Todos os elementos pontuais são equivalentes, não há um comando central nem organismo repressor na circulação de informações diversas. Não, essa não é a definição de uma nação anarquista, mas uma tradução sintética da grandiosa rede mundial de computadores - a Internet. Consolidada em novembro de 1969, nos Estados Unidos, a rede que hoje faz o mundo parecer menor originalmente ligava apenas laboratórios de pesquisa, no projeto-base denominado ARPAnet ou ARPA - Advanced Research Projects Agency. E como "pais do bebé'* entraram para a história os pesquisadores da área de computação J.C.R. Licklider e Robert Taylor.
Em plena Guerra Fria, na década de 60, a Universidade da Califórnia, o Instituto de Pesquisas de Stanford e a Universidade de Utah foram os primeiros pontos interligados na rede. Daí por diante a coisa cresceu numa progressão geométrica e, em 1971, já eram 24 junções de redes locais, alçadas a mais de 60 em 1974 e 200 em 1981. À época, já era a atual Internet, livre e aberta, a quem tinha um microcomputador. No entanto, comercialmente a rede mundial só ganhou atenção no início dos anos 90, quando já somava mais de um milhão de usuários.
Foram quase duas décadas; nas quais a Internet esteve voltada ao ambiente acadêmico e científico. O ano de 1987 deu o pontapé inicial para a comercialização da rede mundial nos EUA. Não demorou muito, em 92 a prática já era "moda" entre os empresários. As pessoas iniciaram o costume de usar a Internet como espaço de comunicação, induzindo o surgimento e crescimento de inúmeras empresas candidatas a "provedoras de acesso". E a febre ganhou mundo.
À época, foi criada a Internet Society (ISOC), com o objetivo de assumir o papel de "guarda-chuva", ou seja, supervisionar criação, distribuição e atualização dos padrões aplicados na Internet. Uma estrutura dividida em comitês, com autoridade para interceder em qualquer questão administrativa da rede. Somente três anos depois o Brasil recebeu liberação para também explorar comercialmente a rede. Nesse caso, o movimento passou a ser vistoriado pelo Comitê Gestor da Internet Segundo a entidade, antes do ano 2000 o número de usuários no País já extrapolava em muito um milhão de brasileiros.
TRAJETÓRIA NO BRASIL
Não seria exagero creditar a chegada da Internet no Brasil ao empenho da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), ligada à Secretaria de Ciência e Tecnologia daquele Estado. Em 1988. o professor conselheiro Oscar Sala, ligado ao laboratório de Física de Altas Energias de Chicago (EUA), foi o interlocutor que conseguiu a conexão brasileira com as outras redes mundiais. Do lado de cá, o atual reitor da Universidade de São Paulo (USP), Flávio Fava de Moraes, na época diretor científico da Fapesp, assumiu a aprovação do projeto.
Quem mais exigia a conexão com a Internet eram os bolsistas da fundação, a maioria deles recém-chegados de cursos de doutorado nos EUA, onde já estavam habituados ao intercâmbio de informações com outras instituições científicas. Fechadas as negociações, em abril de 1989 a troca de dados teve início no País. A Fapesp utilizou a Bitnet - Because is Time to Network - como linha de acesso, já no primeiro ano de funcionamento. Porém, isso viabilizava apenas a retirada de arquivos e correio eletrônico, ainda que essa fosse uma das redes mais amplas.
Dois fatores foram determinantes para o crescimento da Internet no Brasil. O primeiro diz respeito à questão técnica, quando em 1991 a Fapesp conectou-se a uma linha internacional, abrindo acesso a novas instituições. Fundações de pesquisa, entidades filantrópicas e órgãos governamentais entraram no circuito de debates. O investimento rompia os limites de contato com as bases de dados nacionais e estrangeiras, permitindo a transferência de arquivos e softwares.
Paralelamente, a realização da ECO-92 possibilitou ao Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), sediado no Rio de Janeiro, firmar convênio com a Associação para o Progresso das Comunicações (APC), ampliando o espaço para ONGs brasileiras entrarem na rede mundial de computadores. Depois da criação da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, as relações foram reorganizadas. O coordenador da RNP, Tadao Takahashi, deu novo formato aos acessos, com o back-bone, uma espécie de tronco principal da rede.
Dados do Comitê Gestor da Internet Brasil indicam que, em meados da década de 1990, o Brasil já mantinha a segunda colocação, atrás somente do México, então líder na América Latina em número de usuários da Internet. Em 1999, era o primeiro na região e o terceiro das Américas, atrás apenas dos EUA e do Canadá. Um contingente com cerca de três milhões de pessoas interligadas, por intermédio de centenas de provedores de acesso. No mundo, o Brasil mantinha a 12ª posição.
Notícia
A Tarde (BA)