Nos próximos dois anos a Universidade Federal do Paraná (UFPR) investirá R$ 5 milhões, de recursos próprios, na implantação do que sua direção classifica como um dos mais avançados projetos de modernização tecnológica realizados em um centro de ensino do País - a interligação dos seus quinze campi por uma rede de fibra óptica ligada à Internet.
Esse investimento, na realidade, atingirá R$ 10 milhões, informa o reitor da UFPR, professor José Henrique de Faria, se forem adicionados outros R$ 5 milhões já aplicados nos últimos cinco anos, quando a universidade começou a investir no processo de informatização de cada um dos seus departamentos. A idéia básica era informatizar cada setor, gradativa-mente, para interligá-los, ao final do processo. Por isso, o ritmo tinha mesmo de ser lento e gradual.
Em termos práticos, a interligação dos campi por uma rede de fibra óptica permitirá que os 1.800 professores e 22 mil alunos da UFPR façam consultas simples sobre a localização de alguma obra entre as dezesseis bibliotecas ou acompanhar pesquisas entre as diversas faculdades. Os catedráticos entrarão em contato direto com os maiores especialistas das universidades americanas ou européias, via Internet. Um estudante de Medicina, ou de qualquer outro curso, além do acesso direto ao mundo exterior, poderá seguir as diversas fases de um trabalho realizado por seus colegas da Biologia. O calouro de Direito saberá que projetos de lei tramitam no Congresso Nacional, bastando para isso se conectar ao Prodasen, que é o centro de processamento de dados do Senado Federal, em Brasília.
Pela rede interna, os alunos tomarão conhecimento, ainda, do custo de seu curso para o contribuinte brasileiro e, se estiverem interessados, poderão fiscalizar o orçamento da universidade. Tudo isso pagando o preço de uma chamada telefônica urbana.
Aliás, o próprio reitor informa que o orçamento deste ano é da ordem de R$ 287 milhões, o que significa que a UFPR encontra-se em terceiro lugar no ranking das dez maiores universidades do País, segundo critério que leva em conta os repasses do Ministério da Educação. Apesar da posição privilegiada, as contas não têm folgas. Cerca de R$ 160 milhões (79% do total) com o pagamento do pessoal, R$ 20 milhões com custeio e R$ 20 milhões com programas em andamento. O Hospital das Clínicas, um dos mais importantes centros cardiológicos do Sul, receberá R$ 12 milhões. O Sistema Único de Saúde (SUS) será responsável por recursos da ordem de R$ 50 milhões e alguns convênios já firmados contribuirão com outros R$ 25 milhões.
"Vivemos um processo de renovação em todos os níveis", afirma o reitor.
O processo de informatização da Universidade do Paraná, entretanto, não pretende ser um objetivo em si mesmo, mas um meio para facilitar o processo de interligação da economia paranaense, via instalação de um Centro Paranaense de Ciência e Tecnologia, um projeto da Fundação da Universidade Federal para o Desenvolvimento da Ciência, da Tecnologia e da Cultura - Funpar, que é uma empresa privada criada pela reitoria da universidade, com o apoio de instituições públicas e privadas, como a Federação das Indústrias do Paraná (FIEP) e o Banco Regional de Desenvolvimento Econômico (BRDE).
Segundo explica o diretor de Programas da Funpar, engenheiro e economista Rogério Roedel Moro, a tão propalada integração universidade-empresa deverá ser uma realidade no Paraná. Por uma conjunção feliz, o campus do Centro Politécnico da UFPR, que sedia os cursos na área de Ciências Exatas, será vizinho da nova sede da Federação da Indústria do Paraná (FIEP) a da Pontifícia Universidade Católica (PUC), local para onde migraram diversos PhD recém-aposentados da UFPR, preocupados com as mudanças na atual lei da aposentadoria. Esses professores voltarão, assim, às pesquisas aplicadas.
Essa integração física de terrenos não poderia ser mais conveniente, afirma ainda Rogério Moro, que trabalha no projeto com o apoio integral do recém-eleito presidente da FIEP, ex-senador e vice-prefeito de Curitiba, empresário José Carlos Gomes de Carvalho, mais conhecido como Carvalhinho, que pretende inaugurar a nova sede da FIEP em outubro, com a presença do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Carvalhinho ultima a sua proposta de trabalho, para o próximo biênio, destinada a, segundo ele "revolucionar as bases da indústria paranaense".
No Centro Politécnico e na área da FIEP, acadêmicos, empresários e governos estadual e municipal trabalharão em conjunto em projetos científicos e tecnológicos destinados a desenvolver o setor industrial paranaense, ainda carente de indústrias de transformação. O próprio governador, Jaime Lerner, em seus discursos, costuma destacar a necessidade de o Paraná deixar de exportar produtos primários para outros estados e importar bens de consumo industrializados. A meta é ampliar a base industrial do estado, com idéias simples e arrojadas, que envolvam universidades e empresas.
Os corpos docentes e discentes das duas universidades seriam estimulados a investir em pesquisas aplicadas, em consórcio com as empresas paranaenses dos mais diferentes segmentos industriais, enquanto Senai e Sesi teriam instalações, no local, para o ensino profissionalizante.
A idéia já saiu da esfera de projeto. A Funpar abriu um escritório de Relações Externas em pleno centro financeiro de Curitiba, que já presta serviços para a UFPR. Livre dos entraves burocráticos do serviço público e constituído por cinco técnicos especializados, o escritório já costura contatos com o governo, o empresariado e busca financiamentos externos para viabilizar este e outros projetos da UFPR, segundo o ex-superintendente do BNDES, Olávio Schoenau, responsável pela captação de recursos.
Parceria com as empresas para renovar os prédios
Sérgio Garschagen - de Curitiba
A UFPR investe para ser a mais moderna universidade brasileira, mas também quer ser a mais bonita. A reitoria e o centro politécnico assinaram convênio com empresas privadas - a grande maioria pertencente ou dirigida por ex-alunos da universidade - que vão recuperar inteiramente as oitenta salas de aula dos seis blocos de ensino do centro.
Cada empresa deverá investir em média R$ 4 mil por sala, e o trabalho será previsto para ter início no próximo período de férias, após a realização do vestibular. O professor Ivo Brand, diretor do Setor de Tecnologia, localizado no Centro Politécnico, explicou que a idéia é oriunda do trote dos calouros do ano passado, em que a violência foi substituída pelo trabalho dos calouros na limpeza de carteiras, quadros e pintura das salas de aula.
Empresas como as construtoras Cidadela, Guimarães Castro, Mercês, o Instituto de Engenharia do Paraná e a Companhia de Eletricidade do Paraná (COPEL) já investiram na recuperação de salas de aula. No próximo verão, vão engajar-se no processo a Encol e as construtoras locais Bergman e Moro.
Notícia
Gazeta Mercantil