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Inovações permitem utilizar rejeitos na construção civil

Publicado em 11 fevereiro 2004

Por Wagner Hilário
Inovações tecnológicas transformam rejeitos industriais em matéria-prima para a construção civil. Na região norte fluminense, o Centro de Tecnologias de Minerais (Cetem) e o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) desenvolveram um método de realeitamento de um tipo de rocha chamado pó de gnaisse para a fabricação de argamassa e cerâmica vermelha. Em Ribeirão Pires, um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) possibilitou que as sobras da produção de alumínio metálico fossem utilizadas na fabricação de blocos de concretos a um preço menor. A tecnologia começou a ser utilizada pela Siporex Concreto Celular Ltda. no final de 2003. Edval Gonçalves de Araújo, coordenador do projeto. afirma que a novidade consiste na substação do pó do alumínio puro pela escória do alumínio metálico processada em moinho de alta energia. "Dessa forma, o rejeito vira um pó, chamado de agente expansor, que serve para expandir o bloco de concreto, com mesma função do fermento no bolo", diz Araújo. "O pó de alumínio tem essa finalidade, mas custa cerca de R$ 12 por quilo, enquanto o expansor feito dos rejeitos é comprado ao valor de R$ 3. No preço final do bloco, que vale em média R$ 140 o metro cúbico, essa economia representa de 27c a 37c", explica. De acordo com Araújo, a tecnologia é inédita no Mundo. Para desenvolver a inovação, a Fapesp investiu cerca de R$ 396,4 mil e foram necessários dois anos para o seu desenvolvimento. Contando os investimentos da Siporex e da Recicla Alumínio Ltda., responsável por fornecer a escória, Araújo afirma que cerca de R$ 500 mil foram investidos no projeto. Paul Alain Wroclowiski, diretor da Siporex, conta que a empresa existe há 47 anos e é 100% nacional, embora utilize tecnologia sueca. Em 2003, a receita da empresa ficou na faixa dos R$ 3 milhões a R$ 3,5 milhões, igual a 2002. Para 2004, a expectativa da empresa é acompanhar o crescimento do país: 3.5%. No caso do norte fluminense, o rejeito da produção de ladrilhos gnaisse substitui a cal das argamassas convencionais e deve baratear em até R$ 1 o preço desse produto. A construção de uma fábrica, na cidade de Santo Antônio de Pádua, para produzir a argamassa alternativa faz parte dos planos do Ministério da Ciência e Tecnologia, órgão ao qual os institutos são ligados. Carlos César Peiter, pesquisador do Cetem, afirma que a fábrica seria administrada por uma cooperativa formada pelos produtores de ladrilho da região, fornecedores do pó. Segundo Peiter, são 98 pequenas cerrarias na região norte do Rio de Janeiro, das quais 68 já dispõem de tecnologia para reter o pó reaproveitável. Peiter diz que já existem 100 mil toneladas de pó estocadas. Conforma o pesquisador, a fábrica deverá produzir 1,9 mil toneladas por mês e faturar R$ 3 milhões por ano. Até agora, o projeto de construção da fábrica recebeu R$ 400 mil do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), empregados na compra de equipamentos. Peiter comenta que para concluir as obras seriam necessários mais R$ 1,8 milhão, que podem vir da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin) ou da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Ambas estudam o projeto de viabilidade técnica e econômica da fábrica. Segundo o pesquisador, o recolhimento do pó é feito através de uma unidade de tratamento de água, Peiter conta que o corte da pedra feito com disco de diamante precisa ser resfriado com água. O pó se mistura ao líquido e segue junto para a unidade de tratamento. Depois, dentro de um recipiente, a separação das substâncias é feita através da aplicação de sulfato de alumínio. "O pó fica pesado, com a aplicação de sulfato, e vai parar no fundo do recipiente, de onde é extraído, enquanto a água é reaproveitada no processo de resfriamento", explica. De acordo com Peiter, o saco de 20 quilos da argamassa feita com o rejeito de gnaisse custará cerca de R$ 4,30 na saída da fábrica e R$ 7 no varejo. "A argamassa convencional custa cerca de R$ 8", afirma Peiter.