O sonho de consumo de nove entre dez "micreiros" é ter um "endereço" de acesso à Internet. Isto é, um código que funciona como senha para permitir o acesso ao sistema que interliga milhares de computadores em todo mundo. Com o endereço o usuário pode enviar mensagens para o gabinete de Bill Clinton, na Casa Branca, ou de Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto. E para quem gosta de ver maravilhas, nada como uma parada no Museu de Louvre, em Paris, ou quem sabe comunicar-se com a Universidade de Moscou e ver na tela do micro suntuosas jóias russas usadas no tempo dos czares, tudo sem sair de casa.
Por enquanto, o endereço de acesso à Internet é privilégio de poucos. Apenas para eleitos como formadores de opinião e empregados das duzentos empresas convidadas pela Embratel para testar o braço brasileiro da rede em sua fase experimental. Também "surfam" ou "navegam" pela rede aqueles que fazem parte de clubes de usuários, os BBS (Bulletin Board Systems), quem trabalha numa multinacional que se liga ao exterior por rede própria ou é da comunidade acadêmica ou científica e utiliza a Internet através de seu primeiro braço brasileiro, a Rede Nacional de Pesquisas (RNP).
Na Embratel há 14 mil na lista de espera. Quem está fora do grupo listado acima e sonha em "navegar" na maior rede de computadores do mundo - com 30 milhões de usuários - terá de esperar até 1° de outubro para entrar na nova onda que ocupa páginas e páginas de revistas e jornais dos quatro cantos do mundo.
Essa é a data fixada pela portaria conjunta entre os ministérios da Ciência e Tecnologia e das Comunicações para iniciar o serviço comercial do braço brasileiro da Internet. Isso depois de os dois ministérios chegarem a um acordo e definirem que a entidade mais capacitada para gerir inicialmente as redes de computadores que se interligam à Internet seria a Rede Nacional de Pesquisas (RNP), que há mais de três anos é responsável pela operação do braço nacional da rede mundial que atende as comunidades científica e acadêmica com 10 mil servidores (computadores) em todo o País.
A RNP se interliga em todas as capitais brasileiras. Em estados como São Paulo. Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, opera com uma malha interestadual já sofisticada interligando diferentes instituições. No Laboratório de Computação Científica, na Universidade Federal do Rio de Janeiro e Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo estão os chamados "back bonés", as ligações com o exterior. De São Paulo sai o acesso nacional para BBS paulistas, universidades do estado, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e região Sul. No Rio, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é um dos principais canais de acesso para o Nordeste, Brasília e estados da região Centro-Oeste.
Para chegar ao exterior, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) opera com um canal que se comunica com um laboratório de física em Chicago. No Rio, a UFRJ, por sua vez "aterrissa" nos Estados Unidos, através da Califórnia, no San Diego Supercomputer Center. De lá é que o usuário brasileiro vai chegar ao resto do mundo. Mas haverá daqui um outro canal de comunicação montado pela Embratel em parceria com a operadora norte-americana Sprint.
Quem tem planos de prontamente se candidatar ao novo serviço, antes de tudo precisa preparar o computador. O usuário pode ter um singelo micro com processador Intel 386 ou similar, mas segundo os "experts" em Internet, o ideal é ter um equipamento um pouco mais potente, como um 486, com memória acima de 4 mega-bites (Mb), melhor ainda se for 8 Mb, e principalmente instalar um modem (aparelho que liga o PC ao telefone) com velocidade de transmissão de 14.400 bps (bits por segundo).
Mas, além da máquina, é necessário ser providenciado o software adequado. Atualmente quem tem um software de comunicação tem condições de chegar sem problemas a um BBS. Mas para navegar da Internet é preciso mais do que isso. Há uma empresa, a Nutec, que foi a escolhida pela Embratel para fornecer os pacotes que têm representação no Brasil de dois produtos do mercado norte-americano.
Um deles é o "Internet in a Box", da empresa Sry, de Seattle, dos EUA. E equipado com manuais de apresentação do produto, dando informações de como utilizara rede. O outro é o Explore Net, da File Transfer Protocol, de Massachusetts, também dos EUA. Ambos custam R$ 210.00.
O que estes dois produtos garantem ao usuário é o acesso aos recurso gráficos da Web, as "telas" da Internet que oferecem serviços com a transmissão de imagens e juntam-se com outras telas e formam a chamada "World Wide Web". As Web são uma coleção de servidores de textos, imagens e serviços, os chamados Web Sites (senadores de Web), que tiraram a Internet da era em que só apareciam caracteres na tela e ainda uniformizou todos os diferentes protocolos de serviço existentes na rede. Para isso, entrou também em cena o software Mosaic, a interface em que os usuários de Windows e Macintosh podem navegar na Web.
Para quem quiser visualizar imagens do Museu do Louvre ou de qualquer outro museu é necessário utilizar um software que agregue ao computador do usuário recursos gráficos. Portanto, antes de candidar-se ao "endereço", é fundamental equipar o micro.
Notícia
Gazeta Mercantil