Notícia

Gazeta Mercantil

Inpe monitora raios na Amazônia

Publicado em 04 fevereiro 1999

Por Virgínia Silveira - de São José dos Campos
Desde o começo deste mês cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Nasa (Agência Espacial Americana) se juntaram para fazer uma pesquisa inédita sobre o comportamento das tempestades e raios que caem sobre a floresta amazônica durante o ano. Antenas e sensores para rastreamento de descargas elétricas foram instalados em um trecho da Amazônia, em Rondônia, para monitorar, por I um período mínimo de um ano e meio, a evolução e as características dos raios na região e o seu impacto global sobre o clima da Terra. Os cientistas querem saber ainda até que ponto os raios podem alterar a química da atmosfera e atingir a camada de ozônio ou se as queimadas provocadas por raios na Amazônia renovam os recursos naturais por se tratar de uma ação que não sofre a interferência do homem. O projeto também faz parte de um experimento científico maior, o LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera e Atmosfera na Amazônia), do qual participam mais de ISO pesquisadores de dez países diferentes. A Amazônia, segundo o coordenador brasileiro do projeto de monitoramento dos raios, Osmar Pinto Júnior, é a região de maior incidência de tempestades do país, concentrando 50% do volume de raios e relâmpagos que caem por ano. Trata-se de uma região equatorial com alto índice de umidade, o que favorece a formação de tempestades e raios", explicou ele. O Brasil já é um recordista mundial na incidência de raios, com aproximadamente 100 milhões deles por ano. "Estima-se que o País sofra um prejuízo anual superior a US$ 500 milhões por conta desses fenômenos", ressaltou o coordenador do projeto. Conhecer a dinâmica dos raios brasileiros, de acordo com o pesquisador do Inpe, é importante para que o Brasil possa criar sistemas de proteção cada vez mais adequados contra as descargas elétricas que causam estragos não só para a transmissão de sinais telefônicos e de distribuição de energia, mas também para o homem. De acordo com Júnior, cerca de cem pessoas morrem por ano no Brasil em conseqüência dos raios. Estudos recentes realizados pelos pesquisadores da Divisão de Geofísica do Inpe, o único grupo que se dedica à pesquisa da dinâmica dos relâmpagos que atingem o solo brasileiro, indicam que os atuais sistemas de proteção contra raios usados no Brasil podem não ser tão eficientes. Isso porque todos eles estão baseados nas características dos raios que ocorrem no hemisfério norte. "Temos um estudo que mostra uma diferença grande entre os relâmpagos que caem no Brasil e os que ocorrem no resto do mundo, principalmente com relação à sua intensidade", afirmou o pesquisador do Inpe. Um exemplo disso, segundo Osmar Júnior, é que 80% dos raios brasileiros apresentam descargas atmosféricas positivas, exatamente o inverso do que acontece no restante do planeta.