O “Workshop at the Interface between Physics and Biology”, realizado no dia 15 de abril na FAPESP, teve o objetivo de promover a interação de biólogos e físicos interessados em desvendar processos biológicos complexos, como o enovelamento de proteínas, a comunicação celular e os processos de diferenciação de tecidos e de surgimento de novas espécies.
“A natureza não está compartimentada em disciplinas. Essa divisão foi inventada pelo homem. O trabalho interdisciplinar, portanto, é necessário para entender verdadeiramente a natureza”, destacou Walter Colli, professor da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Coordenação Adjunta de Ciências da Vida da FAPESP, durante a abertura do evento.
O workshop reuniu nomes como José Nelson Onuchic (Rice University, Estados Unidos), Mervyn Miles (University of Bristol, Reino Unido) e Carlos Lenz Cesar (Universidade Estadual de Campinas/Unicamp), entre outros.
O evento foi organizado pelo professor Hernandes Faustino de Carvalho, do Instituto de Biologia da Unicamp, e pela professora Célia Garcia, do Instituto de Biociências da USP.
“Espero que o workshop ajude a descobrir meios para tornar a aprendizado de ciência mais integrado no ensino fundamental e médio e também ajude a divulgar conceitos que surgem dessas áreas emergentes da interface entre a Física e a Biologia, como biologia de sistemas e biologia sintética, para a ciência em geral”, disse Carvalho, na abertura do evento. “Além disso, espero que ele auxilie na organização de grupos para a obtenção de financiamentos de grande porte, não vislumbrados nos mecanismos usuais de financiamento”, acrescentou.
De acordo com Carvalho, uma fração significativa das Ciências Biológicas no Brasil está ainda muito restrita à descrição de fenômenos e a abordagens associativas. A aproximação com a Física poderia acrescentar abordagens quantitativas e mecanísticas à pesquisa nas ciências biológicas. “A busca pelos mecanismos por trás dos processos biológicos é algo a ser buscado e os físicos têm muito a nos ensinar”, disse.
“Quando conseguimos dissecar o mecanismo de um processo biológico por completo, nossa contribuição para a ciência torna-se muito mais relevante. Estimular essa interdisciplinaridade pode aumentar o impacto da ciência brasileira”, avaliou Garcia.
O evento contou com conferências e apresentações curtas. Onuchic, brasileiro radicado nos Estados Unidos, explorou vários aspectos correlativos entre avanços ocorridos na história da Física com o que se experimenta hoje na Biologia.
O pesquisador relacionou vários fenômenos recentes oriundos da abordagem sistêmica de alguns modelos biológicos, bem como as descobertas resultantes, particularmente nos mecanismos que levam à tomada de decisões pelas células, baseadas na existência de sensores para diversos fatores ambientais (no caso dos procariotos) e de sinalização intercelular (no caso de células de eucariotos).
Outro palestrante do workshop, Marcus Aguiar, professor da Unicamp, destacou a busca por modelos que expliquem a formação de novas espécies na presença de barreiras geográficas que configuram extensões contínuas – diferente do isolamento geográfico absoluto, tão presente no trabalho de Darwin.
Os professores Carlos Lenz Cesar e Marco Aurélio Lima, também da Unicamp, adotaram abordagens mais amplas. O primeiro explorou várias possibilidades surgidas da Biologia com os avanços tecnológicos que contribuem não somente para o avanço do conhecimento, mas também para a manipulação da informação biológica e dos organismos, na busca pela solução de questões relevantes em áreas como bioenergia e medicina reparativa.
Já Lima desenvolveu uma análise caracterizando a produção científica brasileira e as barreiras a serem eliminadas para se avançar a uma posição de liderança científica, em especial na biologia sintética, mas com implicações claras em uma questão tão abrangente como a produção de biocombustíveis.
As apresentações individuais podem ser acessadas em http://www.fapesp.br/8507.
Agência FAPESP