Professor Renato Dias Baptista, docente de Administração de Recursos Humanos I e II na Unesp de Tupã, apresentou resultados preliminares de sua pesquisa no XXIX Congreso Latinoamericano de Sociología, organizado pela Asociación Latinoamericana de Sociología (Alas) e que este ano ocorreu nas universidades do Chile. A pesquisa em questão se intitula Internacionalização e cultura: um estudo sobre as empresas brasileiras na Bolívia, e é apoiada pela Fundunesp e Fapesp, cujas bolsistas são as discentes do quarto termo Daiane Bueno Lyra e Bruna Ferrarezi de Oliveira Brito.
Como fonte de pesquisa, Baptista adotou unidades da Petrobrás e Votorantim que estão no país em estudo. Segundo ele, as empresas têm tido desafios no que tange à complexidade da cultura local, já que preza pela incorporação de seus valores em seus processos de trabalho. “A Bolívia apresenta certa fragilidade institucional, que muitas vezes tem sido um fator recorrente de temeridade de empresários instalarem plantas produtivas naquele país. Não há como você integrar a questão da cultura com as questões políticas do atual governo”, reiterou.
Sendo assim, há um conflito de interesses que culminam num imbróglio que, segundo o pesquisador, envolve diversas esferas, como a econômica e cultural. “É preciso explorar seus recursos naturais para ter dinheiro e manter os investimentos em esferas sociais, ao mesmo tempo tem que negociar constantemente com determinadas etnias para que deixem utilizar seu espaço, até então ocupados por elas”, explicou Baptista. São mais de 25 presentes na Bolívia, sendo aimarás e quíchuas as predominantes.
Fora isso, ideais políticos também comprometem o desempenho do desenvolvimento do país. “Num momento, critica-se o capitalismo, e em outra hora adere-se a ele, tendo que fazer investimentos significativos para que as promessas de campanha sejam efetivadas. Esses investimentos demandam recursos financeiros que vêm dessas grandes empresas”, ressaltou.
Em seu estudo de caso, Baptista revelou que, no caso dos Recursos Humanos, a atuação das empresas tem sido interessante. “Nesse aspecto, tem-se feito um modelo de gestão bastante adequado para entender essa complexidade local e integrar na sua política de RH”, disse. Contudo, quando a questão se trata de recursos naturais – principalmente no caso da Petrobrás –, ela fica mais complexa. “Neste caso, envolve-se decisões macropolíticas e que demandam negociações constantes entre as políticas brasileiras e bolivianas, até porque a ela é uma empresa estatal e que está envolvida em decisões públicas nessas interfaces”, relatou.
Outro ponto que o docente ressaltou em seu trabalho se refere à mão-de-obra nas empresas estudadas: na Petrobrás, apenas 5% dos colaboradores são estrangeiros, sendo o restante bolivianos. No caso da Votorantim, quase todos são do próprio país. Isso se deve à preocupação das organizações em entender a cultura local. “Um dos grandes desafios de fazer investimentos em culturas é investir na própria mão-de-obra local, que gera desenvolvimento ao país. Se só levar estrangeiros para trabalhar naquela unidade, e ela deixa de existir, vou levar esse conhecimento embora. Neste caso, há um investimento nas próprias pessoas, na busca de recursos humanos destas empresas”, disse.
No caso de um boliviano sair da Votorantim e ingressar numa empresa boliviana, ele se adaptará de maneira eficiente? Baptista ressaltou: “As empresas brasileiras estão se destacando lá fora. Elas possuem uma característica global, ou seja, levam em conta a realidade local, e dela é possível torná-la uma empresa competitiva. É um grande desafio, e essas empresas tem feito bem esse papel, principalmente aqui no continente”, explicou.
Enquanto desenvolve sua pesquisa, Baptista ressaltou o que quer atingir com ela: “O objetivo principal é identificar os desafios, as dificuldades, as resistências e o poder de gestão dessas empresas, do que elas têm a ensinar a outras empresas, que queiram instalar fabricas produtivas na região”, finalizou o docente.
Autor: Daniel Kawasaki - Orientação: Profa. Dra. Cristiane Hengler