No tempo da vovó, quando se ia ao médico, o que o doutor dizia era lei. Tem que tomar xarope? Toma e pronto. Tem que fazer dieta? Faz. Hoje em dia, antes de ir para uma consulta, as pessoas costumam se informar e, para isso, contam com a internet. Sintomas, doenças, medicamentos, tratamentos. Tudo isso e um pouco mais está disponível na web. Xarope? Por que esse e não aquele? Dieta? Por que mesmo? O acesso às informações, nos últimos anos, fez com que ocorresse uma mudança na relação médico-paciente, uma vez que esse tem condições de questionar tratamentos, inquirir sobre as condutas adotadas. É o chamado "paciente expert". De acordo com o especialista em clínica médica André Luís Alves de Lemos, presidente do Departamento de Clínica Médica da Associação dos Médicos de Santos, essa nova relação médico-paciente é uma realidade, embora não ocorra em todas as faixas etárias. "São mais as pessoas na faixa dos 20 aos 40 anos", afirma Lemos. "Elas costumam pesquisar sobre doenças, tratamentos e prognósticos". A atitude desses pacientes é vista de forma positiva pelo especialista em clínica médica. "É saudável, desde que ele tenha um médico de confiança, no qual possa confiar e com o qual possa conversar". Entretanto, Lemos adverte: "O perigo é que a informação na internet não é completa. Infelizmente, às vezes, ela é até incorreta". O acesso à informação também beneficia os médicos, na avaliação de Lemos. "Para os médicos também é bom, porque nos obriga a nos manter atualizados".
Comprovação
De acordo com a Agência de Notícias Fapesp, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em artigo publicado na revista Interface Comunicação, Saúde, Educação, fizeram uma revisão bibliográfica em 15 estudos que discutem as consequências que o "paciente expert" teria sobre a profissão médica. Segundo os pesquisadores, ainda que os artigos analisados que envolveram 33 autores de 18 universidades , apresentem posições distintas sobre a interferência de tais informações na relação médico-paciente, a análise chama a atenção para a desprofissionalização da prática médica, questão discutida há anos e que, segundo os autores do estudo, necessita de atualizações. Mas os pesquisadores destacam que, enquanto os pacientes têm informações, são os médicos que detêm o conhecimento. Conforme o estudo, a internet pode oferecer grande quantidade de dados atualizados, tendo condições de transformar a relação médico-paciente, tradicionalmente baseada na autoridade concentrada nas mãos do médico. Outros artigos analisados, no entanto, sugerem que esse comportamento poderia, por outro lado, fortalecer a imagem do médico: os pacientes acabariam confiando mais no profissional após a consulta das fontes da internet. As mulheres, de acordo com a pesquisa, são as que mais buscam informações sobre saúde na internet, ao procurar prevenir doenças e reduzir os custos de tratamento de membros da família. O artigo ressalta que muitas vezes os dados na internet podem estar incompletos e até incorretos, além de que a linguagem médica pode não ser entendida como deveria, fazendo com que os pacientes tenham dificuldade de distinguir o certo do enganoso.