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Gazeta Mercantil

INPE ESTUDA BOLHA IONOSFÉRICA (1 notícias)

Publicado em 29 de dezembro de 1995

Por POR VIRGÍNIA SILVEIRA
Técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) acompanharam o lançamento do experimento científico IONEX II, realizado no último dia 18, na base de lançamento de Alcântara, no Maranhão. O lançamento utilizou um foguete Sonda III, de fabricação nacional, para estudar as características elétricas de um fenômeno conhecido como "bolhas ionosféricas", regiões do espaço ionosférico em que as concentrações de plasma encontram-se altamente reduzidas. O fenômeno da bolha, identificado pela primeira vez no Brasil pelo Inpe, em 1976, ocorre após o pôr-do-sol e pode se estender até o amanhecer. As bolhas, segundo um dos coordenadores do IONEX II, José Humberto Sobral, formam-se ao longo das linhas de força do campo magnético terrestre e podem atingir a extensão de até 10 mil quilômetros. O estudo das bolhas, segundo o ele, além de aprofundar os conhecimentos dos cientistas nos campos de física de plasmas e nos de processos atômicos e moleculares, poderá contribuir para o entendimento das interferências que as irregularidades no plasma fonosférico exercem sobre as comunicações Via rádio é as telecomunicações. A interferência das bolhas na comunicação, de acordo com Sobral, se dá de duas formas: "Elas desviam ò caminho da onda eletromagnético de rádio através da refração ou reflexão e provocam atenuação ou ampliação da onda por meio da interação do campo eletromagnético da onda com ás partículas eletricamente carregadas", explicou. As bolhas só acontecem nas regiões equatoriais do equador magnético, atingindo o Brasil, parte da Ásia e África. No Brasil, segundo Sobral, as regiões em que a bolha ocorre com mais freqüência e intensidade são Mato Grosso e o Maranhão, entre os meses de setembro e maio. O experimento IONEX II foi lançado às 21hl7, e atingiu uma altura máxima de 558 quilômetros, passando por dentro de várias bolhas ionosféricas. Nessa altura, de acordo com o pesquisador, foi possível detectar uma redução na concentração do plasma próxima dos 90%. "A rarefação do plasma durante a ocorrência das bolhas pode até ultrapassar o nível de 95%", disse. O tempo total de vôo do foguete Sonda III foi de cerca de 13 minutos, com uma velocidade máxima de 3.207 metros por segundo. Trata-se do nono experimento científico sobre as características de propagação ionosférica realizado pelo Inpe. O experimento deste ano, que teve um custo total da ordem de US$ 220 mil, utilizou quatro instrumentos de medida: uma sonda de alta freqüência para medir densidade de elétrons, sonda de "Lang-nuir" para medir densidade e temperatura do plasma, sonda de campo elétrico e um fotômetro para medir aeroluminescência (luz fraca emitida pela ionosfera). A aeroluminescência, segundo Humberto Sobral, serve de diagnóstico da dinâmica da ionosfera. A pesquisa também contou com o apoio de um radar ionosférico dotado de oito transmissores de 15 quilowatts cada um. O radar teve como função detectar a presença da bolha, o que pôde ser feito a uma freqüência de 50 megahertz. A instrumentação a bordo do foguete, assim como o radar utilizado para as medições complementares no solo, foi inteiramente desenvolvida no Brasil.