Notícia

Blog do Gustavo Negreiros

Insônia: tipos de personalidade podem influenciar desenvolvimento do problema, diz estudo brasileiro; entenda (51 notícias)

Publicado em 08 de abril de 2025

Por Gustavo Negreiros

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) encontrou uma relação direta entre traços da personalidade e o desenvolvimento e perpetuação da insônia. Os resultados foram publicados na revista científica Journal of Sleep Research.

De acordo com os responsáveis pelo trabalho, níveis maiores de neuroticismo, caracterizados pela instabilidade emocional e pelo foco em aspectos negativos da vida, foram ligados a uma maior prevalência do distúrbio. Já ser uma pessoa mais aberta foi associado a menos queixas para dormir.

— Decidimos estudar a influência dos traços de personalidade sobre a insônia por se tratar de um transtorno extremamente prevalente e que traz impactos negativos para a saúde, como maior risco de hipertensão, diabetes, ansiedade e depressão, condições de saúde física e mental que levam a uma pior qualidade de vida de forma geral — explicou Bárbara Araújo Conway, autora da pesquisa, à Agência FAPESP.

— Após análises estatísticas mais detalhadas, os resultados do estudo nos permitem afirmar que pessoas com altos índices de neuroticismo têm uma propensão maior a ter insônia — continuou a psicóloga do sono, que realizou o estudo como tese de mestrado no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina (FM-USP).

A insônia é de fato um problema conhecido de boa parte da população. A Associação Brasileira do Sono (ABS) estima que duas a cada três pessoas no país têm alguma dificuldade relacionada à hora de dormir.

Oficialmente, dados do Episono, pesquisa realizada na capital paulista pelo Instituto de Sono, revelam uma prevalência de 15% de diagnóstico formal de insônia crônica, quando as queixas ocorrem ao menos três vezes na semana e perduram por pelo menos três meses.

Em relação às causas, Bárbara explica que existe uma teoria que propõe os chamados “3 Ps” da insônia: predisposição; precipitação (gatilhos ligados ao início dos sintomas) e perpetuação (comportamentos que mantêm o problema). Neste contexto, ela conta que os pesquisadores decidiram investigar se alguns traços da personalidade poderiam influenciar esses mecanismos.

A especialista esclarece que esses traços são “um conjunto de fatores que formam a personalidade e as características do indivíduo”. E cita que, segundo a teoria “Big Five”, todas as pessoas têm diferentes níveis de cinco traços específicos. São eles:

Extroversão: pessoas que tendem a ser mais falantes, mais dominantes, com perfil de liderança. Aquelas com baixos níveis de extroversão não são necessariamente introvertidas, mas preferem ficar mais sozinhas e costumam ter mais dificuldades em trabalhar com grupos.

Neuroticismo: relacionado ao grau de estabilidade emocional. Pessoas que costumam ser mais instáveis emocionalmente e tendem a focar em aspectos mais negativos da vida. São mais suscetíveis ao estresse, e há uma correlação do traço com ansiedade e depressão.

Amabilidade: pessoas que tendem a ser mais empáticas, mais cordiais e preocupadas com o bem-estar alheio. Aquelas com baixos índices costumam ser mais céticas e mais desconfiadas.

Abertura à experiência: pessoas que tendem a ser mais criativas, com interesse pelo novo. São curiosas, imaginativas e vivenciam as emoções de forma mais intensa. Aquelas com menores níveis preferem a rotina, evitam o desconforto e tendem a ser convencionais.

Conscienciosidade: pessoas que tendem a ser mais determinadas, comprometidas, motivadas, perseverantes e dispostas a sacrificar prazeres momentâneos em busca de um objetivo maior. Podem ser perfeccionistas. Aquelas com baixos índices são menos exigentes e obstinadas.

No estudo, os pesquisadores recrutaram 595 participantes, com idades entre 18 e 59 anos, e os dividiram em dois grupos. O primeiro era formado por pacientes com insônia que buscaram ajuda após um diagnóstico formal. Já no segundo grupo os voluntários não tinham queixas para dormir.

Os níveis de cada traço de personalidade foram medidos a partir de um questionário com 60 perguntas em todos os participantes. Após a análise dos resultados, foi observado que os participantes do primeiro grupo, que sofriam com insônia, tinham níveis significativamente mais altos de neuroticismo: 61,7% contra 32% no segundo grupo.

Além disso, aqueles que não tinham problemas para dormir tinham índices mais altos de amabilidade, de abertura e de conscienciosidade. Bárbara diz que, numa segunda análise, os cientistas identificaram que os sintomas de ansiedade agiam como o mecanismo de mediação na relação entre o maior neuroticismo e a insônia.