O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) deu início essa semana ao seqüenciamento genético do café e espera concluir o mapeamento até julho, para então começar a trabalhar na identificação dos genes que expressam as características mais importantes da planta. O IAC vai coordenar o Projeto Genoma do Café em São Paulo, resultado de uma parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Consórcio de Pesquisa Cafeeira do Brasil e que vai reunir uma rede de laboratórios no projeto.
O coordenador do projeto, o engenheiro agrônomo Carlos Colombo do Centro de Genética e Biologia Molecular do IAC, informa que o seqüenciamento irá envolver 20 laboratórios paulistas e o Centro Nacional de Recursos enéticos (Cenargen). A proposta é obter 200 mil seqüências genéticas do café, sendo que os laboratórios paulistas se encarregaram de trabalhar com metade das seqüências previstas. Desse total, Colombo acredita que será possível identificar cerca de 30 mil genes.
Tecidos de flor, fruto, caule, folha e raiz, em diversos estágios terão suas seqüências genéticas definidas. Para isso, será utilizada uma técnica chamada de Etiquetas de Seqüências Expressas (EST), que vem da tradução de Expressed Sequence Tags. É uma tecnologia de seqüênciamento genético de plantas rápido e incompleto, que identifica as porções dos genes que codificam proteínas, os chamados genes funcionais.
"Queremos identificar genes que dão a característica de resistência à planta, que regula o tempo de maturação do fruto, que dê qualidade a bebida e muitos outros", informa Colombo.
O café que terá seu genoma seqüenciado é o arábica tipo Novo Mundo, que foi desenvolvido no IAC e hoje representa mais de 70% do café plantado no Brasil. O IAC, que nasceu em 1887 para pesquisar café, espalhou pelo País a maior parte das plantas. Calcula-se que 95% dos 5,5 bilhões de cafeeiros cultivados no Brasil foram gerados pelo programa de Melhoramentos do Cafeeiro desenvolvido pelo IAC.
Entre os 20 laboratórios paulistas que participarão do Projeto Genoma do Café, estão laboratórios da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade de São Paulo (USP) e dois do IAC (o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Recursos Genéticos Vegetais e o Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Citros).
O projeto receberá, em sua primeira fase, investimento de R$ 1,9 milhão, que serão custeados em 50% pelo Consórcio, outros 25% pela Fapesp e os 25% restantes pela Cenargen. O Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, que reúne 40 instituições de 12 estados brasileiros, é financiado pelo Conselho de Desenvolvimento da Política Cafeeira (CDPC), que congrega representantes do setor e o Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
PESQUISA VISA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE
O Projeto Genoma do Café é um dos projetos de seqüenciamento de genomas de plantas e microrganismos do programa Agronomical & Environmental Genomes (AEG), uma linha de investigação da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp). Integram esse programa, por exemplo, o seqüenciamento da Xylella fastidiosa da uva, da Leisfsonia xyli (responsável pelo raquitismo em cana-de-açúcar), o Projeto Eucaliptus (que seqüenciou o genoma do eucalipto), entre outros.
No caso do café, observa o pesquisador Carlos Colombo, a importância econômica em conhecer tão intimamente uma planta como o café, é imensa. "Estamos interessados em identificar os genes relacionados à qualidade da bebida", afirma.
Do conhecimento dos genes, será possível saber qual é o relacionado, por exemplo, à maturação do fruto. O ciclo de flor a fruto leva em torno de seis meses. "Se pudermos descobrir qual o gene que regula a maturação e interferir para que o tempo de maturação seja reduzido, os ganhos econômicos serão muito grandes", diz.
Há interesse da pesquisa científica em conhecer os genes ligados à resistência da planta a determinadas pragas, à produção, ao florescimento. O primeiro passo do projeto é conhecer os genes e depois saber a quais característica eles estão relacionados. Essa será a segunda fase do projeto, quando os pesquisadores trabalharão para identificar a função de cada gene expresso. (MTC)
Notícia
Correio Popular (Campinas, SP)