Quando o raio de Bauru caiu no início do ano - e provocou o maior apagão da história da eletricidade no Brasil -, ficou patente que o país precisava de mais estudos sobre este fenômeno atmosférico para não ficar exposto a uma repetição. A partir de janeiro, essa fragilidade tecnológica começa a ter fim com o início, em Cachoeira Paulista (SP), do projeto Geração de Raios, pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O projeto é fruto da cooperação internacional entre Brasil, França e Canadá e visa não só a melhor compreensão do fenômeno, mas a criação, de forma permanente, do Centro Internacional para Pesquisas e Testes sobre Relâmpagos, o primeiro do Hemisfério Sul. Existem outros centros, todos em países do Primeiro Mundo no Hemisfério Norte, embora os raios sejam mais freqüentes nas regiões tropicais.
Custo - O projeto, com duração prevista de cinco anos, está orçado em meio milhão de dólares e prevê o lançamento de até 100 foguetes, de 2 metros cada, com um fio condutor de cobre, que irá se desenrolando durante o vôo. Ao atingir 200 metros de altura, o conjunto terá condições de dar início a uma descarga que será estudada de terra para medição de corrente elétrica e dos campos eletromagnéticos.
"A região de Cachoeira Paulista é um excelente campo de teste pois tem um índice de 10 raios por quilômetro quadrado por ano e cem dias de tempestade também por ano", informou por telefone desde São José dos Campos (SP),
Osmar Pinto Júnior, o coordenador do projeto. A importância do experimento é justamente o fato de que pode ser controlado, como uma experiência de laboratório. "Com o raio natural, nunca se sabe onde ele vai cair e com este experimento teremos o controle sobre o local e o instante em que vai ocorrer, podendo fazer medidas e testar equipamentos", disse Osmar.
Com o que descobrirem - e a expectativa é de que dos 100 foguetes lançados entre 30 e 40 produzam raios - os pesquisadores do Inpe terão condições de medir os efeitos dos raios em réplicas de linhas de transmissão de energia e de telefonia ou no asfalto de pistas de aeroportos, além de aperfeiçoar os sistemas, domésticos e industriais, de proteção contra raios, os pára-raios.
Contêiner - Os testes em Cachoeira Paulista, serão controlados, realizados em uma área de acesso restrito num raio de 100 metros do local onde ficarão os pesquisadores, abrigados em um contêiner com seus equipamentos. Com 30 metros de comprimento por 3m de largura, o contêiner (em fase final de montagem) terá sistemas elétricos de refrigeração e proteção especialmente desenvolvidos para o projeto. À sua volta ficarão os instrumentos, a dezenas e centenas de metros do local onde o raio deverá cair.
"Os foguetes a serem usados no projeto são de fabricação francesa e usam propelente sólido de procedência americana. O fio de cobre ficará em um carretel que irá se desenrolando até a altura de 200 metros, bem abaixo da nuvem, geralmente a 1,5 km do solo, mas já suficiente para dar início à descarga", explicou o coordenador do projeto.
Notícia
Jornal do Brasil