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Correio da Bahia online

Instalação mutável (1 notícias)

Publicado em 03 de abril de 2007

Silvia Titotto inaugura exposição individual, amanhã, na Galeria Acbeu Graduada em arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo, atualmente em fase de conclusão do curso de mestrado em design e arquitetura, também através da FAU-USP, Silvia Titotto estará inaugurando exposição individual, amanhã, a partir das 19h, na Galeria Acbeu.

Nesta sua primeira mostra individual em terras baianas, que ficará em cartaz até o dia 20 deste mês, a artista estará mostrando ao público uma instalação explorando tensoestruturas, realizada com fios de silicone e cristais coloridos.

Apesar da pouca idade, Silvia possui um extenso currículo, onde estão registrados dezenas de trabalhos publicados, uma substancial série de atividade didática, participações em eventos e congressos nacionais e internacionais, além de inúmeras exposições individuais e coletivas, realizadas no Brasil e no exterior.

FOLHA - Como explica essa instalação que você vai mostrar na Galeria Acbeu? SILVIA TITOTTO - A instalação site-specific foi concebida especialmente para essa mostra na Galeria Acbeu. Intitula-se Big bang, por se tratar de uma profusão de cristais coloridos em fios de silicone tracionados que saem de um único ponto do chão, espalhando-se pela sala toda. E a partir de questionamentos (surpresa) que incitarão o público a alterar a posição dos fios, conseqüentemente, toda uma nova configuração espacial do meu trabalho será recriada pelo público participante da experiência a cada novo dia. É um trabalho altamente mutável, e talvez polêmico. F - As instalações que você realiza têm um projeto anterior fixo ou elas são montadas de acordo com o espaço que vão ocupar?

ST - Digamos que elas tenham um anteprojeto. Ou seja, eu analiso o espaço: físico, estrutural, cultural e social de um dado lugar. Então concebo o projeto parcialmente, decidindo em que linha de trabalho seguirei. Daí faço croquis e planejo os materiais a serem utilizados etc. Mas, somente quando chego no local e sinto o ambiente, é que tenho certeza absoluta de como meu trabalho se materializará.

F - Seu trabalho tem um conteúdo bastante intelectualizado. O público, em geral, consegue perceber a intenção da sua poética?

ST - Quando o curador Agnaldo Farias (meu ex-professor orientador na FAU-USP) disse que "arte é mesmo hermética, sempre foi e será", fiquei meio chocada na época da faculdade, mas hoje em dia, tenho de admitir que muitas pesquisas de artistas estão aí para ser discutidas, provocar polêmica e ser motivadoras de emoção, mas nem sempre estão ao alcance de todos os visitantes. Meu objetivo não é conseguir que todos os visitantes (ou participantes, no meu caso) tenham compreendido todos os passos de minha pesquisa. Eu quero mais é que as pessoas vivam aquela experiência que eu proporciono intensamente.

F — A arte contemporânea exige do artista um conteúdo intelectual muito grande. O que andam expondo por ai nos salões e bienais são coisas que realmente têm importância?

ST - Eu acho que quase tudo tem algum aspecto artístico, dado que a arte tem um papel de expressão própria do homem. O que talvez confunda o público é que, como em toda profissão e atividade, existe muita coisa boa e muita coisa sem relevância ou qualidade sendo exposta por aí.

F - Como você definiria o que é uma instalação?

ST - Instalação é termo criado ao longo dos anos 60 na esteira dos movimentos ligados ao minimalismo e que serve para designar obras que, ao contrário de desenhos, pinturas e esculturas tradicionais, não se pode simplesmente arranjar num espaço dado sem que sua presença física o altere significativamente. As instalações freqüentemente são modificadas, quando não projetadas, em função do espaço destinado a recebê-las.

F - O público pode interagir com a sua obra ou ela é somente para ser apreciada? ST - O público não somente deve interagir, como discuto a autoria coletiva. O público, para mim, é participante e artista, porque nenhuma exposição minha termina como começa, ao longo do tempo o espaço se modifica por intervenções dos usuários.

F - Por que o interesse em mostrar o seu trabalho na Bahia?

ST - Sou simplesmente apaixonada pelo Nordeste todo. Sempre fui muitíssimo bem recebida em todos os estados e países pelos quais passei, mas o Nordeste é realmente especial para mim. Talvez porque eu seja tão interessada em cultura e me acho muito aberta também para iniciar conversas com desconhecidos. Por exemplo, adoro puxar papo com quem passar pela frente. Enfim, gosto de interagir com as pessoas. Em São Paulo, acho as pessoas mais sérias e em alguns casos, blasés. F - Você comercializa o seu trabalho de que forma? ST - Isso é complicado. Você compraria um trabalho efêmero? As pessoas em geral ainda têm, muitas vezes, aquele conceito de comprar hoje para valorizar amanhã ou deixar de herança, sei lá. Instalação do tipo site-specific que desenvolvo, ou seja, concebida especialmente para um dado local, a alteração de um ambiente para outro implica destruição daquele trabalho. Ainda bem que tenho tido muito apoio institucional, tanto de universidades federais, fundações, galerias e principalmente da Universidade de São Paulo (em especial da Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e do Laboratório de Mecânica Computacional da Escola Politécnica) através da qual tenho tido importantes oportunidades de divulgar considerações ou resultados preliminares da minha pesquisa artística e acadêmica. Também devo mencionar a bolsa Capes de mestrado e Fapesp de Iniciação Científica, que garantiram a continuidade de meus sonhos transformados em realidade. F - Você conhece a arte feita, hoje, na Bahia? ST - Tive contato principalmente com o grupo GIA, mas li bastante coisa sobre Eder Muniz e Denis Sena. Quero conhecer outros artistas cada vez mais. Ainda bem que poderei ficar na cidade alguns dias na semana do vernissage e volto no próximo dia 9 para o workshop, porque desejo muito encontrá-los. De fato, participei do Salão de Maio, organizado por Tininha Llamos, em Salvador, em 2005, com uma performance, mas ela foi realizada por uma atriz, dada minha impossibilidade de comparecer ao evento. Essa foi a única vez que não fui ao local executar o trabalho. Isso me deixou muito triste na época. Agora, estou extremamente grata por essa oportunidade de ir pela primeira vez a Salvador. Não vejo a hora de estar aí junto a vocês! F - Como será o workshop que você realizará na Acbeu? ST - Eu coordenarei os participantes na concepção e execução de uma instalação coletiva. Explanarei sobre o conceito de tensoestruturas (classe que abriga os fios tracionados, as membranas estruturais e os infláveis) e daí o grupo pensará uma proposta a partir de proposições iniciais de minha parte. O workshop será iniciado na segunda-feira, às 18h, e a inscrição é feita diretamente com a Galeria Acbeu, com número limitado de participantes. Será um prazer desenvolver esse trabalho junto à comunidade soteropolitana e visitantes.