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Inovação em alimentos (1 notícias)

Publicado em 02 de junho de 2009

Estudo aponta vantagens do milho roxo como alternativa aos corantes sintéticos, como menor impacto ao ambiente e benefícios à saúde humana por conta de propriedades antioxidantes

Uma nova pesquisa testou a extração de corantes de milho como alternativa aos corantes sintéticos. O motivo é que, além de não poluir, os corantes naturais podem trazer benefícios à saúde por apresentar pigmentos antioxidantes e anti-inflamatórios.

O estudo foi publicado na revista Ciência e Tecnologia de Alimentos. “O interesse em pesquisas por corantes naturais aumentou consideravelmente nas últimas décadas devido às severas críticas dos consumidores, às restrições impostas pela Organização Mundial da Saúde e outras instituições aos corantes sintéticos”, destacam os autores.

De acordo com Elias Basile Tambourgi, professsor da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e um dos autores do artigo, além do uso em corantes de alimentos e de tecidos, o milho é uma fonte de antocianinas, pigmentos pertencentes ao grupo dos polifenóis – compostos responsáveis por dar cores aos vegetais.

“As antocianinas atuam como agente antioxidante que age na inibição dos radicais livres, atuando na prevenção de doenças degenerativas como o câncer. Além disso, melhoram a adaptação à visão noturna, prevenindo a fadiga visual. São usadas como anti-inflamatório e também já foram aplicadas no tratamento contra obesidade e hiperglicemia”, disse Tambourgi à Agência Fapesp.

O pesquisador ressalta a necessidade de mais pesquisas a fim de destacar a importância das antocianinas na dieta humana. “Além disso, precisamos melhorar as metodologias de extração (quantificação e identificação), obter a composição e compreender a funcionalidade das fontes naturais”, disse.

No novo estudo, foram utilizadas duas variedades nativas de milho (Zea mays L.) peruano, roxa e vermelha, adquiridas em fazendas a cerca de 150 quilômetros ao sul de Lima. Segundo o estudo, o corante do milho roxo tem se mostrado estável.

“Chegamos a realizar testes de fixação em produtos têxteis, como algodão. O que mais chama a atenção é seu uso artesanal no Peru, na coloração de roupas. Podemos notar que esses produtos apresentam forte cor roxa, e não se deterioram ao longo do tempo, nem mesmo pela ação do calor”, disse.

Métodos de extração

Os autores destacam que as antocianinas do milho roxo foram usadas pelos incas na preparação de bebidas e no tingimento de fibras têxteis. “Eles obtinham os pigmentos de forma artesanal, utilizando processos mecânicos através de atrito e raspagem da semente”, apontam.

“Embora existam pesquisas indicando significativos avanços e benefícios das antocianinas extraídas do milho roxo, até o presente momento não conhecemos estudos sobre novas metodologias de extração desses pigmentos livres das substâncias químicas tóxicas”, ressaltou.

Nos testes foram utilizados três métodos de extração: por imersão, por lixiviação e por supercrítica, que consiste em explorar as propriedades críticas do dióxido de carbono (comportamento de fluido) como solvente e promover o seu contato com o soluto, utilizando-se uma forma estática de extração.

Nos dois primeiros processos foram utilizados água deionizada, etanol, metanol, éter de petróleo, ciclo hexano e isopropanol como solventes, todos de grau analítico. E tanto no primeiro como no segundo método, o etanol foi o solvente com maior rendimento de extração dos pigmentos.

Os resultados apontaram ainda que a lixiviação (com algumas modificações) foi o método mais eficiente nas extrações dos corantes, com aproximadamente 88% de antocianinas, assim como na recuperação dos solventes.

“Mas como os dois primeiros métodos são simples, baratos e fáceis de serem aplicados, também apresentaram bons resultados. A extração do pigmento roxo pode ser realizada de modo simples e com solvente (etanol) disponível no mercado”, disse o professor da Unicamp.

Tambourgi coordenou diversos projetos apoiados pela Fapesp, entre os quais “Purificação de amilases de Zea mays para a aplicação na hidrólise de amido para uso na indústria alcooleira”, na modalidade Auxílio a Pesquisa – Regular.

O novo estudo foi feito com Felix Martin Cabajal Gamarra, da Faculdade de Engenharia Química, e Edison Bittencourt, do Departamento de Tecnologia de Polímeros, amboa da Unicamp, e com Gisele Costa Leme, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).