Notícia

Gazeta Mercantil

Inseto brasileiro combate pragas na Europa e EUA

Publicado em 22 maio 2003

Por Wagner Oliveira - de São Paulo
Um estranho item entrou na pauta de exportações brasileiras. Uma empresa formada por dois estudantes de mestrado em Piracicaba (SP) vende ao exterior insetos. O "produto" é utilizado para fazer o controle natural de diversas "plantações — milho, tomate, cana-de-açúcar e arroz, entre outras. O método diminui custos e, principalmente, elimina os defensivos químicos, maléficos ao ambiente e à saúde. O mercado interno representa também um grande potencial para a BUG Agentes Biológicos pela mínima exploração do "inseticida natural". Os Estados Unidos e países europeus detém a tecnologia de defensivos naturais há mais de 20 anos. A BUG conseguiu entrar nesse mercado externo ao conseguir produzir a baixo custo um produto — inseto — com qualidade vigorosa. O interesse externo pode ser medido pelas consultas ao site da empresa — ww.bugagentesbiologicos.com.br. Os Acessos de interessados nos Estados Unidos, França, Dinamarca, Suíça, Itália, Holanda, Espanha e Portugal, por laboratórios que já são clientes ou procuram pelos produtos, representam hoje 70% , das visitas. TECNOLOGIA SUBAPROVEITADA A maior parte da tecnologia foi aproveitada pela BUG de estudos realizados por pesquisadores brasileiros e que, por falta de recursos, estavam engavetados. A disponibilidade de insetos de boa qualidade também sempre foi um grande entrave à popularização do controle biológico no Brasil. Foi pensando nessa brecha que os sócios da Bug, os engenheiros agrônomos Danilo Scacalossi Pedrazzoli e Diogo Rodrigues Carvalho, conseguiram R$ 300 mil do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE), da Fapesp. Os dois estudam mestrado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) apóia projetos em troca de participação nas patentes. Para a viabilidade econômica e científica do projeto, os interessados ao financiamento passam por uma rigorosa banca composta por professores da Universidade de São Paulo e especialistas. A BUG pretende, até o final do ano, duplicar os 30 funcionários que trabalham hoje em ritmo frenético para atender a crescente demanda, tanto externa quanto interna. Os empregados trabalham em grupos em salas climatizadas. A eles, cabe cuidar da dieta de insetos, escolher os mais vigorosos e preparar, em várias etapas manuais, inimigos naturais de ovos e lagartas para controlar pragas. Consultor do projeto, o professor José Roberto Postali Parra, diretor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo, afirma que 30% da produção mensal de 10 quilos de ovos da traça Anagasta kuehniella , usados pela vespa Trichogramma para sua reprodução, é enviada para o exterior. Esse volume é suficiente para a formar 360 milhões de predadores de insetos danosos à agricultura. Na avaliação de Parra, o controle biológico se contrapõe ao uso inadequado de inseticidas, danosos para a saúde humana, animal e ao ambiente. Danilo Scacalossi afirma que toda praga tem seu inimigo natural. A BUG desenvolve insetos que parasitam os ovos dessas pragas, eliminando assim a ameaça as culturas. Para o exterior, a empresa envia os ovos que garantem a reprodução dos insetos que combatem as pragas. No mercado interno, a BUG tem nas usinas seus maiores clientes, já que vespa Trichogramma é bastante eficiente para eliminar pragas na cana-de-açúcar. Após a contratação do serviço, a BUG faz um plano de erradicação de pragas e envia os ovos ao produtor com dias de antecedência da eclosão. FATOR ECONÔMICO O fator econômico é principal na adoção do sistema. De acordo com Danilo, no caso da broca-da-cana (Diatraea saccharalis), praga que causa prejuízos à cana-de-açúcar e ao processo de produção industrial, o controle biológico, que inclui parasitas, frete e aplicação, custa cerca de R$ 15 por hectare, enquanto o tratamento químico fica, em média, em R$ 45. A broca-de-cana provoca, no campo, perda de peso da planta, pela abertura no caule da planta e falhas na germinação. No processo industrial, devido à podridão vermelha, causada pela broca em associação com fungos, ocorrem mudanças químicas, diminuição da pureza do caldo e contaminação do processo de fermentação alcoólica — fatores que causam menor rendimento do açúcar e do álcool. De acordo com estudos, 1% de intensidade de infestação da praga em uma plantação corresponde a 0,25% de perda de açúcar. A Biocontrol é uma das empresas que já operam no mercado nacional. Os sócios da BUG, que têm verbas da Fapesp até 2005, estimam que podem ampliar 20 vezes mais sua atual estrutura. "O mercado é novo e ainda tem bastante espaço para ser explorado, basta bons produtos", diz Danilo.