Um dos alimentos mais populares à mesa dos brasileiros ganhou atenção de pesquisadores, em Campinas (SP), em virtude da crise hídrica que afeta cidades do estado de São Paulo. Com a escassez de água e risco de reflexos na produção de produtos agrícolas, o Instituto Agrônomico (IAC) desenvolve linhagens do fejião carioca que sejam mais resistentes durante o período de seca e possam gerar economia superior a 30% do líquido na fase de cultivo.
O diretor do Centro de Grãos e Fibras, Alisson Fernando Chiorato, explicou que os estudos começaram em 2009 e a redução da demanda por água, na produção, ocorre porque o ciclo de desenvolvimento do grão é acelerado, e as plantas têm raízes mais "agressivas" que permitem a absorção de nutrientes e água das camadas profundas do solo. Para obter opções mais resistentes à falta de chuvas, o grupo de especialistas usou materiais que integram o banco de germoplasma (conserva o material genético) disponíveis no instituto e importou linhagens do Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat), na Colômbia. As variedades naturais mais resistentes foram obtidas a partir do cruzamento entre elas.
"As visitas ao Ciat foram muito importantes. Desde 2005 eles já fazem um programa de tolerância à seca, onde repassam as sementes aos países africanos, onde não há programas para melhoramentos", falou. Segundo o pesquisador, o IAC já colocou no mercado a variedade "Imperador", que tem ciclo de 75 dias e mantém qualidades do produto convencional que precisa de 15 dias a mais para o desenvolvimento.
"O feijão carioca corresponde a 85% do mercado nacional. Aqui os consumidores apreciam grãos cheios, casca fina e clara e caldo espesso", explicou o engenheiro agrônomo ao mencionar que 28 empresas espalhadas pelo Brasil já trabalham com a variedade desde meados de 2012. A produção, segundo ele, já representa 15% do mercado e deve saltar para ao menos 20% no próximo ano. "Ela está começando a ser conhecida. Também é preciso considerar que há outras linhas importantes que se destacam no país", avaliou Chiorato.
Busca por melhorias
Segundo o pesquisador, atualmente 76 linhagens do grão com potencial de resistência à escassez hídrica são avaliadas por pesquisadores do IAC. A previsão é de que, em cinco anos, novas variedades sejam colocadas nas prateleiras dos supermercados. "O desafio é conseguir redução da demanda de água, o que aumenta a produtividade para o agricultor, e manter as qualidades", frisou. Segundo ele, testes já indicaram a capacidade de desenvolver uma variedade com redução de até 45% na utilização de água, entretanto, a qualidade obtida ficou abaixo dos padrões exigidos. "O objetivo é aprimorar o trabalho", frisou o especialista.
Expectativa de economia
O engenheiro disse que a possibilidade de reduzir a demanda de água das plantas faz com que os agricultores reduzam em até 80% o número de vezes em que precisam acionar o sistema de irrigação. Contudo, ele disse que ainda não há reflexos nos preços que chegam aos consumidores finais. "Existe uma cadeia e, a princípio, é uma atividade que não vai chegar a interferir no preço. Ele é mais voltado na parte de oferta e demanda. Não são pesquisas que vão impactar diretamente". Durante os estudos, os especialistas do IAC também fizeram testes para melhorar a resistência da variedade "Imperador" a fungos.
Como funciona?
De acordo com Chiorato, o trabalho para verificar a resistência da planta à escassez hídrica é avaliado principalmente no período vegetativo da planta, que antecede ao florescimento. "Você semeia, é preciso água para germinar e estabelecer. Depois cortamos e a planta fica nesse estresse hídrico. Nossa seleção se dá em pegar as variedades que se sobressaem e levá-las ao campo, na sequência, para avaliações", explicou o engenheiro. Ele ressaltou que não há mudanças durante o preparo do feijão pelos consumidores. "Não pode mudar", frisou.
Durante os estudos, o IAC recebeu investimento de R$ 700 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para a compra de equipamentos usados nas pesquisas. Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a estimativa de produção de feijão em 2014 é de 3,4 milhões de toneladas, aumento de 14,8% em relação ao ano anterior. "A princípio, a estiagem ainda não prejudicou este mercado de feijão, porque ele ainda está bem saturado. Os estados de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Bahia produziram muito e abasteceram o sistema. Se houver prejuízo, a gente só vai saber lá para fevereiro", explicou Chiorato.
Do G1 Campinas e Região