SÃO PAULO - Cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) estão estudando um fenômeno típico da atmosfera brasileira. São as bochas ionosféricas, áreas situadas numa altitude superior a 500 quilômetros (a chamada ionosfera), onde há uma ausência de partículas carregadas de elétrons. Os pesquisadores estão interessados em conhecer estas bolhas porque elas atrapalham a transmissão de ondas curtas ou por satélites.
Os elétrons, que normalmente se dispersam na ionosfera, inexplicavelmente se acumulam nas paredes das bolhas e interferem nas transmissões. Quando as ondas eletromagnéticas ultrapassam uma bolha, entram em choque com os elétrons. Com isso, o sinal de rádio ou de satélite pode perder força ou então ser amplificado, atrapalhando as transmissões.
O fenômeno só acontece na região tropical, e durante uma determinada época do ano, entre os meses de outubro e março. As bolhas se formam sempre depois do pôr-do-sol e sobrevivem por algumas horas. Nos países de clima temperado, as bolhas não existem.
Foguete — No dia 18 de dezembro, os pesquisadores do Inpe iniciaram o maior estudo sobre as bolhas feito no Brasil. O foguete Sonda 3 foi lançado do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, e passou por dentro de várias bolhas, recolhendo dados sobre os campos elétricos da ionosfera e um tipo de luz que essa camada da atmosfera emite.
O Sonda 3 fez uma viagem de apenas 758 segundos, carregado com quatro equipamentos próprios para estudar as bolhas. O tempo da viagem foi suficiente para colher diversos tipos de dados.
As informações foram enviadas instantaneamente para a plataforma de Alcântara e agora serão estudadas pelos cientistas do Inpe. O foguete atingiu uma altitude de 557 quilômetros. Depois, caiu no Atlântico.
O experimento só foi possível, cora a montagem de um grande radar na Universidade Estadual do Maranhão. O radar conseguiu detectar a formação das bolhas e, com base nesta informação, o foguete foi lançado de modo a penetrar várias delas.
"O interesse da pesquisa é estudar o ambiente espacial brasileiro, que é muito peculiar", diz o cientista José Humberto Andrade Sobral, do Inpe, que trabalha no projeto. Os dados recolhidos pelo Sonda 3 serão estudados nos próximos dois anos. Mas a coleta de informações não para por aí. Outros foguetes serão lançados para complementar o estudo, provavelmente em 1997.
Notícia
Jornal do Brasil