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Inovar demanda planejamento e investimento, afirmam especialistas (1 notícias)

Publicado em 23 de setembro de 2022

Fiesp reunirá propostas para ampliar a competitividade e fomentar a inovação industrial

O Conselho Superior de Inovação e Competitividade (Conic) da Fiesp convidou para a reunião de quinta-feira (22/9) diversos especialistas para dar continuidade ao trabalho que o Conselho vem desenvolvendo em conjunto com o Departamento de Economia, Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da entidade. A ideia é produzir um documento que aponte vulnerabilidades e oportunidades, com vistas à melhoria da competitividade da indústria. O encontro foi mediado pelo presidente do Conic, Pedro Wongtschowski.

No primeiro bloco da reunião, a consultora da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Sandra Hollanda, tratou do tema Política de inovação e tecnologia e disse que o documento precisa incluir a coordenação das ações e horizonte de longo prazo.

“Existe um contraste enorme entre o cenário brasileiro e o internacional, pois, desde 2015, se observa aqui uma tendência de queda acentuada dos investimentos públicos em pesquisa e tecnologia. Isso está muito associado ao esvaziamento das políticas e à baixa capacidade de articulação do Ministério [da Ciência, Tecnologia e Inovações], que tem pouca capacidade para envolver todos os atores na elaboração e execução de políticas de inovação e desenvolvimento tecnológico”, diz Sandra.

Para ela o ponto mais importante a ser destacado é o fato de que as políticas de inovação nunca foram tidas como prioritárias na agenda de governo. Ela propõe a construção de políticas de inovação e estímulo governamental com apoio direto às empresas.

Há mais de meio século, por exemplo, os Estados Unidos lidam com o problema de não conseguir transformar o conhecimento em avanço na competitividade industrial. Na Alemanha, a busca da integração entre produção e consumo é a grande questão.

“Aqui, no Brasil, estamos entre o mal e o muito mal. As tecnologias que habilitam a manufatura avançada pressupõem um estágio prévio de desenvolvimento de dois elementos: a disseminação dos conceitos de manufatura enxuta e um grau elevado de sensibilização”, comparou o professor de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, João Furtado, que abordou as políticas para disseminação da manufatura avançada.

Especialistas entendem que políticas de inovação precisam ser prioritárias na agenda de governo. Foto: Karim Kahn/Fiesp

O pesquisador entende ser necessário difundir conceitos e princípios básicos da manufatura enxuta, integrar o chão de fábrica ao universo digital, atualizar e renovar progressivamente as linhas de produtos, continuar avançando na digitalização e na concessão de soluções compartilhadas. “Não dá para pular os degraus”.

No segundo bloco, que tratou de assuntos relacionados a financiamento, um dos convidados foi o professor do instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ernani Torres. Ele enxerga com bons olhos a área regulatória do mercado de capitais no Brasil e afirma não ser necessário realizar grandes mudanças.

No entanto, a taxa de juros foi apontada como o maior problema. “Não dá para competir com países onde o mercado seja parecido com o nosso, mas que praticam taxas de juros bem mais baixas”. Ele recomenda novos instrumentos de acesso à indústria de transformação e modernização dos mecanismos de direcionamento de crédito.

O economista José Roberto Afonso, ex-superintendente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), disse ser importante reposicionar de modo estratégico as instituições financeiras de desenvolvimento. “Os bancos de desenvolvimento existem em várias partes do mundo, ultrapassando 520 instituições, com mais de US$ 23 trilhões em investimento, que representam 10% de investimento global anual. E os desafios climáticos têm sido o motivo da criação de novos bancos de desenvolvimento ao redor do mundo”, relatou.

Afonso ressaltou a necessidade de mudar a dependência de recursos fiscais, para diversificar e ampliar as fontes, trabalhar por taxas de juros mais estáveis, nunca superiores à dívida pública, ter transparência total do orçamento público e reformar tributos, a fim de premiar quem poupa e investe no longo prazo.

Na parte final da reunião, o coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, Carlos Gadelha, afirmou que a pandemia mostrou claramente que a política industrial é questão de sobrevivência e base produtiva decisiva para o desenvolvimento econômico e social. E para ele o Brasil deve avançar na visão de política industrial para a saúde. “Existem muitas oportunidades nessa área, que tem 10% de participação no PIB e potencial de gerar milhões de empregos diretos e indiretos. E se trata de uma área chave para a quarta revolução industrial”.

Ele lembrou a importância de reduzir a dependência externa, especialmente nas indústrias de base, química e biotecnológica, responsáveis por medicamentos, fármacos, biofármacos, vacinas e hemoderivados. “A política industrial precisa ser redesenhada para ampliar a capacidade de produção do Complexo Econômico Industrial da Saúde. As ações não podem ser fragmentadas”, apontou.

Para falar sobre as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), o pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Ssul (UFRGS), Sergio Bampi, foi o convidado. Tecnologias habilitadoras para a transformação digital da economia, as TICs abrangem uma complexa, longa e globalizada cadeia produtiva, com caráter estratégico para países de todos os setores econômicos. No Brasil existem fatores limitantes e oportunidades para o desenvolvimento dessa cadeia produtiva.

“Especialmente na cadeia de suprimentos de componentes semicondutores o país tem sua maior deficiência. Ampliar a competitividade de empresas brasileiras em serviços de telecomunicações, software e serviços de TICs se faz necessário, especialmente na área industrial”.

A produção agropecuária brasileira tem heterogeneidade e isso faz com que qualquer política para essa cadeia de produção seja bem planejada. “Temos produtores de vários setores diferentes e os desafios e oportunidades são transversais em todas as cadeias”, disse Cícero Lima, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Agro.

Ele afirmou ser muito importante reduzir as importações de fertilizantes para 45% do total consumido no país até 2050, trabalhar para derrubar as barreiras comerciais e avançar no acordo com a União Europeia. “Outros desafios que precisamos enfrentar passam pelo uso eficiente da água, da energia e as questões relacionadas à segurança alimentar, pois infelizmente voltamos a aparecer no mapa da fome mundial, e esse é um assunto que precisa ser fortemente debatido”, disse Lima.

Transição energética e segurança do abastecimento são discussões muito atuais, afirmou o professor do Instituto de Economia da UFRJ, Helder Queiroz. Ao citar as energias renováveis, Queiroz destacou os biocombustíveis e lembrou que integrar renováveis é ótimo, mas que isso não dispensa o investimento para a expansão das tecnologias de suporte. “A indústria mundial está caminhando para algo que pode ser o elemento disruptivo mais importante: o armazenamento de energia. Alemanha, China e Japão já estão trabalhando no desenvolvimento de baterias estacionárias e sistemas de armazenamento”, exemplificou Queiroz. Todos os convidados foram unânimes em afirmar que sem investimento não há inovação.

Alex de Souza, Agência Indusnet Fiesp