Na semana passada, Tadao Takahashi, coordenador da RNP, finalmente esclareceu, para a comunidade científica do Rio de Janeiro, alguns pontos nebulosos sobre a Internet comercial. E aproveitou para mostrar uma proposta de tabela de tarifas para os provedores de acesso (veja abaixo). Takahashi disse que na semana que vem os nove membros (ainda não divulgados) do Comitê Gestor - órgão que irá coordenar as atividades da Internet Brasil - deverão se reunir para decidir quanto cada provedor de acesso terá que pagar para repassar os custos. Até 3 de julho, a tabela oficial já deverá estar pronta.
A estratégia da RNP, nesse ínterim, será calcada na montagem de espinhas dorsais nacionais e regionais, no incentivo ao surgimento de múltiplos provedores de serviços, na definição clara do papel das empresas concessionárias de serviço público de telecomunicações e na engenharia tarifária detalhada. Takahashi explicou que tanto a Embratel quanto as empresas do sistema Telebras poderão oferecer serviços de conectividade IP para provedores ou grandes instituições, mas não acesso. "A exemplo do que acontece em alguns países, as teles podem criar subsidiárias para prover serviços".
O coordenador da RNP disse que, em consulta às empresas da Telebrás, chegou à conclusão de que há excesso de oferta potencial nas regiões mais desenvolvidas e um certo desinteresse no Nordeste. O que indica que, em setembro, quando começar a operação da rede, o tráfego mais intenso ficará concentrado no Distrito Federal, onde a RNP vai montar uma espinha dorsal. Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Para dar um empurrão na cultura interneteira, a RNP deve criar ações indutoras, como o treinamento por parte do CNPq de 200 técnicos em um ano, criação de free nets, programas de capacitação avançada e em malhas de alta velocidade. A Espigão Net (SP), a Metrô Net (RJ), a BH Net (MG) e a Gov Net (em Brasília) são exemplos.
ENGARRAFAMENTO
Quando perguntado, pelo diretor da Coppe, Luís Pinguelli Rosa, acerca do provável engarrafamento na rede, que atrapalharia os trabalhos dos pesquisadores. Takahashi disse que esta era uma pergunta essencial. "O engarrafamento é bom. Não há motivos para preocupação. Nós compramos equipamentos modulares que permitem acréscimos de n links de 2 megabits, tantos quantos forem necessários, que foram dimensionados em relação á Sprint", explicou. Além disso, o coordenador da RNP explicou que os usuários, tanto acadêmicos quanto comerciais serão cobaias no inicio da implantação da rede. Só se saberá se houver problemas por meio de aferições.
Essa explicação não agradou aos pesquisadores. Takahashi acrescentou que de qualquer forma "o congestionamento, se houver, se dará primeiro na Unha comercial, só depois chegará á acadêmica". Para evitar que o estrangulamento chegue á rede acadêmica, foram instalados roteadores, cuja missão será desviar o tráfego, caso o sistema fique sobrecarregado. Para se ter uma melhor idéia do comportamento da rede, serão necessários de dois a três meses de aferição. "Afinal, a engenharia é complicada, realizada na base da tentativa e do erro", completou.
A desconfiança da comunidade acadêmica continuou. Quando Moisés Nussenzveig, professor titular de física da UFRJ, perguntou se não havia risco de uma catástrofe - já que a National Science Foundation levou cerca de dez anos para implantar a Internet nos Estados Unidos e o Brasil tentava em alguns meses - Takahashi disse que todas as medidas cabíveis já tinham sido tomadas para evitar uma "hecatombe".
Para alavancar a infra-estrutura da rede, a RNP vem fazendo parcerias com várias empresas de informática para prover equipamentos, programas e serviços, como IBM, Philips, Microsoft, Sun e Equitel. A RNP deverá disponibilizar o Guia do Empreendedor, que detalhará o equipamento e programas necessários para utilizar a rede.
Alguns pesquisadores reclamaram da falta de comunicação entre a RNP e a comunidade científica, Takahashi rebateu dizendo que "política de governo não se faz através de megaf ne ou nas páginas de jornais. Reuniões abertas não dão certo". O coordenador da RNP explicou que o Comitê Gestor deverá criar subcomissões temáticas para assuntos específicos, como a segurança na Internet, por exemplo. No final da palestra, houve manifestações de repúdio ao caráter não democrático da implantação da Internet por parte da RNP, que foi considerada pelos pesquisadores uma "rede virtual".
UNIVERSIDADE NA 'ONDA' DO MOUSE
Curso Interativo tem aula virtual
Um sistema indédito criado pela Unicamp poderá tornar, em alguns anos, o ato de ir à escola ob soleto. O usuário poderá receber suas lições, certificados e fazer as provas sem sair de casa. É o primeiro curso eletrônico interativo e auto-instrutivo, com aulas transmitidas pela rede Internet.
O protótipo do curso foi desenvolvido pelo Departamento de Engenharia de Computação e Automação Industrial da Unicamp, em parceria com a Universidade do Novo México, dos EUA, e com o Ibero-American Science, Technology and Education Consortium - consórcio de vários países para estimulo á educação na área científico-tecnológica. Com o sistema, os 30 milhões de usuários da Internet, distribuídos por 80 países em todo o mundo, poderão freqüentar as mesmas aulas, nos mesmos horários.
As lições são enviadas peta rede, bem como as provas e avaliações. As respostas seguem o caminho inverso. Os alunos reprovados serão orientados, via computador, a voltar ás lições - gravadas em disquetes - enquanto os estudantes que forem aprovados receberão seu desempenho e o certificado de conclusão via impressora.
O curso, que utiliza o programa Khoros, levou um ano para ser desenvolvido e atende os interessados em Processamento de Imagem Digital, uma das disciplinas oferecidas pela Faculdade de Engenharia Elétrica da Unicamp. "É o único que oferece na Internet um ambiente de programação visual com os recursos necessários à proposta pedagógica das aulas", explica o professor Roberto de Alencar Lotufo, um dos autores do projeto.
O protótipo do curso, dividido em sete temas e 66 lições, está disponível na Internet por meio da World Wide Web (WWW). Para tornar-se aluno dessa escola eletrônica o micro deve ser equipado com o sistema operacional Unix e a interface gráfica X-Windows.
Lotufo acredita que no futuro, a proposta é disseminar a idéia para outros setores universitários. "A Universidade como e hoje continua existindo, mas haverá também numa versão eletrônica. O aluno distante poderá cursá-la sem sair de casa", prevê.
Notícia
Jornal do Brasil