Quanto mais próximos nos sentimos do século XXI, mais nos indagamos: como iremos entrar no próximo milênio? Era meio a tantas incertezas deste fim de século, alguns sinais dos novos tempos já podem ser vislumbrados. A ubiqüidade do software, dos chips de microprocessadores, dos computadores e das redes de comunicação será a marca registrada da sociedade da informação dos anos 2000. A Indústria da Informação caminha a passos largos para se tornar a mais importante do planeta, englobando os setores de informática, telecomunicações e entretenimento, com um faturamento que hoje já chega a 3 trilhões de dólares. A questão que se coloca, crucial para o futuro do país e dos brasileiros, é: qual fatia dessa indústria será ocupada por empresas brasileiras ou, mais apropriadamente, por trabalhadores brasileiros? Na corrida em busca de um lugar ao sol no próximo século, cabe perguntar: estão as universidades e empresas brasileiras preparadas para a era digital? Qual a inovação necessária no país para fazer frente aos desafios da sociedade da informação?
Nos Estados Unidos e Europa, ampliam-se as discussões sobre a natureza e o papel da pesquisa na universidade neste fim de século. Crescem as pressões para o aumento da produtividade científica. A pesquisa em si não é um objetivo, mas um meio para obtenção de resultados concretos para a sociedade. Resultados que devem ser um caminho efetivo para a inovação, levando à geração de novas idéias, novas práticas, novos produtos e novos negócios. Novas idéias devem ter a qualidade suficiente para mudar o discurso e os paradigmas correntes. Novas práticas devem ter a difusão necessária para fazer uma diferença real nos processos na indústria, nas instituições e na economia em geral. A inovação nos produtos deve ser suficientemente rápida para criar novos mercados e ser competitiva. Novos negócios devem ser gerados por pesquisas que reinterpretam o saber corrente e levam a idéias que criam alternativas aos negócios convencionais. O mapeamento desse novo modelo de pesquisa para o contexto da universidade brasileira produz uma indagação básica: temos um modelo de pesquisa capaz de apoiar o país na sua busca da inovação? Tradicionalmente, a academia tem valorizado mais a pesquisa de novas idéias, sem muitas vezes questionar a relevância dessas idéias para o país. Enquanto isso, a difusão de práticas e processos inovadores, a consolidação do conhecimento de forma a torná-lo mais acessível à sociedade, e a busca de novos produtos e negócios têm sido vistas dentro do contexto universitário brasileiro como atividades menos nobres.
Nas empresas brasileiras de tecnologia, o cenário é igualmente preocupante. Os produtos em geral carecem de características inovadoras e são pouco sistêmicos; frutos principalmente, do baixo conhecimento interdisciplinar das equipes envolvidas no projeto de novos produtos e do pouco investimento em pesquisa e desenvolvimento. Além disso, a indústria não está acostumada a ver na universidade uma parceria na busca da inovação. O resultado concreto é a crescente dificuldade de penetração de produtos tecnológicos brasileiros no mercado internacional.
A inovação das idéias na informática ocorre em sua maioria nos EUA, onde há abundância de pesquisadores e recursos financeiros. Para se ter uma pequena amostra disso, basta lembrar que o orçamento de pesquisa de uma única empresa como a IBM é superior ao orçamento total de ciência e tecnologia no Brasil. Tem sido também constatado que a geração de novos produtos é muito mais afetada pela difusão de novas práticas e processos tecnológicos, do que pela pesquisa que gera novas idéias. Em áreas relacionadas ao setor econômico como a informática, a pesquisa deve ter resultados concretos, que em última instância criam novos produtos e serviços. Para não correr o risco de perder a relevância para a sociedade, a pesquisa no país, em particular na informática, deve se adaptar aos novos tempos, buscando levar a inovação à sociedade.
Professor titular do Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG
Professor visitante na Universidade de Harvard e professor do DCC-UFMG; ex-diretor do CNPq, criador do Programa SOFTEX do MCT
Notícia
Jornal do Brasil