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A Tarde (BA)

Internet vira moda e Brasil já ocupa 12º lugar no mundo (1 notícias)

Publicado em 15 de julho de 2002

Por Olenka Machado
Todos os elementos pontuais são equivalentes, não há um comando central nem organismo repressor na circulação de informações diversas. Não, essa não é a definição de uma nação anarquista, mas uma tradução sintética da grandiosa rede mundial de computadores - a Internet. Consolidada em novembro de 1969, nos Estados Unidos, a rede que hoje faz o mundo parecer menor originalmente ligava apenas laboratórios de pesquisa, no projeto-base denominado ARPAnet ou ARPA - Advanced Research Projects Agency. E como "pais do bebé'* entraram para a história os pesquisadores da área de computação J.C.R. Licklider e Robert Taylor. Em plena Guerra Fria, na década de 60, a Universidade da Califórnia, o Instituto de Pesquisas de Stanford e a Universidade de Utah foram os primeiros pontos interligados na rede. Daí por diante a coisa cresceu numa progressão geométrica e, em 1971, já eram 24 junções de redes locais, alçadas a mais de 60 em 1974 e 200 em 1981. À época, já era a atual Internet, livre e aberta, a quem tinha um microcomputador. No entanto, comercialmente a rede mundial só ganhou atenção no início dos anos 90, quando já somava mais de um milhão de usuários. Foram quase duas décadas; nas quais a Internet esteve voltada ao ambiente acadêmico e científico. O ano de 1987 deu o pontapé inicial para a comercialização da rede mundial nos EUA. Não demorou muito, em 92 a prática já era "moda" entre os empresários. As pessoas iniciaram o costume de usar a Internet como espaço de comunicação, induzindo o surgimento e crescimento de inúmeras empresas candidatas a "provedoras de acesso". E a febre ganhou mundo. À época, foi criada a Internet Society (ISOC), com o objetivo de assumir o papel de "guarda-chuva", ou seja, supervisionar criação, distribuição e atualização dos padrões aplicados na Internet. Uma estrutura dividida em comitês, com autoridade para interceder em qualquer questão administrativa da rede. Somente três anos depois o Brasil recebeu liberação para também explorar comercialmente a rede. Nesse caso, o movimento passou a ser vistoriado pelo Comitê Gestor da Internet Segundo a entidade, antes do ano 2000 o número de usuários no País já extrapolava em muito um milhão de brasileiros. TRAJETÓRIA NO BRASIL Não seria exagero creditar a chegada da Internet no Brasil ao empenho da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), ligada à Secretaria de Ciência e Tecnologia daquele Estado. Em 1988. o professor conselheiro Oscar Sala, ligado ao laboratório de Física de Altas Energias de Chicago (EUA), foi o interlocutor que conseguiu a conexão brasileira com as outras redes mundiais. Do lado de cá, o atual reitor da Universidade de São Paulo (USP), Flávio Fava de Moraes, na época diretor científico da Fapesp, assumiu a aprovação do projeto. Quem mais exigia a conexão com a Internet eram os bolsistas da fundação, a maioria deles recém-chegados de cursos de doutorado nos EUA, onde já estavam habituados ao intercâmbio de informações com outras instituições científicas. Fechadas as negociações, em abril de 1989 a troca de dados teve início no País. A Fapesp utilizou a Bitnet - Because is Time to Network - como linha de acesso, já no primeiro ano de funcionamento. Porém, isso viabilizava apenas a retirada de arquivos e correio eletrônico, ainda que essa fosse uma das redes mais amplas. Dois fatores foram determinantes para o crescimento da Internet no Brasil. O primeiro diz respeito à questão técnica, quando em 1991 a Fapesp conectou-se a uma linha internacional, abrindo acesso a novas instituições. Fundações de pesquisa, entidades filantrópicas e órgãos governamentais entraram no circuito de debates. O investimento rompia os limites de contato com as bases de dados nacionais e estrangeiras, permitindo a transferência de arquivos e softwares. Paralelamente, a realização da ECO-92 possibilitou ao Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), sediado no Rio de Janeiro, firmar convênio com a Associação para o Progresso das Comunicações (APC), ampliando o espaço para ONGs brasileiras entrarem na rede mundial de computadores. Depois da criação da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, as relações foram reorganizadas. O coordenador da RNP, Tadao Takahashi, deu novo formato aos acessos, com o back-bone, uma espécie de tronco principal da rede. Dados do Comitê Gestor da Internet Brasil indicam que, em meados da década de 1990, o Brasil já mantinha a segunda colocação, atrás somente do México, então líder na América Latina em número de usuários da Internet. Em 1999, era o primeiro na região e o terceiro das Américas, atrás apenas dos EUA e do Canadá. Um contingente com cerca de três milhões de pessoas interligadas, por intermédio de centenas de provedores de acesso. No mundo, o Brasil mantinha a 12ª posição.