A partir de agosto deste ano deverá entrar em operação a Internet 2, uma rede de alta velocidade e resolução de imagem, criada inicialmente para interligar universidades e centros de pesquisas. A USP será beneficiada com o novo sistema
A World Wide Web foi criada em 1991 no Laboratório Europeu de Física de Partículas, na Suíça, pelo físico Tim Berners-Lee, e os primeiros a usufruir do novo sistema foram os meios acadêmicos. Mas a popularização da Internet não demorou a acontecer e milhares de empresas em todo o mundo criaram suas páginas na teia de alcance mundial. Com isso, o sistema ficou lento e carregado, impedindo que muitas aplicações possam ser feitas na velocidade desejada. Para solucionar esse problema está sendo montada no Brasil a Internet 2, uma rede mundial que usa links de alta velocidade, acima de 155 Mbps, megabits por segundo, podendo chegar a 2,5 gigabits, bilhões de bits por segundo, e ainda por cima com pouca gente conectada. O ponto de acesso das novas redes metropolitanas de alta velocidade de São Paulo (Remavs) será a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), através de sua rede Academic Network at São Paulo (Ansp), criada para gerenciar a atual Internet. Até o final de agosto será criada a Ansp 2, para dar apoio à nova Internet, que inicialmente será empregada na interconexão de universidades, centros de pesquisa e operadoras de serviços dentro do Estado de São Paulo, para o desenvolvimento de trabalhos de pesquisa envolvendo aplicações de teleducação, telemedicina e sistema de gerenciamento e segurança desse ambiente. A Fapesp garantirá a interconexão à Rede Nacional de Pesquisas (RNP), e conseqüentemente ao exterior.
De acordo com Paulo César Masiero, professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação do campus da USP em São Carlos e presidente da Comissão Central de Informática (CCI), a nova rede emprega como base a tecnologia ATM (Asynchronous Transfer Mode), com enlaces de fibra óptica ou rádio, operando a 155 Mbps. Essa infra-estrutura será utilizada para interconectar inicialmente a USP, através do Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores da Escola Politécnica (Larc) e do Centro de Computação Eletrônica (CCE), a PUC-SP, a Unifesp (ex-Escola Paulista de Medicina), o Incor, a Telefônica, a NET, operadora de TV a cabo, além da Fapesp. "Inicialmente a Internet 2 será de uso exclusivo da comunidade acadêmica, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos. Lá, existem várias sub-redes que são consideradas parte da Internet 2, ou seja, são os troncos de alta velocidade. No Brasil haverá vários pontos com troncos de alta velocidade, ficando o de São Paulo sob a coordenação da Fapesp, com a nova rede que será chamada de Ansp 2, a segunda rede acadêmica de São Paulo."
Muito mais qualidade
Paulo Masiero disse que a Internet está saturada. "Mas mesmo que não tivesse ela não seria capaz de atender com qualidade certos serviços que se fazem necessários, como, por exemplo, transmissões de imagens médicas pela rede como raio X, tomografia computadorizada etc. Não há hoje na Internet capacidade para transmitir, na velocidade desejada, quantidade de informação com qualidade", observou Paulo Masiero, recebendo o apoio de Wilson Vicente Ruggiero, diretor do Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (Larc).
"A disponibilização da Internet 2, em um primeiro momento, vai tornar possível a utilização de canais de maior velocidade. Essa canalização, com maior capacidade, por si só não é o resultado final da nova rede. Através da velocidade maior de transporte das informações, uma série de aplicações passam a ser viáveis. No caso da telemedicina, por exemplo, é possível que possamos ter resultados de exames médicos sendo transmitidos, processados e analisados por uma, duas ou mais equipes médicas, proporcionando um diagnóstico conjunto. No caso da teleducação, por sua vez, temos condições de ter materiais de ensino multimídia, preparados e colocados à disposição em tempo real, ou sob demanda, podendo ser disponibilizados por uma grande comunidade, inclusive distribuídos geograficamente", disse Ruggiero.
Quando se fala em imagens médicas, prosseguiu o diretor do Larc, são imagens que não podem ter perda de precisão ou de conteúdo. "Na Internet 2 será possível transmitir imagens médicas sem perda de qualidade e com todas as informações originais disponibilizadas para as diversas equipes médicas fazerem um diagnóstico."
A rede da Internet 2, centrada em São Paulo, fará a sua primeira conexão no início do segundo semestre, ligando a USP à Unicamp. Isso será feito através de um enlace de fibra óptica da Telefônica. Esse enlace de fibra óptica vai operar a 2,5 gigabits por segundo (Gbps). São velocidades que estão sendo usadas para implantar a Internet 2 em todas as partes do mundo.
A exemplo do que aconteceu com a rede atual de Internet, que começou nos centros acadêmicos e depois se popularizou, com a Internet 2 não será diferente. De acordo com Ruggiero, "os resultados conseguidos com a Internet 2 com certeza serão utilizados para montar a nova Internet comercial. Da mesma forma que a Internet 1 evoluiu comercialmente, a Internet 2 deverá evoluir, com fases distintas, momentos distintos e evidentemente objetivos distintos. Neste momento, o objetivo da Internet 2 é exclusivamente de pesquisa. Mas, com certeza, os resultados obtidos aqui poderão ser utilizadas na fase seguinte".
Ponto de acesso
Atualmente a Fapesp serve de ponto de acesso das redes metropolitanas de alta velocidade (Remavs) para a Internet, através de sua rede Ansp. Com a montagem da Internet 2 será criada a rede Ansp 2, interligando as universidades e os demais centros que estão espalhados no Estado. Hoje são cerca de cem instituições de ensino e pesquisa ligadas à rede Ansp e o mesmo deverá acontecer com a Internet 2, como esclarece Hartmut Richard Glaser, professor da Escola Politécnica e assessor da Presidência da Fapesp. "Nós temos vários projetos em andamento para a montagem da Internet 2. Uma rede metropolitana de alta velocidade na cidade de São Paulo e outra na cidade de Campinas. Estas duas redes já estão praticamente funcionando em uma fase experimental. Mas em breve estarão trabalhando em alta velocidade e com aplicações bem específicas. Projetos semelhantes estão em estudo para as cidades de São Carlos e São José dos Campos."
Antes de ser privatizada pelo governo do Estado de São Paulo e adquirida pela Telefônica, a Telesp instalou uma rede de fibra óptica entre São Paulo e Campinas. Essa fibra óptica hoje está sendo devidamente adaptada para ter um link de 2,5 gigabits por segundo, interligando os dois municípios. Inicialmente a interconexão será feita entre o Hospital das Clínicas de Campinas e o de São Paulo, o Incor, o Hospital São Paulo da Unifesp e também entre a Escola Politécnica da USP e a Escola de Engenharia Elétrica da Unicamp. "O empreendimento recebeu o apoio da Telefônica e da empresa Nortel, que doou equipamentos para possibilitar a ativação do link entre as duas cidades. A idéia é fazer uma aplicação estudando engenharia de rede aplicada à Internet, mas ao mesmo tempo estudando uma aplicação de tele-medicina", esclareceu Glaser.
Velocidade da rede da Internet
A velocidade da rede é medida em bits por segundo. Um bit por segundo, ou 1bps, é igual a 1.000 bits por segundo.
A velocidade da rede de Internet da USP, no prédio da Reitoria, por exemplo, é de 10 Mbps, megabits por segundo, ou 10.000.000 de bits por segundo. É uma velocidade bastante aceitável, mas insuficiente para muitas aplicações. Entre os prédios do campus da Cidade Universitária a velocidade atinge 100 Mbps, ou 100.000.000 de bits por segundo. Na Internet 2, dependendo da tecnologia, a velocidade pode atingir 600 Mbps ou até 2,5 Gbps, ou bilhões de bits por segundo.
Notícia
Jornal da USP