Notícia

A Tribuna (Santos, SP)

Internet muda relação médico-paciente

Publicado em 18 abril 2009

No tempo da vovó, quando se ia ao médico, o que o doutor dizia era lei. Tem que tomar xarope? Toma e pronto. Tem que fazer dieta? Faz. Hoje em dia, antes de ir para uma consulta, as pessoas costumam se informar e, para isso, contam com a internet. Sintomas, doenças, medicamentos, tratamentos. Tudo isso e um pouco mais está disponível na web. Xarope? Por que esse e não aquele? Dieta? Por que mesmo? O acesso às informações, nos últimos anos, fez com que ocorresse uma mudança na relação médico-paciente, uma vez que esse tem condições de questionar tratamentos, inquirir sobre as condutas adotadas. É o chamado "paciente expert". De acordo com o especialista em clínica médica André Luís Alves de Lemos, presidente do Departamento de Clínica Médica da Associação dos Médicos de Santos, essa nova relação médico-paciente é uma realidade, embora não ocorra em todas as faixas etárias. "São mais as pessoas na faixa dos 20 aos 40 anos", afirma Lemos. "Elas costumam pesquisar sobre doenças, tratamentos e prognósticos". A atitude desses pacientes é vista de forma positiva pelo especialista em clínica médica. "É saudável, desde que ele tenha um médico de confiança, no qual possa confiar e com o qual possa conversar". Entretanto, Lemos adverte: "O perigo é que a informação na internet não é completa. Infelizmente, às vezes, ela é até incorreta". O acesso à informação também beneficia os médicos, na avaliação de Lemos. "Para os médicos também é bom, porque nos obriga a nos manter atualizados".

Comprovação

De acordo com a Agência de Notícias Fapesp, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em artigo publicado na revista Interface ­ Comunicação, Saúde, Educação, fizeram uma revisão bibliográfica em 15 estudos que discutem as consequências que o "paciente expert" teria sobre a profissão médica. Segundo os pesquisadores, ainda que os artigos analisados ­ que envolveram 33 autores de 18 universidades ­, apresentem posições distintas sobre a interferência de tais informações na relação médico-paciente, a análise chama a atenção para a desprofissionalização da prática médica, questão discutida há anos e que, segundo os autores do estudo, necessita de atualizações. Mas os pesquisadores destacam que, enquanto os pacientes têm informações, são os médicos que detêm o conhecimento. Conforme o estudo, a internet pode oferecer grande quantidade de dados atualizados, tendo condições de transformar a relação médico-paciente, tradicionalmente baseada na autoridade concentrada nas mãos do médico. Outros artigos analisados, no entanto, sugerem que esse comportamento poderia, por outro lado, fortalecer a imagem do médico: os pacientes acabariam confiando mais no profissional após a consulta das fontes da internet. As mulheres, de acordo com a pesquisa, são as que mais buscam informações sobre saúde na internet, ao procurar prevenir doenças e reduzir os custos de tratamento de membros da família. O artigo ressalta que muitas vezes os dados na internet podem estar incompletos e até incorretos, além de que a linguagem médica pode não ser entendida como deveria, fazendo com que os pacientes tenham dificuldade de distinguir o certo do enganoso.