Trataremos aqui sobre a Internet das Coisas (IOT) com a sua importância para o Brasil. Analisaremos se o país está preparado para aproveitar as oportunidades que essa nova tecnologia trará. A maioria aqui já conhece o fórum de Internet das Coisas e temos dois convidados que não participaram e farão esse contraponto com questões desconhecidas por eles.
A IOT nasceu há 10 anos já com esse nome e vem ganhando uma realidade há cinco anos, sendo que nos últimos dois anos de existência do fórum, foi deixando de ser um conceito de que ela é uma tecnologia do futuro para algo que já está presente. Nós podemos não estar atentos a isso, mas ela está presente. Por isso traz oportunidades para o Brasil nas universidades, nas empresas e colaborando com o mundo, participarmos do processo de implantação, definição de regras, necessidade de padrões, critérios para definir interoperabilidade.
Temos hoje 700 pessoas inscritas no fórum, fizemos vários eventos nacionais e internacionais, fizemos testes de interoperabilidade junto com o CPdQ para avaliarmos o padrão brasileiro em comparação ao europeu e ao americano.
A IOT é um guarda-chuva de tecnologias conceituais. O avanço nessas tecnologias permite mais aplicações debaixo desse guarda-chuva, exemplos são o cloud computing, o big data, cidade inteligente, Smart Grids.
A sociedade já reconhece que a IOT é uma oportunidade, e o que o fórum poderia fazer a mais para debater isso? Comentarei sobre um resultado do trabalho do fórum.
O BNDES, em maio, está organizando um evento sobre IOT cujo título será Uma nova revolução digital - O Brasil está preparado para as oportunidades? O fórum está colaborando com o BNDES, indicando participantes. Levaremos gente de empresas do Brasil e do mundo e dentre os convidados teremos muita gente do governo. É o momento de acordar!
Victor Mammana - Diretor Geral CTI
O CTI é um órgão do governo federal. Somos uma instituição com mais de 30 anos de existência, situado em Campinas. O nosso papel foca nas políticas públicas de tecnologia da informação, atuando desde materiais até sistemas, gestão baseada em TI, contando com a fundação de apoio e bolsistas, somos em 650 pessoas. Acompanhamos esse trabalho do fórum de IOT, que é pioneiro. O Brasil, pelo que percebo, tem muito a caminhar nessa estrada.
No CTI, recuperamos uma divisão de tecnologia de redes, motivado pelo trabalho do fórum. Nós funcionamos como um sensor para o governo federal, levando as informações que coletamos para eles.
Juliano C. DallAntonia - Coordenador Geral de TI - CTI
No conceito de cidades digitais, estamos trabalhando a algum tempo com um link na IOT, na entrada de novas tecnologias o que conta é qual a aplicação que vai trazer a necessidade para o mercado consumir essa tecnologia.
Com a minha visão de vários anos, de trabalhar com o Ministério das Comunicações na montagem de um livro de conceitos brasileiros sobre cidades digitais para efetivamente trazer uma organização dentro das ações do governo federal. E uma das características para se pensar em cidade digital é que ela deve ser pensada como município e não como cidade, tem a área urbana e a rural.
O objetivo é ter comunicação banda larga em toda a região do município e aí a IOT passa a ser fundamental porque não estamos falando de consumo de internet só para ver o Portal de BANCO HOJE, mas sim para uma série de outros serviços. Fizemos então seis níveis de classificação. Percebemos que tirando a parte de logística (de movimentação de pessoas e bens materiais) todo tipo de serviço utilizado no mundo capitalista pode ser replicado no mundo virtual e nesse ponto entra o conceito mais amplo da cidade digital.
A IOT é a tecnologia viabilizadora disso. Só conseguimos ter novos serviços entrando se tivermos um sensoriamento muito grande em toda a sociedade, nas casas e ruas, tudo interligado em redes de telecomunicações baseado em padrões e dados abertos.
A partir desse momento houve uma modernização após a entrada dos serviços nos smartphones com padrões abertos e vemos a quantidade de serviços que aparecem sem depender exclusivamente de uma grande empresa, de uma tecnologia importada, ou de ação de uma multinacional que restringe a criatividade.
O ambiente de smartphones e telefonia, nesse sentido aberto, permitiu uma quantidade enorme de aplicações dia a dia seja no Google Play, na Apple Store. Serviços como: que horas que passará o ônibus? Quero chamar um táxi, qual é a rota menos engarrafada, como controlo todos os eletrodomésticos dentro de casa, controle de estoque de comida em casa. Isso tudo é feito por meio de um sensoriamento colocado nas residências, de maneira distribuída.
Nesse pensamento a IOT tem futuro no Brasil, no CTI desenvolvemos muitas coisas em sensoriamento, em microeletrônica focada na indústria nacional e nessa linha a IOT é muito grande, com futuro promissor.
José Carlos Duarte - Ex. CEO - IBM
A IBM tem projetos interessantes no Brasil na área de cidades inteligentes e de tecnologias de IOT. A IBM Brasil em parceira com a CISCO desenvolveu 27 centros integrados de comando para o Ministério da Justiça e a Secretaria de Grandes Eventos, onde a ideia é monitorar todos os eventos esportivos (Copa e Olimpíadas) na questão de segurança.
Esse tipo de abordagem é o que a IBM procura, trazer tecnologia e experiência, explorando o que temos de infraestrutura. Mais não é só isso, a IBM investe em universidades, em pesquisas, projetos com parcerias de faculdades como o SENAC. Trazemos o que dispomos de tecnologia e aplicamos, sem precisar inventar nada, pois já existe muita coisa pronta. Outro ponto importante é a questão dos padrões porque muitas vezes o fabricante quer que tenha um padrão proprietário para que ele seja o fornecedor exclusivo e todo mundo comprar dele. Isso não existe mais.
A IBM é uma grande apoiadora de Linux, de padrões abertos e no fim o que conta é solução. O grande foco da mensagem que a IBM está buscando nisso me faz lembrar uma conferência que tivemos com o presidente da empresa que se aplica agora.
Foi em 1997, quando a internet estava surgindo, e perguntaram para ele: O que é esse negócio de internet, qual o browser que o senhor acha melhor? Ele achou engraçado e respondeu - Eu não me importo com isso. O que eu quero é fazer negócio com essa tecnologia. Essa internet que está vindo aí é uma plataforma para fazer negócios.
No início da internet nós não sabíamos o que íamos fazer com ela. Os consultores falavam para os donos de empresa registrarem seus endereços e criarem uma página na internet. A mesma coisa acontece aqui. Não sabemos o que terá pela frente, mas é muita coisa, pois todo o avanço em tecnologia, sensores, será usado em nosso benefício e para negócios.
Tania Regina Tronco Avila - Área de Inovação - CPqD
O CPqD tem mais de 1000 pessoas trabalhando somente com TIC e em áreas habilitadoras em IOT, na parte de sensores, de redes de comunicação, de softwares, georeferenciamento e toda a parte de análise dos dados. A IOT é um ecossistema que envolve coleta e controle dos dados, prevenção de eventos e atuação nos sensores.
Entre 2008 e 2011, começamos um projeto prospectivo de internet do futuro, que foi financiado pelo Ministério das Comunicações. Na área de inovação trabalhamos com prospecção, detectamos tendências e nos inserimos nesse mercado. Estamos buscando fomento junto a fundos como o FINEP na área de agricultura e de precisão. Estamos aguardando um posicionamento da FINEP. A ideia inicial é monitorarmos o gado, colocando sensores neles, e os mesmos se conectarão formando uma rede. Eles se conectarão com a internet e poderemos monitorá-los à distância e seguir a evolução de cada animal.
A nossa área de RFID é muito forte e trabalhamos junto com o fórum de IOT. Acredito que o RFID é um dos pilares da IOT e a etiqueta eletrônica agregada a sensores e outras tecnologias serão os pilares dessa área.
Fizemos um evento de interoperabilidade com RFID e foi muito importante para o CPqD porque abriu uma perspectiva internacional nessa área e o fórum tem mesmo esse papel de aglutinar profissionais de diversas áreas. Muitas empresas que nos procuram hoje não sabem o que é a IOT. Elas querem fazer a IOT, mas não sabem o que é. Eu sempre divulgo que é bom fazer parte do fórum, por que vários conceitos novos aparecem, tutoriais, eventos e pretendemos realizar mais eventos com o fórum.
Sobre padronização a IOT hoje tem vários padrões diferentes, que requerem uma interoperabilidade. Um dos papéis que acho que o fórum poderia fazer era discutir um pouco esses padrões e identificar como o Brasil se posicionaria. No CPqD temos um laboratório de certificação de RFID que trabalha com um padrão chamado IPC Global em que cada objeto tem um identificador. Esse padrão propõe uma nomeação para cada objeto e o mais interessante é que esse objeto é reconhecido a nível mundial. Pode-se enviar, por exemplo, um produto brasileiro para exportação e ele será reconhecido unicamente em qualquer parte do planeta.
Newton Sant Anna - SO-ID
Represento uma empresa francesa na área de RFID que tem a visão muito voltada para pesquisa e desenvolvimento. Ela atua junto com universidades francesas, buscando através desse conhecimento distribuído, quase que numa estratégia de inovação aberta, trazer e transformar essa tecnologia em negócio, em produto para o mercado. Vi essa empresa como um diferencial para o Brasil, pois entendo que aqui temos necessidades muito específicas em todas as áreas e em específico na IOT. Algumas necessidades exploradas aqui não são as mesmas que nos EUA ou na Europa. Podemos desenvolver tecnologias específicas aqui e distribuí-las para países que tenham características similares a nossa, quase num ambiente de inovação reversa.
Uma das ideias que temos é ampliar essas parcerias que temos na França com universidades e trazer isso para o Brasil, onde poderemos com as universidades brasileiras, criar tecnologias que sejam a nossa realidade.
A empresa entende isso como um diferencial e tem trabalhado nos últimos anos em transferir esses conceitos para a empresa e os demais tem assimilado bem.
Com relação ao fórum, já participo há algum tempo e nele vislumbrei essa oportunidade e comecei a trabalhar junto a essa empresa na estratégia de desenvolver negócios no Brasil.
Falando de estratégia, na Europa a função de cluster de empresas tem regiões que trabalham focadas em RFID e a troca de informações dentro dessas empresas e universidades faz com que tudo evolua muito rápido. A formação de cluster aqui no Brasil voltado para o IOT pode ser um diferencial, essa é uma sugestão de enfoque que poderíamos dar ao fórum. Seria mais uma frente a ser explorada. E na parte de relacionamento internacional, é continuar trabalhando junto com empresas e universidades, pois essa é uma tecnologia emergente.
José Vidal Belinetti - Diretor executivo ITS e comitê gestor Fórum
O trabalho em relação à área de IOT começa há mais tempo. Nossas reuniões falando de RFID têm quatro anos ou mais, sempre no âmbito de BANCO HOJE. Demos uma expansão conceitual a tudo isso, sensibilizando as autoridades, mas algumas questões ainda estão sem resposta. Ainda não temos um grande campo de aplicações nessa área IOT. Temos um vasto campo a ser explorado na área de iluminação pública que se inicia agora, uma infraestrutura que permita que a IOT se faça de modo mais econômico.
Na USP, foi implantado um sistema novo de iluminação que mais a frente será explicado, que pode viabilizar aplicações de forma mais econômica.
Acredito que o limite das expansões das aplicações de IOT, seja que cada grande aplicação traz consigo a necessidade de se criar infraestrutura. Quando começar a haver infraestrutura para ser compartilhada, os custos de implantação das novas aplicações caíram muito e se generaliza, criando novas oportunidades para empresas compartilharem pagamento definido pelo uso e prestação de serviço.
Naturalmente, na IOT, teremos muitos sensores e estes geraram muitos dados e a possibilidade de muitas análises preditivas. Quando falamos de Smart City, isso é contido na IOT e pode ser entendido como um subconjunto da Smart City. Nem sempre isso pode ser pensado assim. Smart City e IOT estão inicialmente ligadas e não nos importamos muito se uma é subconjunto da outra, precisamos sim é ter clareza em como criaremos um ambiente para promoção e difusão de aplicações. Entendemos que as aplicações naturalmente saíram do setor privado e a emergência de muitas pessoas com iniciativa e criatividade para criar novas aplicações.
Algo que precisamos fazer é a supervisão dessas aplicações, de alguma maneira elas precisam conversar entre si e esse é um grande desafio.
Ricardo Takahira - Magneti Marelli
Somos da indústria privada, mas temos vários papéis de voluntariado até mesmo no fórum. Estamos vice liderando um grupo recém-formado aqui. Estou no fórum desde o início, e esse conhecimento compartilhado de IOT, reunindo centros de pesquisa, iniciativas privadas e academias são impagáveis.
Sou de uma empresa privada mais fazemos muitos trabalhos na engenharia da mobilidade. Sou ligado a SAE Brasil e a EEA que é um valor para o fórum, virou uma entidade neutra porque reúne todo mundo. Tem os interesses de todo mundo, mas como os assuntos de comum interesse são discutidos abertamente podem gerar essas propostas e o valor agregado.
Temos que pensar no valor para a sociedade daquilo que estamos fazendo. Por cinco anos estamos esperando a entrada de uma lei complementar que permite colocar um dispositivo no carro. Acho que se esqueceram de pensar em quem vai ganhar com isso: a sociedade. Outro dia ouvi no rádio que a economia do país cresceu e as empregadas domésticas agora tem carro. E ao ter carro elas precisam pagar pedágio de R$7 a R$ 10 para andar 15 km. No salário dela isso representa mais ou menos R$ 4.000 ao ano. Isso é muito mais que o salário dela só para pagar pedágio.
Sabemos que para isso temos uma solução de interoperabilidade em IOT, que na nossa região em algumas partes funcionam que é o pedágio proporcional baseado em cima de uma aplicação de RFID. Eu vi uma empregada doméstica reclamando porque que na estrada que ela anda isso não funciona ainda e na outra já está. Ele não foi um decreto-lei. Ele nasceu na cidade de São Paulo com um artefato da ATESP, que é regional, e pelo benefício está virando nacional. E o beneficio é pagar pelo km rodado. Ao invés de pagar pela passagem do pedágio, pois quem anda 100 km ou 10 km hoje paga o mesmo, com essa tecnologia de RFID só se paga o que andou.
Isso é de interesse público, é vantagem para a sociedade, é o preço justo. Por outro lado, tinha uma solução de MTM que o obrigava a colocar um dispositivo muito mais caro, que não é obrigatória a ativação. Esse sistema gerou muito receio nas pessoas, apesar do Estado ser obrigado a fiscalizar quem possui automóvel. As pessoas tinham medo que esse sistema fosse usado para multar porque entre as duas antenas podia haver a análise se o carro estava andando na média permitida ou não. Quando se mexe no bolso é outra história, isso traz um valor agregado muito grande para a sociedade.
Outra solução em interoperabilidade. Outro dia Barra Funda parou, não conseguiam usar o bilhete para sair da barca e entrar no trem ou no ônibus. O mesmo cartão serve para o trem, ônibus e metrô ou até outro tipo de modal.
Quando falamos de IOT ou IOE, a mobilidade está sempre junto. O TAG ou o RFID vai para a antena ou a antena vai para a coisa. Isso significa estrategicamente eu trabalhar no setor automotivo. O que o setor automotivo tem a ver com IOT? Em IOT, as coisas quando se movimentam começam a ter valor. A sociedade não é mais boba, nem tudo pode ser pensado para gerar só lucro, ela tem que ver valor naquela tecnologia. Isso fica como mensagem para os gestores do grupo do fórum. Toda nova tecnologia tem um custo, mas se esse custo se reverter em valor para a sociedade, compensa.
Victor Mammana - Diretor Geral - CTI
Tem um projeto do governo federal que é o dialeto antecipado de catástrofes baseado em PCDs, que são basicamente data logs conectados via satélite ou via GPS para passar informações do sensoriamento de chuvas. Acho que o modelo que estão usando ainda não está nos padrões de IOT. A presidente Dilma determinou a instalação de 1.500 PCDs no país para fazer a previsão de chuvas e evitar deslizamentos.
O programa é um sucesso e tem um centro de monitoramento que fica em Cachoeira Paulista, já tivemos várias vidas sendo salvas com esse programa, mas o padrão ainda não é IOT, e poderia ser. O fórum poderia levar essa proposta, pois ainda tem mais 7.000 aparelhos para serem instalados no país todo e isso pode ser um instrumento para viabilizar essa parceria.
Sérgio Pasqualim - Diretor - Expo Center Norte
Aqui fala um anarquista. Não sou usuário, não sou desenvolvedor de nada e nessa mesa houve uma palavra que dou muita importância que é sociedade.
Para mim, há dois setores que participam de todas as outras atividades do mercado, o setor financeiro e o setor de informática. São os dois únicos setores que se envolvem em todas as outras atividades. Não preciso dizer aqui dos malefícios do setor financeiro.
Peguei um texto na internet que me chamou a atenção e mexe com a sociedade e vou reler aqui. http://www.profissionaisti.com.br/2011/10/humor-pizzaria-google/
Acho o nome de Internet das Coisas fantástico porque é isso mesmo, não tem mais limite. E a minha observação extremamente crítica é sobre a sociedade e a falta de privacidade, virou uma invasão, nos deixando inseguros. O que a Internet vai fazer pela segurança, já que hoje foi criado um urso que não se tem mais controle? Estou saindo de um cartão em Nova Iorque, o meu cartão não é aceito e dizem que é para minha segurança. Eu posso perder o avião. Hoje é sexta feira, na segunda eu vou ao banco e está tudo resolvido. Fico preso em Nova Iorque, tendo dinheiro no banco, mas não posso pagar e vir embora porque o urso está fora de controle.
Gilson Schwartz - Professor Doutor - USP
A minha trajetória é pouco usual e vou resumi-la. Antes disso, vindo para cá, li uma frase pichada num muro que dizia assim: "As melhores coisas do mundo... não são coisas". Pensei em voltar lá e pichar embaixo "São coisas ligadas a Internet". Que serão as melhores coisas da vida, resta à sociedade entender o que pode melhorar na segurança, na saúde, na economia e em outras áreas. É mais fácil as coisas se livrarem da gente do que a gente das coisas.
Falando do porque eu estou nesse fórum e como cheguei aqui. Eu e o professor Amazonas trabalhamos a cinco anos juntos. Há uns 14 anos, prestei concurso para o Instituto de Estudos Avançados da USP. Era um concurso muito aberto que convidava professores visitantes para estudar Internet numa perspectiva interdisciplinar e passei. Fiz duas faculdades ao mesmo tempo Economia e Ciências Sociais. Na época, acabei trabalhando como jornalista também, pois conheci um jornalista da Folha de SP, que estava ali fazendo faculdade e viu muita gente agitando, com ideias e convidou pessoas com uma participação maior no movimento estudantil para uma reunião no escritório da Folha para saber quem queria trabalhar lá. E logo assim que surgiu a Folha, toda essa juventude foi junto. Eu trabalhei na folha uns 25 anos. Eu colocaria como uma terceira coisa que está envolvido em tudo, o jornalismo. A mídia, a informação, a comunicação está em tudo.
Na área de economia, junto do Henrique Meirelles, fui economista-chefe no Bank Boston e outras instituições financeiras. Até hoje presto consultoria para algumas organizações estrangeiras na área de finanças.
Quando Henrique Meirelles ainda era presidente do Bank Boston e da Câmara Americana de Comércio de SP, em 1994, com essa transição dele entre o Brasil e o Bank Boston, ele trouxe a internet. Um dos primeiros provedores de Internet no Brasil foi a Amcham net. Eu vendo aquilo, com a informação que eu tinha eu chamei o Meirelles e pedi demissão. Eu disse: está chegando uma coisa que vai mudar o mundo. Eu quero parar tudo e me dedicar a isso. Meirelles que é um grande líder e visionário me disse para continuar como economista e ir me aprofundando na Internet. Daí começou esse projeto que é uma parceria da Câmara Americana de Comércio SP e o Núcleo de Pesquisa de USP e criamos o BIL. De 1995 até 1999 era Eldora, Netscape e assim por diante. Há bastante tempo eu faço esse trânsito entre a área financeira, de tecnologia e de mídia. Isso me trouxe uma consciência de certos problemas de quem está só num setor da empresa, obviamente não vai ter.
Do outro lado da moeda está que você fala coisas que ninguém entende. São realidades que só você esta vendo. É o inovador, a frente do seu tempo. É bom, mas dói muito. Na época, eu criei essa metáfora dando o nome do projeto de Cidade do Conhecimento e ninguém entendeu nada. Estavam começando a usar email, o WWW estava surgindo, a grande febre era fazer sites. E eu dizia que as cidades teriam outro padrão de organização, a partir dessas novas tecnologias seriam cidades do conhecimento.
Ao longo dos anos fomos desenvolvendo pesquisas e projetos pilotos e logo no início, governos federal e estadual já começaram os contatos para contratar projetos piloto. E fomos conseguindo patrocínios, pois o salário de professor não dava para arcar com os pilotos. Pelo alto teor de inovação, fomos muito bem sucedidos nesse esforço de captação. Nesses 15 anos de trabalho, foram alguns milhões de dólares investidos em projetos com a União Europeia, FINEP, CNPQ, FAPESP e nesse processo as ideias vão surgindo devido ao diálogo com pessoas da engenharia, da medicina, da educação, da filosofia. São projetos que te expõem muito na mídia, pois têm parceiras com BNDES, com a Fundação Volkswagen, games na área de educação para movimentação urbana, e etc. Existe muito dinheiro rolando e sempre aquela perspectiva de como isso vai ganhar mais consistência, avançar em termos constitucionais, extrapolar a USP, interagir com empresas que é um desafio para uma universidade pública.
Em 2003, um dos pontos altos do qual participei foi à criação do Livro Verde da Sociedade da Informação no final do governo Fernando Henrique. Recebi a proposta de fazer projetos pilotos para a Presidência da República no ITI, sobre o que seria essa Internet do futuro. Fui buscar no que eu conhecia e dentro de mim e propus a invenção de um dinheiro. Faríamos um teste em algumas regiões do país, essa moeda estaria vinculada a um mini banco central local da comunidade e essa, por sua vez, aprenderia a usar a tecnologia, monitorar fluxos na região e usar essa moeda como um marcador dos processos.
A engenharia dessa moeda é que ela só serviria para transações onde estivessem envolvidas educação ou cultura. Embora quem tivesse envolvido em transações com educação acumulariam um saldo nessa moeda e num diálogo com os empresários da cidade eles também aceitariam essa moeda, gerando descontos para quem os apresentasse na padaria, na loja de roupas.
Foi um projeto muito bem sucedido, o FINEP se interessou e chegou num grande momento de visibilidade nacional e internacional e nem se falava em bit coin naquela época. Desde então, essa ideia de moeda criativa vem sendo elaborada teoricamente. Com o professor Amazonas elaboramos um protótipo de aplicativo Android para que pessoas envolvidas em reciclagem de lixo tenham créditos nessa moeda. São tecnologias por trás de um novo dinheiro. O bitcoin tem a ver com essa convergência entre finanças e TICs e o que estamos propondo com a Cidade do Conhecimento (que é qualquer cidade até a Smart City) sendo eficiente e alavancadora de civilidade, cultura, segurança, solidariedade e difundi-la, o que mexerá com a cabeça e o comportamento das pessoas. É uma espécie de revolução de valores só que por dentro.
A sociedade é quem vai ter que usar isso ou não. Como se faz o design social disso? Eu diria que o conceito de uma moeda educacional combina três vertentes que considero predominantes na Internet: a IOT, o fenômeno redes sociais e gamefication em que as interações são mais interessantes quanto mais elas te propiciarem uma experiência gratificante, lúdica, divertida, seja de consumo, de produção. Essa dimensão lúdica que até a interação mais simples tem, traz para o universo de hoje, totalmente áudio visual, o game em si, como produto ganha cada vez mais importância e a gameficação também. A junção desses três pontos fez com que criássemos na USP esse novo centro interdisciplinar para essas ideias. A IOT quando chega à rede social deve ser divertida.
Desenvolvemos com a Fundação Volkswagen um game chamado Autopólis para desenvolver educação no trânsito. É um game que usa tecnologia mais que tem a ver com um problema e é de interesse de uma empresa automobilística que as pessoas tenham mais cultura ao utilizar um veículo.
E o outro projeto que temos é um longa metragem de ficção sobre os motoboys de SP. Já está aprovado no ANCINE e estamos na fase de captação. As motos terão chips ligados a IOT, então para o "povão", só aqui em SP são mais de 400 mil motoboys e suas famílias, de baixa renda, começaram a entender o que é uma moto chipada. A narrativa áudio-visual lúdica mostrará como essa tecnologia está entrando e como ela pode ajudar a resolver problemas de segurança e mobilidade urbana.
Estamos trabalhando desde o nível de inovação tecnológica, desenvolvimento de softwares e gameficação com a Poli-USP até escrever roteiros junto com alunos de cinema, rádio e TV, sempre colocando a tecnologia dentro e nesse filme o chip é um personagem do filme.
Esses projetos envolvem alunos, empresas e a ideia do cluster está muito presente. Teremos um cluster da USP com a Universidade de Taubaté e teremos a pós-graduação em gameficação e o foco será em educação infância-adolescência para explorar.
Prof. Dr. José Sidnei Colombo Martini - Poli-USP
A IOT são coisas que se interligam e se comunicam. Nós corremos com a tecnologia para que ela não seja uma imitante, mas no final tem sempre uma pergunta, pra que? Para resolver que tipo de assunto ou situação? Como o Gilson disse aqui é para isso que vem os pilotos e os protótipos.
Começo a falar no âmbito das cidades inteligentes por dois níveis distintos do processo. O topo, que é um grande centro de controle agregando informações relativas ao sistema viário, água, energia, mais ou menos o modelo que o RJ está fazendo. Depois começaram a pegar processos urbanos de cidades e torná-los inteligentes de baixo para cima. Escolhemos há três anos a cidade universitária da USP como um protótipo de cidade inteligente.
Tive a oportunidade de ser prefeito da cidade por uns três anos na gestão passada e isso me deu a possibilidade de ver, num modelo menor, algo que eu já tinha experimentado como pessoa e profissional em outras duas oportunidades. No passado eu fui responsável pela distribuição de água para a região metropolitana de SP, na SABESP. Por conta da minha área, que são centros de distribuição e controle de processos e espaçamentos distribuídos acabei sendo responsável pela operação. Mais tarde, fiquei responsável pela transmissão de energia elétrica de todo o estado de SP, presidindo a empresa de transmissão de energia. E observei que quando os processos são organizados ao ponto de ter um centro de controle, esses centros falam entre si muito pouco. Falam somente quando tem uma grande catástrofe e a Defesa Civil convoca a todos para sentarem numa mesa e resolver uma situação atípica.
A inteligência como um todo, partindo da fisiologia do ser humano, requer uma concentração de informações num todo. A inteligência em princípio mora na cabeça, e a cabeça recebe informações, e todos os sensores são os nossos órgãos de sentido.
Daí derivou um modelo inspirado em automação que esta sendo aplicado. Para cada processo há um livro de instrumentação que deve ser acoplado ao processo, um livro de controle, um livro de coordenação e o último nível que é o corporativo. Esse é o nível do cliente e da sociedade.
Dessa maneira dividimos dentro da cidade universitária e escolhemos quinze processos entre iluminação, energia elétrica, água, estacionamento, segurança, fauna, flora e para cada um desenvolvemos um processo botton up. Para exemplificar vou pegar um caso típico, a flora. Todos sabem da importância que se dá ao meio ambiente. Toda árvore que tenha o seu caule com mais de 5 cm de diâmetro não é mais uma árvore, é um indivíduo vegetal. E se você cortar essa árvore vai responder a um crime inafiançável, mais rígido até do que se fosse feito a uma pessoa. Temos lá 22.000 árvores catalogadas e cada uma delas ganhando um prego plástico com RFID dentro, ou seja, a necessidade da identificação do indivíduo vegetal vai mudar o nosso relacionamento com as árvores.
Com a fauna, hoje quem não valoriza um pequeno animal, um cachorro. Quem mora em prédio sabe que numa reunião de condomínio quando alguém fala cachorro, acaba a reunião. E os cachorros que moram nas ruas, qual o conceito de city dog nos dias de hoje? Como na cidade universitária é um lugar que muita gente abandona cachorros, começamos a tratar esse conceito do cão publico que não é o vira-lata. O vira-lata faz isso para buscar comida, mas o nosso é um cão alimentado, tratado como um cão doméstico que tem dono mais esse dono é uma coletividade. É uma área onde nasce um novo tipo de relacionamento voltando a recompor os personagens da cena urbana pública.
Em iluminação, tínhamos um projeto para troca, pois temos 5.000 postes com luminárias convencionais antigas. Os postes velhos precisavam ser substituídos. Foi feito um projeto de iluminação usando tecnologia LED e ele se paga em poucos anos com a economia de energia elétrica porque gasta a metade do que se gasta na energia convencional e aproveitamos para que cada poste fosse um pedestal, uma ilha de comunicação para através dessa rede de postes interligados por sistemas sem fio ou fibra óptica e pudesse ter duas luminárias, uma para os pedestres, voltada para a calçada e outra para os motoristas, voltada para a rua.
O projeto foi licitado em face do uso atual e está em fase final de implantação onde cada luminária tem um endereço de IP, se comunicando com as luminárias ao redor dela. E esse sistema se interliga a certa luminária com fibra óptica que envia as informações para o centro de controle. E daí desenvolveu-se um novo conceito que é o despacho de luz. Existe o despacho de energia elétrica, de água onde através de um centro de controle se comanda o quanto de água, energia se manda para cada lado para atender as necessidades da sociedade. A necessidade lumino-técnica numa madrugada, numa avenida sem movimento é mínima. No entanto ela pode crescer no momento que uma pessoa vá transitar.
Essa inteligência de colocar luz onde é necessário, numa área pública, inspirou esse processo onde então cada uma das 7.000 luminárias lá instaladas, conversem entre si.
Com relação à segurança, o projeto foi acelerado por conta da vida de um dos nossos estudantes que se perdeu devido a um assalto dentro da universidade.
Para refletirmos, quero dizer que falamos em cidades inteligentes. Ela é composta de coisas inteligentes e de pessoas que possam conviver com esse tipo de inteligência. Até pouco tempo não imaginávamos que um gari conseguisse dominar um smartphone da maneira que ele consegue hoje. Era uma barreira muito grande. No entanto, semi-alfabetizados eles usam caixas eletrônicos, smartphones de uma maneira até melhor dos que o que tem uma condição melhor para isso.
A sociedade tem um volume de problemas a resolver que demandam soluções que a Internet das Coisas oferece.
Durante algum tempo fui responsável por um conjunto de helicópteros e aviões e o problema de colisão entre eles foi resolvido com um sistema de detecção de aproximação, só ainda não o temos para automóveis. Nas nossas estradas ainda não temos um sistema de auxílio ao motorista na mesma intensidade que o auxílio à fiscalização da velocidade, por exemplo. O carro quando entrasse em uma estrada deveria ser uma coisa, conectada a Internet e que pudesse trazer segurança em volume maior do que hoje é trazida.
Talvez, o nosso grande exercício não seja adivinhar as grandes tecnologias que vem pela frente ou que a gente possa promover por si só. E sim compreender quais as ansiedades, as felicidades que estão mais próximas do alcance de nossas mãos de tal forma que com a tecnologia já existente e com demandas novas, que derivem de necessidades a serem satisfeitas. Isso precisa ter uma organização, e não só se equilibrar no ponto de vista tecnológico, mas também a um suporte financeiro que deve ser respeitado para que seja sustentável.
Juliano C. DallAntonia - Coordenador-Geral de TI - CTI
Quero deixar um relato já que estamos falando nessa linha de cidades inteligentes. O CTI participa de um grupo de veículos híbridos, elétricos e autônomos. Na revista VEJA, tivemos um artigo falando sobre as três universidades que tem projetos no Brasil com veículo autônomo.
No dia 16 de maio, faremos um evento no Mauá, trazendo o professor Denis Wolf e vamos viabilizar uma demonstração desse veículo aqui em SP. Esse veículo foi pensado para rodar junto às Smart City. Qualquer solução importada não roda aqui no Brasil, tudo tem que ser pensado no modo como a gente vive, na nossa infraestrutura.
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