usuários de internet2. Como nem todas as cidades inscritas no projeto estão com suas Remavs prontas, a RNP decidiu liberar as fibras para melhorar o tráfego de internet 1, congestionado em cidades como Brasília, Belo Horizonte e João Pessoa. "O Backbone atual dessas regiões está sobrecarregado e a nova estrutura será utilizada para melhorar os serviços de internet 1.", afirma José Luiz Ribeiro Filho, coordenador da Rede Nacional de Pesquisa. Para ele, a convergência dos dois serviços de internet é possível porque a RNP2 terá um circuito de alta velocidade (34 Mgbps), que permite a criação de canais virtuais, separando os dois serviços dentro de um único cabo, trazendo até mesmo flexibilidade de banda para a internet 1. Junto com a Embratel a RPN está colocando à disposição enlaces de fibra que ligarão inicialmente as cidades de Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, Brasília, Salvador, Recife, João Pessoa, Campina Grande, Natal e Fortaleza à RPNP1 A inauguração das redes metropolitanas segue um cronograma da RNP2 (vide mapa) e prevê que até abril do próximo ano a interligação entre todos os consórcios será possível. Após a interligação das Remavs brasileiras, a RNP vai preparar a ligação da rede acadêmica nacional com o exterior, prevista também para abril do próximo ano. "Estamos dependendo da liberação de um cabo de fibra submarina chamado Américas 2, que ligará Fortaleza aos EUA", explica Ribeiro. Equipe da Unicamp reúne 50 pessoas Sílvia Simas - de Campinas Uma aula a distância, com interatividade entre professores e alunos e uma vídeo-conferência, marcou a operação, em caráter experimental, da intemet2 na região de Campinas. Na inauguração da Rede Metropolitana de Alta Velocidade de Campinas (ReMet-Campinas), no auditório do Centro de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), quinta-feira, dia 16, houve lentidão da rede causada por problema de servidor de vídeo o que acabou provocando sobreposição e deformação de imagens e deficiências de áudio. Oito auditórios estiveram interligados, com transmissão através da Internet e canais de TV a cabo: em Campinas, no Centro de Computação da Unicamp e na Prefeitura Municipal; em São Paulo, Fundo de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Palácio do Governo, Escola Poli- . técnica da USP, Instituto do Coração (Incor), PUC-São Paulo, Escola Paulista de Medicina (Unifesp). Nos últimos meses, o projeto de implantação do sistema passou por uma fase de ajustes da rede, que alcançará maior velocidade até março. Clésio Luis Tozzi, coordenador geral de Informática da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do projeto em Campinas - um engenheiro eletricista com PhD em Computação Gráfica e Visão Computacional - informou que todas as fibras e conexões já foram instaladas, os equipamentos programados e realizados testes com as primeiras aplicações. O projeto internet2, como define Tozzi, "significa a possibilidade de utilizar aplicações multimídia com qualidade." Enquanto no cinema são exibidos 24 fotogramas (ou quadros) por segundo, este número cai para 30 na televisão. Atualmente, na internet, em rede congestionada se tem de um a dois fotogramas por segundo e com baixa resolução. A idéia, segundo Tozzi, é se ter, com a internet2 a mesma taxa da televisão e com maior resolução. Para atingir esse resultado são necessários, de acordo com o professor, protocolos apropriados para garantir a transmissão com qualidade. A capacidade total de velocidade da internet2 é de 155 megabits por segundo (Mbps). Isso permite a operação de baixar um arquivo, que hoje demanda horas, seja feita em poucos segundos. Em Campinas, integram o consórcio da internet2, liderado pela Unicamp, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a prefeitura e a NET Campinas, responsável pela infra-estrutura de rede instalada. A emissora implantará um servidor de vídeo que será usado no perímetro de atuação do consorcio. Segundo Tozzi, o número de pesquisadores e técnicos envolvidos no projeto em Campinas é de cerca de 50. Este ano, o consórcio de Campinas investiu aproximadamente R$ 1 milhão. Dentre as principais utilidades proporcionadas pela internet2, Tozzi menciona o ensino à distância, a telemedicina (acompanhamento de cirurgias, diagnóstico remoto), biblioteca digital, entretenimento (com vídeo e áudio), apoio às atividades agrícolas (diagnóstico remoto de plantas). Há ainda a disponibilidade de base de dados do Visible Human. O núcleo de Informática Biomédica tem essa base há cerca de dois anos. Agora, com a intemet2, será possível utilizar essa i base remotamente. O diferencial da internet2 é que ela é uma rede em desenvolvimento, com pesquisas ainda em andamento. "Ela não foi imaginada para atender à demanda generalizada, portanto não é uma rede de produção", diz Tozzi. Para integração na internet2 é necessário que se faça uma atualização nos equipamentos existentes. É preciso possuir máquinas mais potentes, roteadores e switches (comutadores) com velocidade maior e também os protocolos adequados à aplicação em internet2. Rede transforma relação médico-paciente O mercado de produtos farmacêuticos e o atendimento de saúde particular e institucional entram em nova etapa com a internet Nuala Moran - do Financial Times A verdadeira transferência de poder aos pacientes pode finalmente estar a caminho, graças à internet. Assim como está modificando as estruturas e práticas do mundo empresarial, a rede mundial tem o poder de transformar a saúde e a Medicina. Ao mesmo tempo em que cria um mundo dos negócios centrado nos clientes, a internet abre o caminho para uma medicina centrada nos pacientes ou pessoas. Um dos primeiros sinais da maneira pela qual o equilíbrio de poder deverá se alterar é o fato de que pacientes, mais do que seus próprios médicos, já usam a internet para se informar sobre seus males e possíveis tratamentos. Além de contestar a autoridade dos médicos, esse fenômeno começa a influenciar o mercado de produtos farmacêuticos. As pessoas com problemas de saúde podem obter informações sobre novos medicamentos e exigir serem tratadas com eles, muitas vezes antes de os médicos receberem orientação dos fabricantes. As companhias que operam no mercado médico e farmacêutico estão cada vez mais usando a internet como uma ferramenta de marketing. Um exemplo é o ukpractice, um portal na Web dedicado a informações médicas da Inglaterra. Esse site é aberto apenas a profissionais da área médica, oferecendo acesso seguro a bancos de dados de informações médicas, livros-texto on-line, oportunidades de trabalho e quadros de avisos - permitindo que as companhias que vendem remédios e equipamentos médicos pratiquem seu marketing direto. Nos Estados Unidos, o site Healtheon.com/WebMD, funciona como um portal de cuidados com a saúde tanto para médicos como para usuários comuns. O serviço interliga médicos, instituições de saúde, consumidores, laboratórios e companhias de seguro-saúde, permitindo que os profissionais da área simplifiquem e otimizem processos manuais ineficientes e dependentes do manuseio de papéis, e melhorem a qualidade do atendimento. Os responsáveis por esses serviços afirmam que assim "permitem aos consumidores assumir um papel ativo no gerenciamento de seus cuidados com a saúde". A internet também está preparada para mudar o sistema de atendimento de saúde institucional mediante a criação do "hospital sem paredes" - é o que afirma Ian Taylor, principal executivo-chefe da Abovenet, uma empresa que provê serviços internet de banda larga. Ao contrário do que ocorre na instalação de redes dedicadas de alta capacidade, a instalação de acessos de alta capacidade para a internet não será muito dispendiosa. Essas redes tornarão possível interligar pessoas ou instituições externas a um hospital, como laboratórios, clínicos gerais, especialistas regionais, ou em outros países e equipamentos para diagnósticos. O avanço nas comunicações melhorará os processos administrativos, assegurando, por exemplo, que o histórico dos pacientes esteja completo e disponível, ou permitindo que os médicos marquem reuniões eletronicamente com consultores de hospitais. Mas as comunicações de baixo custo e seguras baseadas na internet também poderão mudar a prática da medicina. Com base em experiências de telemedicina, a internet tornará possível a médicos especialistas ter acesso aos melhores equipamentos de diagnóstico e fazer contato com seus pacientes. "Inicialmente, larguras de banda amplas, baratas e seguras serão testadas em aplicações não-médicas para firmar a confiança nessas técnicas, na disponibilidade e na segurança da rede", diz Taylor. "O que podemos oferecer agora é largura de banda limpa e escalável, que pode ir a qualquer lugar. Antes, a telemedicina dependia de conexões ponto-a-ponto dedicadas e caras, mas agora começamos a ter a possibilidade de interligar qualquer par de pontos". "Os diagnósticos podem não apenas ser realizados remotamente, como também os dados podem ser trazidos de outras fontes. Em seu devido tempo, especialistas poderão ser interligados através de câmeras ou de links de e-mail com o objetivo de contribuir com suas opiniões para um diagnóstico." A presença de conexões de internet de banda larga também tornará possível aproveitar recursos de computação externos a um determinado hospital. Um exemplo disso é um serviço de radiologia em desenvolvimento pela IBM em colaboração com a Universidade de Amsterdã, na Holanda. Imagens de varreduras bidimensionais de ressonância magnética (MRI) e de tomografia computadorizada (CT) são transmitidas através de conexões de internet ultra-rápidas e de alta capacidade para serem processadas em supercomputadores remotos, produzindo imagens 3D. "As varreduras de imagens MRI e CT podem registrar apenas uma seção de corte a cada vez, e por isso não contêm a profundidade às vezes necessária para um diagnóstico completo", diz Peter Sloot, um dos desenvolvedores do Explorador Radiológico Virtual. "Ao montar as seções em corte para formar uma imagem em três dimensões, o especialista pode viajar pelo corpo humano. O corpo pode ser estudado de todos os ângulos, produzindo melhores diagnósticos e poupando os pacientes de se submeter a condutas médicas desagradáveis, como laparoscopias e endoscopias." As imagens assim obtidas também poderão ser usadas para monitorar a taxa de crescimento de tumores cancerosos ou para avaliar se o tratamento para reduzi-los está funcionando. Sloot diz que há expectativas de desenvolver o sistema ainda mais, de modo que, em vez de trabalhar com imagens 3D estáticas, os cirurgiões poderão ver simulações dinâmicas. Essas simulações poderiam servir, por exemplo, para monitorar fluxos sanguíneos no planejamento de operações para colocação de pontes de safena. Assim como se prevê que os dispositivos portáteis deverão transformar as aplicações de negócios, os aparelhos de diagnóstico sem fio serão usados para medir e transmitir informações sobre os pacientes. As equipes médicas que cuidam de vítimas de acidentes poderão, por exemplo, ter dispositivos para transmitir dados para o hospital antes da chegada do paciente. Phil Meadows, consultor da Computer Sciences Corporation, diz que a CSC estabeleceu uma parceria com a Nokia, fabricante de telefones celulares, para investigar aplicações futuras de telecomunicações móveis no campo da medicina. Ele acredita, por exemplo, que haverá sistemas para autodiagnóstico, escovas de dente que monitoram substâncias patogênicas na saliva e que informem sobre infecções potenciais, ou implantes que monitorem o sangue, checando alterações nos níveis hormonais ou de açúcar. Cada paciente passaria por uma verificação de um nível de referência para caracterizar seu estado de saúde "normal". Os sistemas de monitoração então passariam a ficar de olho em desvios dessa condição. Os dados seriam transmitidos de dispositivos sem fio ou de implantes para centros médico-cirúrgicos, onde sistemas especialistas informatizados sugeririam tratamentos adequados para os pacientes e, automaticamente, gerariam as receitas apropriadas. "Nós nos habituamos à centralização dos serviços de saúde com o objetivo de reduzir custos e viabilizar a especialização", diz Taylor, da Abovenet. "Com comunicações via internet melhores e mais baratas, poderá ocorrer uma volta a uma medicina mais centrada na comunidade."