(17/02/2019) - Diversas empresas brasileiras, a grande maioria de pequeno porte e sediadas no interior de São Paulo, estão conseguindo abrir espaços significativos no mercado externo, graças aos esforços de inovação e ao estratégico apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
É o caso da I.Systems, empresa de Campinas, que fornecerá a sua tecnologia Flowe, baseada em machine learning, para a AB InBev aumentar a eficiência das linhas de produção nos Estados Unidos. O processo de internacionalização da empresa começou, porém, em 2016, quando introduziu a tecnologia Leaf, que utiliza inteligência artificial para o controle e estabilização de processos industriais, para a mineradora BHP, na Austrália. Hoje a tecnologia é usada também por indústrias de setores como agronegócio, química e papel e celulose nos mais diferentes países.
Já a Autaza, de São José dos Campos, está presente nos mercados europeu e norte-americano graças ao caráter inovador do sistema de inspeção inteligente que desenvolveu. O sistema utiliza visão computacional e inteligência artificial para detectar, por exemplo, defeitos na carroceria de veículos em substituição à inspeção visual, e já está em fábricas das montadoras General Motors e Peugeot.
São apenas dois exemplos, mas há muitos outros - o que enche de orgulho os diretores e técnicos da Fapesp. “Sempre esperamos e incentivamos que as empresas acolhidas tenham alvos mundiais, o que é levado em conta na seleção dos planos de negócios que atenderemos”, diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da entidade. “Romper os limites do mercado interno precisa ser um desafio permanente para a indústria no Brasil. É a melhor saída para um crescimento sustentável”.
Cruz salienta, contudo, que ter apenas um bom projeto às vezes não basta. Em muitos casos, é desejável ter certificações respeitadas e parcerias consistentes com empresas do exterior - melhor ainda se acompanhadas por alguma injeção de capital.
Alguns casos chegam a ser surpreendentes. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos escolheu simplesmente uma empresa de Campinas, a Griaule Biometrics, como fornecedora de sistema de identificação e certificação de dados biométricos de mais de 80 milhões de cidadãos do Iraque e Afeganistão. A Kryptus, empresa de segurança de informação instalada também em Campinas, recolhe entre 30% a 40% do faturamento atual do uso de sua tecnologia por empresas de países como Colômbia, Peru e Chile, além da Europa e Estados Unidos.
Nem todas são de altíssima tecnologia. A Finamac, fabricante paulistana de máquinas de sorvete, hoje possui escritório e fábrica nos EUA. O mercado norte-americano já representa 50% do faturamento da empresa. A Agrosmart, de manejo integrado de pragas também instalada em Campinas, detém hoje clientela no México, Guatemala, Peru, Honduras, Colômbia e Israel e recentemente instalou uma subsidiária nos Estados Unidos.
Há até empresas que atuam exclusivamente no exterior. A Hoobox Robotics, de São Paulo, que desenvolveu uma plataforma de reconhecimento facial batizada com o nome de Wheelie e traduz expressões do usuário em comandos para cadeira de rodas, possui cerca de 60 clientes em 14 estados americanos e guarda uma lista de espera de 300 pessoas. A CFlex, de Campinas, que desenvolve ferramentas de planejamento de tráfego ferroviário, centra suas atividades na Austrália, Chile e Argentina.