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Gazeta Mercantil

Inpe exporta tecnologia à Itália e Israel (1 notícias)

Publicado em 16 de fevereiro de 2004

Por Virgínia Silveira de São José dos Campos (SP)
A tecnologia de produção de diamantes sintéticos pelo processo Chemical Vapor Deposition (CVD), desenvolvida no Brasil pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), começou a ser exportada para Israel e Itália. A empresa Clorovale, de São José dos Campos, é a primeira empresa no mundo a aplicar a tecnologia na produção de brocas (pontas) odontológicas que vibram a partir de ondas de ultra-som. Segundo o pesquisador Vladimir Jesus Trava Airoldi, coordenador do projeto de crescimento de diamantes no Inpe, as brocas de diamante já estão substituindo os equipamentos de alta rotação tradicionais em um grande número de procedimentos odontológicos. "O grande apelo da nova tecnologia para o dentista é o nível de precisão do corte e a durabilidade, que chega a ser 50 vezes maior. Para o paciente, o tratamento também passa a ser menos traumático, pois em 80% dos casos dispensa o uso de anestesia", explica. As pontas de diamante, de acordo com Airoldi, garantem maior visibilidade da área tratada e controle e precisão de corte, com a vantagem de não cortar tecido mole. Por isso não provoca sangra-mento. O nível de ruído, segundo o pesquisador, também é mínimo se comparado com o método tradicional. Estimativa feita pela empresa Clorovale, absorvedora da tecnologia do Inpe, revela que cerca de 800 dentistas em todo o País já estão usando a nova tecnologia. Desde que passou a usar o novo método, há cinco meses, o dentista Carlos Henrique Gori Fuller, de São Paulo, decidiu usar as brocas de diamante em mais de 80% dos procedimentos em sua clínica. "Só não uso as pontas de diamante para preparo protético, pois o corte é um pouco mais lento do que o das brocas de alta rotação", explicou. Segundo Fuller, 100% dos seus pacientes que usam a tecnologia não querem mais voltar ao procedimento convencional. Para o dentista, o custo mais alto do material (oito vezes maior) não é visto como uma desvantagem em relação às brocas de alta rotação, em função da durabilidade do diamante. "As pontas de diamante têm uma vida útil superior a seis meses enquanto que a broca convencional faz apenas de 5 a 10 procedimentos com corte". O fato de ter um corte mais lento, segundo ele, também não é problema, pois a redução do uso de anestésico resulta num ganho de tempo maior para os procedimentos. O método de Deposição Química na Fase Vapor (CVD) é obtido a partir de uma mistura de gases metano e hidrogênio a baixa pressão. Por este processo forma-se uma pedra única de diamante com superfície rugosa. O produto final é um pouco diferente do diamante natural clássico mas, de acordo com Airoldi, possui as mesmas propriedades das pedras naturais: dureza, quimicamente inerte, auto lubrificante (reduz a retenção de resíduos e a necessidade de refrigeração), além de biologicamente compatível para aplicações médico-odontológicas. A tecnologia já tem duas patentes registradas. O Inpe, em conjunto com a Cloroval, desenvolveu seis modelos de pontas de diamante diferentes. O investimento do Laboratório Associado de Materiais e Sensores (LAS) na broca odontológica foi de R$ 700 mil. Novas aplicações espaciais do diamante sintético estão sendo desenvolvidas pelo LAS. O projeto, orçado em R$ 2 milhões, conta com o apoio do CNPq (10%), Inpe (60%) e pela Fapesp (30%).