Pesquisadores do Instituto Butantan trabalham em uma nova vacina para a Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. De acordo com nota publicada pelo Governo do Estado nesta segunda-feira (4), a iniciativa visa produzir uma solução acelular, que estimula a resposta imune do organismo por meio da injeção de membranas orgânicas com proteínas da superfície do vírus.
A vacina é inspirada em um mecanismo observado em certas bactérias para ludibriar o sistema imunológico. Elas liberam vesículas que atraem a ação de anticorpos e outras células relacionadas a defesa do organismo. Essas membranas servem como iscas para ocupar o sistema imune enquanto a bactéria fica livre para se multiplicar.
Apesar de configurarem uma "distração", as vesículas estimulam a memória imunológica do organismo. Os cientistas do Butantan pretendem produzir estruturas semelhantes em laboratório, mas com proteínas do novo coronavírus acopladas a elas. A expectativa é que a vacina possa induzir o corpo a criar mecanismos de defesa contra as atividades específicas dessas proteínas virais.
"A nova técnica permite que as formulações contenham uma grande quantidade de um ou mais antígenos do vírus em uma plataforma fortemente adjuvante, induzindo uma resposta imune mais pronunciada", explica Luciana Cezar Cerqueira Leite, pesquisadora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto Butantan, à Agência Fapesp.
Na prática, as proteínas recombinantes do novo coronavírus são utilizadas para estimular a produção de anticorpos específicos para o antígeno, ao passo que as membrana externas (também conhecidas como OMVs) servem como suporte para "apresentar" as proteínas ao corpo, assim como para reforçar a reação imunológica.
"As vesículas de membrana externa podem modular a resposta imunológica, em geral, aumentando e melhorando a proteção. No nosso caso, usaremos as OMVs para uma apresentação do antígeno com forte poder adjuvante embutido, que garante uma resposta melhor", pontua Cerqueira Leite.